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NUTRIÇÃO
HUGG debate relação entre consumo de ultraprocessados e impactos na saúde
Alimentos ultraprocessados são formulações feitas, principalmente ou integralmente, de substâncias derivadas de alimentos e aditivos e contêm muito pouco valor nutricional, apesar de serem mais atrativos. Além disso, o alto consumo deste tipo de comida incide diretamente na saúde da população. Estas constatações puderam ser vistas durante a última edição da “Sessões Clínicas: Nutrindo Ideias”, atividade regular que ocorre no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio/Ebserh) e que é fruto de parceria entre a Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP), a Unidade de Nutrição Clínica (UNC) e o Núcleo de Educação Permanente (NEP). Nesta edição, realizada em 25/10, a Prof. Dra Vanessa Pereira Montera, Doutora em Alimentação, Nutrição e Saúde pela UERJ, foi a palestrante convidada para falar sobre o tema:
– Estudos comprovam que durante todo ciclo de vida o consumo regular de ultraprocessados favorece o aparecimento de diversas doenças. Por exemplo, mães, ainda na gestação, que abusam desse tipo de comida, podem gerar bebês com diabetes gestacional, com mais chances de desenvolverem depressão e maiores probabilidades de terem déficit de atenção e hiperatividade –, informou Vanessa.
Além disso, a ingestão desses industrializados piora os marcadores de adiposidade das crianças, favorece o aparecimento de doenças respiratórias e contribui para elevação do colesterol ruim. Já em adolescentes, este tipo de alimento pode aumentar em 45% o risco de obesidade, segundo estudos da Universidade de São Paulo, usando dados da população norte-americana. Já uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, junto aos brasileiros, demonstrou que entre abril e maio de 2020 o comportamento alimentar apresentou resultados desanimadores. De acordo com o levantamento, houve uma queda de 4,3% no consumo de verduras e legumes em cinco dias ou mais por semana e um aumento de 4,6% na ingestão de pratos prontos congelados, de 3,7% no consumo de salgadinhos de pacote, e de 5,8% no consumo de chocolates e doces em dois dias ou mais na semana. Tais dados alarmantes mostram como se deve ter atenção na hora da escolha do que comer:
– Esses jovens quando chegam à fase adulta têm, ainda, piora na saúde mental, aumento da probabilidade de cânceres, desenvolvimento de doenças cardiovasculares e crescimento no risco de diabetes tipo 2. Já na velhice o consumo alto desses alimentos piora a performance cognitiva e aumenta a fragilidade. Todos esses problemas, consequentemente, fazem crescer a mortalidade desse público. Infelizmente a quantidade de adultos obesos, atualmente, é tão alta que as campanhas de saúde mundo afora estão tentando inicialmente, pelo menos, frear o crescimento –, continuou a nutricionista.
Isso ocorre, pois, os ingredientes principais dos alimentos ultraprocessados fazem com que, frequentemente, eles tenham, além da baixa qualidade nutricional, alta densidade energética, elevada quantidade de gordura, açúcar e sódio, além utilizarem poucas quantidades de alimentos in natura ou minimamente processados. Na maioria dos casos, são compostos industriais com muitos aditivos químicos como conservantes, estabilizantes, corantes e aromatizantes . A alta taxa de sódio é comum nesses comidas por causa do acréscimo de grandes quantidades de sal, necessário para prolongar a vida útil e acentuar o sabor, ou mesmo para mascarar paladares desagradáveis, decorrentes dos aditivos ou de substâncias criadas pelas mecânicas envolvidas no ultraprocessamento.
– A indústria diz que tem de usar os aditivos para preservar os alimentos na prateleira e garantir segurança alimentar (antioxidante e conservante, por exemplo) já que tem de atender uma demanda muito grande. Porém, quando fiz estudos com vários desses ultraprocessados, notei que os aditivos mais usados são os aromatizantes, que não tem essa função. Dentre os cinco mais frequentes que consumimos, na verdade, apenas um tem a função de segurança alimentar. Ou seja, não é real que a maior preocupação seja com a preservação por mais tempo dos alimentos e sim com a melhora das características sensoriais dos alimentos (cor, sabor,cheiro) –, continuou.
Teoricamente, para serem liberados, os aditivos precisam seguir algumas regras como quantidade máxima e ingestão diária aceitável. Entretanto, conforme alertou Vanessa, essas quantidades são calculadas de forma isolada, fazendo com que ao serem somadas ultrapassem bastante o nível recomendado:
– Ultraprocessados interferem na comida por prazer, desenvolvendo uma fome hedônica que mexe com os mecanismos de saciedade. O apelo midiático, e a praticidade, também influenciam numa ingestão maior de calorias. Por exemplo, três biscoitos recheados têm as mesmas calorias que três maçãs. O problema é que quase ninguém come apenas três biscoitos, ou seja, há um consumo excessivo que resulta em todos os problemas falados anteriormente –, finalizou Vanessa Montera.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.