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SETEMBRO AMARELO
No HUGG, informação, escuta e empatia são armas na prevenção do suicídio
Uma epidemia silenciosa. Assim pode ser definido o aumento no número de casos de suicídios no Brasil e em outros países de média e baixa renda. O mais recente Boletim Epidemiológico elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, revela crescimento de 42% de casos entre 2010 e 2021 no país, dados que incluem crianças e adolescentes.
Os especialistas do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio) e da Rede Ebserh reforçam a importância da informação, da escuta e da empatia para ajudar as pessoas em sofrimento psíquico. Afinal, o suicídio pode ser prevenido. Esse foi o foco da campanha Setembro Amarelo, que teve uma série de ações no HU, durante todo o mês.
O lema da campanha este ano é “Se precisar, peça ajuda!”. As atividades do HU foram rodas de conversa sobre o tema, abordando em diferentes setores do hospital a importância de falar sobre setembro amarelo. A iniciativa foi da Unidade de Desenvolvimento de Pessoas e da Psicologia Organizacional.
Atenção às crianças e jovens
O comportamento das crianças e jovens merece muita atenção de quem está no entorno. Para se ter uma ideia, em 2021, o suicídio representou a 27ª causa de morte no Brasil, na população geral. Mas, entre a população adolescente e adulta jovem, esse dado fica ainda mais grave: nas faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 29 anos, o suicídio ocupou a terceira e a quarta maior causa de mortalidade, nessa ordem. Entre crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, representou a 11ª causa.
“A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% por ano no Brasil entre 2011 e 2022, e as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período, segundo dados de um estudo de março de 2024 publicado na revista The Lancet Regional Health - Americas”, alerta a psiquiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) Isabela Pina.
O uso das redes sociais também tem um papel importante nesse processo, em especial para a geração Z, os nascidos entre 1995 e 2012. “O psicólogo social Jonathan Haidt, no livro ‘A Geração Ansiosa’, argumenta que o uso excessivo de redes sociais, como Instagram e TikTok, está associado a um aumento nos índices de ansiedade, depressão e problemas de autoimagem, principalmente entre as meninas, condições que podem levar ao suicídio. Ele sugere que essas plataformas amplificam a comparação social e a pressão para se conformar a certos padrões estéticos”, explica a psiquiatra do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), Gabriela Scalia.
Os transtornos de humor (como depressão e o afetivo bipolar) estão associados ao comportamento suicida em 35,8% dos casos, enquanto o transtorno por uso de substâncias psicoativas (dependência de álcool, de crack e outras drogas) em 22,4% dos casos; e o quadro de esquizofrenia em 10,6%.
Tratamento
Todos esses transtornos têm tratamento, logo, é possível sim ajudar as pessoas em sofrimento e prevenir o suicídio, a partir de uma maior conscientização, intervenção precoce e estratégias de prevenção eficazes.
De acordo com os dados da cartilha "Informando para prevenir", publicada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM), 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados a histórico de doenças mentais, que podem ser tratadas.
No SUS, existe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), constituída por um conjunto integrado e articulado de diferentes pontos de atenção para atender pessoas em sofrimento psíquico e com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas, com estabelecimento de ações para garantir a integralidade do cuidado.
“Os atendimentos em saúde mental são realizados na Atenção Primária à Saúde (APS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde o usuário recebe assistência multiprofissional e cuidado terapêutico conforme a situação de cada pessoa. Em algumas modalidades desses serviços também há possibilidade de acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em situações de maior complexidade, muitas vezes, em leito de saúde mental em hospital geral (como em diversos da Rede Ebserh)”, explica Gabriela Scalia.
Isabela Pina destaca ainda o CAPASi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), as unidades de saúde da família e iniciativas como o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo telefone 188; o Mapa de saúde mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário gratuito e o canal lançado pela Unicef, Pode Falar.
Ambiente laboral merece atenção de gestores e de colegas
Se o comportamento de crianças e jovens pode acender o sinal de alerta nas pessoas do entorno, o mesmo cuidado vale para o olhar com os colegas de trabalho - com quem compartilhamos tantas horas diárias. Um ambiente laboral ruim ou nocivo pode gerar adoecimento emocional, ou potencializar uma vulnerabilidade já existente.
“É imprescindível falar sobre suicídio no ambiente de trabalho. Esse tema pode e deve ser abordado de forma clara e transparente, apresentando às pessoas a importância do autocuidado, do olhar para si e para o outro. Ao falar sobre isso, precisamos também ratificar a importância de dialogarmos abertamente sobre a saúde mental e emocional para quebrar o estigma que o assunto carrega”, explica a psicóloga organizacional do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA), Fernanda Almeida.
A psicóloga destaca alguns sinais que podem sugerir o sofrimento psíquico de um indivíduo, como alterações no sono e a dificuldade em se desligar totalmente, o desinteresse em interagir com outras pessoas e mudanças bruscas e significativas no humor. “É importante que estejamos atentos às pessoas e ao perceber alguns desses sintomas, ter a disponibilidade para conversar e demonstrar apoio. Na sequência, é possível direcionar para o tratamento com profissionais especializados e para canais como o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188. Caso a pessoa verbalize uma ideação suicida, acompanhe-a nas primeiras 24-48 horas após a crise”, comenta Fernanda Almeida.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Moisés de Holanda, com colaboração de Carla Araújo e revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh