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ACESSO IGUALITÁRIO
E se fosse você, como lidaria com as barreiras enfrentadas pelas PCDs?
O SUS busca promover o respeito às diferenças, garantindo atendimento igualitário e acolhedor para as pessoas com deficiência. Foto Freepick.
Rio Grande (RS) – O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro, é uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992, para conscientizar sobre os direitos fundamentais das pessoas com deficiência (PCDs), como acesso à saúde, à educação e ao trabalho. Mas você já ouviu falar em capacitismo? Sabe o que é e como ele pode impactar o acesso das PCDs aos serviços de saúde? A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 45 hospitais universitários federais nas cinco regiões brasileiras, convida você a refletir sobre os desafios e a importância do atendimento inclusivo no Sistema Único de Saúde (SUS).
Entenda o preconceito
Rafael Antônio Carneiro, assistente administrativo do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), é uma pessoa com deficiência visual, psicólogo e ativista pelos direitos das PCDs. Ele explicou: “O capacitismo é o preconceito contra as pessoas com deficiência. Assim como o racismo afeta pessoas negras e o machismo impacta as mulheres, o capacitismo atinge as PCDs, partindo da ideia de que somos incapazes ou inválidos”.
Ele destacou que esse preconceito pode aparecer de formas explícitas ou disfarçadas: “Há quem nos veja como coitadinhos, incapazes de realizar tarefas simples. Por outro lado, há os elogios disfarçados, como ‘Nossa, você lava a louça melhor que eu!’. Isso também é capacitismo”. Além disso, falou sobre o mito do “exemplo de superação”, que reduz a trajetória das PCDs “a uma narrativa de esforço extraordinário, ignorando as barreiras sociais impostas pela falta de acessibilidade e inclusão”. Segundo Rafael, “o combate ao capacitismo começa pela informação e pela reeducação da sociedade. Precisamos rever nossas atitudes, linguagem e expressões. Muitas vezes, o preconceito está nas palavras que usamos sem perceber”.Por acaso, você já usou frases como: ‘Não tenho pernas para fazer tudo isso’ ou ‘Parece que é cego’ ou ‘Vou fingir demência’? Se sim, saiba que são expressões capacitistas e, como alertou Rafael, “devem ser substituídas por alternativas mais inclusivas, promovendo respeito e empatia”. Vale lembrar que, no Brasil, a discriminação contra pessoas com deficiência é crime, com pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa, conforme o artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) e o Decreto 11.793/2023.
Rafael destacou ainda que as limitações enfrentadas pelas PCDs são, frequentemente, resultado das barreiras impostas pela sociedade, mais do que pela própria deficiência. “A informação e o conhecimento são ferramentas poderosas para transformar essa realidade. Quando mudamos nosso comportamento e promovemos inclusão, estamos dando um passo essencial para combater o capacitismo”.
Ele conclui: “É sobre reeducar atitudes, linguagem e comportamentos para que todos possamos viver com dignidade”. Afinal, cerca de 18,6 milhões de brasileiros com 2 anos ou mais (8,9% da população nessa faixa etária) possuem algum tipo de deficiência, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2022, do IBGE. Entre essas pessoas, 47,2% têm 60 anos ou mais, enquanto apenas 12,5% das pessoas sem deficiência estão nessa faixa etária.
E se fosse comigo?
Imagine um homem de 53 anos, casado há 33, pai de dois filhos, que trabalhava, caminhava cerca de 15 quilômetros por semana, fazia musculação, jogava futebol todo sábado... enfim, vivia uma rotina cheia de energia. Após sentir incômodo no pé e dor nas costas, buscou ajuda médica e teve um diagnóstico inesperado: esclerose lateral amiotrófica (ELA). A doença é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta o sistema nervoso, causando paralisia motora irreversível e, até o momento, não possui cura.
Essa é a história de José Altevi Duarte Junior, contada pela voz de sua esposa, Elisângela Duarte: “Na primeira consulta deste ano, em 16 de fevereiro, ele chegou ao Hospital dirigindo e com o uso de apenas uma muleta... Hoje, 29 de novembro, ele precisou ir e voltar de ambulância”. Apesar das dificuldades, a família encontrou “um fôlego de esperança” e muito acolhimento no Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huol-UFRN).José foi encaminhado para ser tratado no ambulatório especializado em ELA, referência regional e destaque pelo tratamento técnico e humanizado. “Quando passamos daquela porta, nos sentimos abraçados como família, como seres humanos. Eles não nos trataram como apenas mais um número. O cuidado e a dedicação da equipe foram além do esperado. Parecia que éramos os únicos ali”, relembrou Elisângela.
A equipe multidisciplinar oferece apoio emocional, orientações práticas e até mesmo conselhos sobre planejamento financeiro, considerando as necessidades reais dos pacientes. “Eles nos ensinaram a priorizar o que era mais urgente para o momento, sem desperdiçar recursos em algo que ainda não era necessário”, destacou Elisângela.
Um ponto que chamou atenção de Elisângela é o combate ao capacitismo no Hospital. Ela relatou: “No HUOL, não vimos olhares capacitistas ou de pena. Ao contrário, eles reforçam os potenciais de cada paciente, estimulando sua autonomia e mostrando que limitações físicas não definem quem somos. O capacitismo não entra naquele lugar. Desde o segurança até o diretor, ninguém fala de forma que transpareça algum capacitismo”.
A família tem grandes planos para o início de 2025: “Nosso filho mais novo se formará na universidade e José estará na primeira fila para aplaudir. Isso só será possível graças ao empenho dos profissionais do Huol. Nossa família será eternamente grata por todo o apoio recebido”, disse Elisângela.
Ações da Rede Ebserh
A Rede Ebserh tem implementado iniciativas para melhorar o atendimento às pessoas com deficiência em seus 45 hospitais universitários. Entre as ações estão a capacitação de profissionais e a adaptação de estruturas físicas. Em 2024, foram realizados dois eventos on-line organizados pelo Serviço de Relações de Trabalho (Seret).
O 1º Webincluindo abordou: “Inclusão começa em mim, em você, e vamos semeá-la em toda a Rede Ebserh”, já com participação de intérpretes de Libras do quadro de profissionais da instituição. O 2º Webincluindo, em novembro, discutiu o tema: “Vamos falar sobre capacitismo”, com a presença de Naira Rodrigues Gaspar, Diretora da Secretaria Nacional do Direito da Pessoa com Deficiência, que destacou avanços e desafios no Brasil. Além disso, está em análise um levantamento com 487 respostas de PCDs da Rede, visando desenvolver ações que atendam às suas necessidades de forma mais eficaz.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh