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BEM-ESTAR
Sono e Saúde Mental
Após um dia exaustivo, normalmente, sentimos muito sono. Isso ocorre porque o nosso corpo deve descansar e para isso precisamos dormir. São necessárias, em média, para um adulto, entre sete e oito horas de repouso diário para um relaxamento reparador. Caso contrário, o impacto de noites mal dormidas pode levar a consequências tanto físicas quanto mentais, conforme apresentado pelo cardiologista e Prof. Dr. Paulo Henrique Godoy, durante a XLI Jornada Científica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio/Ebserh).
– Existe a necessidade de equilibrar as funções do organismo através da diminuição do metabolismo, para nos recuperarmos. Determinados circuitos nervosos são poupados durante o sono. Além disso, nos restauramos do cansaço imposto pela própria vigília (estado em que estamos despertos), fazemos a limpeza do lixo metabólico produzido pelo cérebro, conservamos energia, estimulamos o sistema imune e a reparação tecidual –, falou Paulo.
O ato de dormir faz parte do padrão biológico de cada um e segue um ritmo circadiano (mecanismo pelo qual nosso organismo se regula entre o dia e a noite), se renovando a cada 24 horas e nomeado de ciclo sono-vigília.
O ciclo sono-vigília é modulado pelo quantitativo de luz a que somos expostos durante o dia, por meio de um hormônio chamado melatonina. A falta de luminosidade tem um papel importantíssimo nessa secreção hormonal. Assim, durante a noite, a glândula pineal, localizada no cérebro, capta a informação de que não há mais luz e inicia a liberação de melatonina, que é capaz de induzir o início do sono.
– O sono é um processo dinâmico, reversível e que ocorre de forma cíclica. Temos períodos de sono e períodos de despertar durante esses momentos –, disse o cardiologista.
O sono é dividido em fases que podem ser medidas e estudadas por meio da polissonografia, exame realizado através de eletrodos fixados na pele com objetivo de detectar alterações no sono do paciente. É indolor e não invasivo.
O primeiro estágio é de sonolência, muito próximo ao estado de vigília, onde o indivíduo não dorme, mas relaxa. Durante o segundo estágio, chega-se a um sono leve intermediário, com o corpo entrando em um estado mais moderado, incluindo queda na temperatura, relaxamento muscular e respiração e batimentos cardíacos mais lentos. O terceiro estágio é o do sono profundo, fundamental para o descanso do corpo, onde a pessoa fica menos sensível aos barulhos externos, todo os músculos relaxam e a mente desliga, sem registro de sonhos. Por fim, o sono REM que ocorre quando os movimentos corporais retornam e existe a presença de sonhos. As ondas cerebrais ficam ativas e a respiração e batimentos mais acelerados, lembrando o período de vigília. Porém, o corpo experimenta a atonia, que é uma paralisia temporária dos músculos, exceto olhos, por isso REM (Rapid Eye Moviments) e os músculos que controlam a respiração.
– Por ser dinâmico, ocorrem despertares ao longo do processo, fazendo com que se retornem alguns estágios ao longo das horas de sono. À medida que o indivíduo está se aproximando do despertar vai diminuindo cada vez mais os estágios de sono profundo e entrando no sono REM –, continuou o especialista.
A importância da qualidade do sono é tão grande que, de acordo com Paulo, pesquisas já demonstram que indivíduos com déficit do sono tem, por exemplo, diminuição de anticorpos durante a vacinação em cerca de 50%. Além disso, durante o sono há consolidação de memórias adquiridas na vigília e fixação de aprendizado, já que neste período ocorrem repetições. Um descanso correto ajuda também na atenção, em atividades de tomada de decisão e na regulação emocional.
Quando problemas relacionados ao sono ocorrem em indivíduos que dormem com facilidade e durante um período necessário, mas estão passando por interrupções periódicas ou estão dormindo pouco, provavelmente, será desencadeada a privação do sono.
– Está mais ligada, em princípio, aos distúrbios que ocorrem em curto prazo. Inicialmente acarretam fadiga, cansaço e desconforto social dentro do convívio. Pode evoluir, na medida em que o indivíduo não faz algo para interromper esse processo, para mudança na percepção de estado emocional. Alguém mais calmo se tornar mais agressivo, por exemplo –, explicou Paulo.
Já o indivíduo que demora a dormir costumeiramente ou aquele que demora a dormir e tem muitos despertares durante a noite, provavelmente, vai sofrer consequências relacionadas ao distúrbio do sono, com prazos maiores de duração.
– Os distúrbios estão ligados a diversas enfermidades, afetando quase todas as áreas da Medicina. Distúrbios crônicos do sono estão relacionados a doenças crônicas. Levam a envelhecimento precoce, diabetes, obesidade, aumento da pressão arterial, avc, crises de asma, transtorno de humor, ansiedade, depressão e absenteísmo, por exemplo. Por isso, é importante, nesses casos, procurar tratamento em profissional relacionado à Medicina do Sono e saber que é um atendimento multidisciplinar, onde serão encontradas outras doenças relacionadas ao problema e se buscará o tratamento adequado e eficaz –, completou Paulo.
Além da procura por tratamento, em casos extremos, alguns hábitos podem ser adotados para que se busque um descanso qualitativo e reparador:
– É necessário ter disciplina, organizar um ambiente tranquilo para descansar, afinal, o cérebro é treinado. Uma luz amarela, por exemplo, indica para o cérebro que está chegando a hora de dormir. Devemos evitar cochilos; procurarmos nos expor à luz solar durante o dia para o cérebro saber diferenciar dia e noite; cuidar da alimentação ; usar a cama para dormir, apenas; criar horário para dormir e acordar; usar técnicas de relaxamento, por exemplo –, concluiu Paulo.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.