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EMPODERAMENTO
HU-Furg promove atividades pelo Dia da Consciência Negra
Rio Grande (RS) – Em alusão ao Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, 20 de novembro, o Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), promoveu uma série de atividades para destacar a importância e a contribuição histórica e cultural da população negra no Brasil. Entre as ações, foi realizada uma exposição com elementos representativos da cultura afro-brasileira, além da distribuição de materiais informativos e educativos que ressaltaram a importância da data e marcam a luta antirracista.
“Esta é a primeira vez que conseguimos construir algo significativo em torno do 20 de novembro, pois houve a união entre a Furg e a Ebserh, que trouxe novos profissionais negros de diversas regiões do Brasil. Essa colaboração nos fortaleceu e, juntos, de mãos dadas, estamos prontos para construir um futuro promissor para os próximos 20 de novembro, com muita honra e orgulho”, afirmou a auxiliar de enfermagem da Furg, Neiza Maria dos Santos Avila.A assistente social do HU-Furg, Mariana de Oliveira Monteiro, destacou a relevância da data, que foi oficializada como feriado nacional pela Lei 14.759/23. “A inquietação em fazer um debate sobre essa temática neste ano de 2024 era um desejo antigo. A comemoração do primeiro feriado nacional da Consciência Negra nos impulsionou. Como diz Angela Davis: ‘Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela’. Nosso movimento foi lindo; nos aproximamos, nos fortalecemos, nos conhecemos e nos surpreendemos com o impacto positivo da ação promovida”.
A equipe do Serviço Social do HU-Furg, ligada à Unidade de Saúde Mental (USME), organizou as ações em parceria com as Comissões de Heteroidentificação e Comissão Recursal (CHCR) e de Ações Afirmativas, Inclusão, Diversidade e Equidade (CAAIDE). A iniciativa ganhou cores vibrantes, estampadas em camisetas e botons usados pelos profissionais do HU-Furg, fortalecendo a identidade e a consciência sobre a herança africana no Brasil.
Um dos destaques, foi a organização coletiva da exposição, que apresenta objetos artísticos e culturais da cultura afro-brasileira que conta com livros sobre a temática do povo negro, Estatuto da Igualdade Racial, instrumentos como o tambor ilú, bandeiras, berimbau, boneca de pano negra, quadros, entre outros. A exposição ficará em exibição durante todo o mês de novembro.
Segundo relatos da equipe do Serviço Social, a exposição se tornou um ponto de diálogo entre os colaboradores que se autodeclaram negros, incentivando-os a buscar mais informações sobre a ação e aproximando ainda mais os profissionais. Muitos desses colegas foram fotografados em seus ambientes de trabalho e junto à exposição, como relata a psicóloga organizacional Maria Mônica Margarida Silva Pereira disse: “Eu fui com um sentimento e um objetivo. Porém, quando presenciei todas as cores daqueles sorrisos, minha última foto denunciou: a minha alegria, satisfação e empolgação. Eu não era ‘a profissional’; eu era eu.” A iniciativa consolidou-se no Hospital como um movimento de fortalecimento da identidade negra.
Compromisso no atendimento à população negra
As atividades promovidas também visaram reforçar o compromisso do HU-Furg com a equidade no acesso aos serviços de saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), instituída em 2009, serve como guia para a promoção da saúde da população negra no Brasil, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais e o combate ao racismo institucional no SUS. Entre os problemas de saúde mais prevalentes na população negra estão a anemia falciforme, hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II e a deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase.
Nesse contexto, a assistente social do HU-Furg, Sandra Andreia Mendonça Soares, destacou a importância da coleta de dados. “As entrevistas com os pacientes e familiares sobre como eles se autodeclaram têm a mesma relevância que outros dados de identificação. Isso é fundamental para construirmos políticas públicas com uma perspectiva antirracista, conforme a nota técnica do Conselho Federal do Serviço Social (CFESS)”, afirmou.Segundo dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,5% da população brasileira se identifica como preta ou parda, reforçando a necessidade de políticas de saúde voltadas a esse grupo. Sandra acrescentou: “No atendimento aos pacientes e familiares, abordar a questão do racismo é essencial, pois esse tema impacta diretamente a saúde mental, podendo contribuir para problemas como depressão, suicídio e baixa autoestima. Em nossos pareceres sociais, enfatizamos como os pacientes se autoidentificam e estimulamos essa reflexão durante as entrevistas. O combate ao racismo é uma parte integrante do nosso projeto ético-político profissional no Serviço Social”.
Legado histórico e conscientização social
A iniciativa também promoveu reflexões sobre a história e a importância da luta pela igualdade racial no Brasil. Para o assistente administrativo, Carlos Antônio Soares Alves, “Comemorar o 20 de novembro com resiliência é o que deseja o povo reconhecido pela luta e resistência”.
Além disso, como destacou o analista administrativo e membro da CHCR e da CAAIDE, Leonardo da Costa França, “O Dia da Consciência Negra, ainda, é de extrema relevância, pois nos permite dar visibilidade ao povo que deixou sangue e suor para construir o nosso país. Busca-se, de forma provocativa, por meio de manifestações da cultura afro, uma reflexão para conseguirmos nos descontruir de alguns padrões e construir uma sociedade com direitos e igualdade de condições de acesso à ocupação de todos os espaços, principalmente, os de poder e decisões. Proporcionando acolhimento, pertencimento, respeito e valorização”.A data também marca a morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida em 20 de novembro de 1695, um importante marco na luta contra a escravidão e pela igualdade racial. Além disso, homenageia Oliveira Silveira, poeta gaúcho e um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra. Natural de Rosário do Sul, Oliveira foi um defensor ativo dos direitos da população negra e autor de diversas obras sobre o tema. A psicóloga hospitalar Fernanda Soares enfatizou: “O 20 de novembro nos oportuniza uma reflexão sobre a história da escravidão no Brasil e o quanto suas consequências afetam a sociedade brasileira. Reforça a identidade e o orgulho de ser negro, celebrando a diversidade e a importância da representatividade no Brasil”.
A assistente social Sandra fez um resgate histórico: “O dia 20 de novembro foi proposto pelo movimento negro gaúcho, tendo Oliveira Silveira como um dos grandes inspiradores. Essa data foi escolhida em contraponto ao dia 13 de maio de 1888, quando foi assinada a Abolição da Escravatura, que foi uma ilusão, pois não proporcionou condições para a população negra se inserir na sociedade e no mercado de trabalho. Mais que um feriado, é um momento para discutir a história brasileira, que por muitos anos não foi evidenciada nas escolas.”
As ações do HU-Furg também incluíram reflexões sobre a importância de combater expressões e práticas racistas no cotidiano. A assistente social Thainá Bastos alertou: “É importante ter cuidado com falas que podem ter um cunho racista e que, muitas vezes, passam despercebidas. Muitas expressões racistas são utilizadas inconscientemente, devido à reprodução de práticas históricas e culturais. Identificar e educar sobre a origem dessas expressões é o primeiro passo para erradicá-las. A mudança cultural envolve revisar práticas linguísticas e repensar hábitos que reforçam estereótipos.”
A iniciativa reforçou a necessidade de construir um ambiente mais inclusivo e respeitoso, não apenas no âmbito hospitalar, mas em toda a sociedade.
Sobre a Ebserh
O HU-Furg faz parte da Rede Ebserh desde julho de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh