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DIGNIDADE
Vida além da doença: O Prontuário Afetivo do HUGG
No Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a subjetividade dos pacientes internados é valorizada com a implementação do prontuário afetivo, uma iniciativa da Comissão de Humanização do hospital. O projeto, que começou como um piloto em três enfermarias, busca resgatar a identidade e a individualidade dos pacientes, proporcionando um ambiente mais acolhedor e humano durante a hospitalização.
A psicóloga e presidente da Comissão de Humanização, Priscila Galvão Cassemiro, explica que o prontuário afetivo surgiu da necessidade de oferecer aos pacientes internados uma experiência mais humana e menos centrada na doença. "É uma estratégia de humanização, de resgate da subjetividade. Nele, temos informações referentes ao sujeito – informadas por ele mesmo ou por seu acompanhante, quando ele não pode falar por algum motivo. Não são informações cadastrais ou sobre seu adoecimento, mas informações afetivas sobre sua vida", continua Priscila. Fazem parte do prontuário perguntas como o nome pelo qual o paciente gosta de ser chamado, seus interesses e atividades preferidas, gosto musical e pessoas que são importantes para ele.
Ao se hospitalizar, o paciente enfrenta diversas perdas e restrições, desde a exposição de seu corpo a procedimentos invasivos até a impossibilidade de interagir normalmente com amigos e familiares. O prontuário afetivo, segundo a psicóloga, busca contrapor essas vivências indesejadas com momentos de prazer e escolha, permitindo que o paciente fale de si mesmo em termos que o resgatam do papel passivo de receptor de cuidados.
Expansão do projeto e impacto na Pediatria
Inicialmente aplicado por um grupo pequeno de profissionais e, posteriormente, integrado ao Projeto de Extensão Florescer, o prontuário afetivo agora é preenchido por alunos extensionistas com o apoio das equipes de enfermaria, que ajudam a identificar e indicar pacientes para a ação. "O alvo são pacientes adultos internados nas enfermarias do HUGG, com prioridade para aqueles em internações mais prolongadas", explica Priscila.
O projeto também está em expansão para a enfermaria pediátrica, com adaptações para incluir elementos do universo infantil, como personagens e brincadeiras favoritas. No caso da criança, a menção ao lúdico é um resgate importantíssimo das referências próprias do universo infantil, de que o paciente pediátrico se vê afastado durante a internação. “De forma semelhante ao que ocorre com o adulto, o prontuário afetivo se torna uma ferramenta estratégica para trazer de volta à cena a subjetividade do pequeno paciente, permitindo também que as interações com a equipe sejam enriquecidas e o vínculo beneficiado", afirma a psicóloga.
A iniciativa já demonstra impacto positivo nas relações entre equipe e pacientes. Ao conhecer melhor os internados através das informações afetivas, a equipe pode interagir de formas mais empáticas, reforçando o vínculo e tornando o ambiente hospitalar mais acolhedor. Segundo Priscila, "a equipe pode se posicionar de uma forma mais próxima, cantar sua música favorita, 'puxar assunto' sobre uma atividade que gosta de fazer ou conversar sobre o que sonha viver após a hospitalização. Amplia-se muito as possibilidades de interação".
Experiências que transformam
Beatriz Dornelas, acadêmica do quarto período da Unirio e voluntária do Projeto Florescer, compartilha uma experiência marcante. Ela relata que, ao fazer um prontuário afetivo para uma senhora cujo nome no prontuário era Laura, perguntou como ela gostaria de ser chamada. Para sua surpresa, a senhora respondeu "Célia". A discente explica que “a senhora contou que, embora seu nome de registro fosse Laura, desde pequena era chamada de Célia, nome que sua mãe havia escolhido. Ela nunca se identificou com "Laura" e, por isso, não respondia prontamente quando a chamavam assim”. Beatriz percebeu a importância do prontuário afetivo para resgatar a dignidade do paciente através de algo tão básico quanto seu próprio nome.
Luiza Carrilho, acadêmica do quarto período de Medicina e participante da história de Dona Célia, reforça essa visão. Ela destaca que os pacientes muitas vezes se sentem como um incômodo no ambiente hospitalar. Dona Célia, por exemplo, não mencionou sua preferência antes para não causar transtorno. “O prontuário afetivo muda isso, permitindo que o paciente se sinta mais à vontade para falar sobre si, e não apenas sobre sua doença. Isso é especialmente relevante em um hospital universitário, onde os alunos focam muito na doença”, diz a estudante, completando que pequenas informações pessoais, como o nome preferido, podem fazer uma grande diferença na humanização do atendimento.
Luiza acrescenta que o mais especial é que essas informações ficam numa folha plastificada ao lado do leito, facilitando o contato mais humanizado. Ela comenta que, sabendo essas informações, é possível começar uma interação de maneira mais empática e personalizada, facilitando a consulta e o cuidado.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio) faz parte da Rede Ebserh desde dezembro de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Felipe Monteiro, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh