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SAÚDE
A importância do Microbioma
Cada um de nós é um universo. Essa afirmação já usada em música e, constantemente, debatida em conversas transcendentais pode se encaixar, também, na Ciência. Especialmente quando falamos dos inquilinos que habitam os seres vivos: os microorganismos. Eles, em equilíbrio, são essenciais à promoção da saúde e à prevenção de doenças, conforme explicou o Prof. Dr. José César Junqueira, gastroenterologista pediátrico, durante a XLI Jornada Científica do HUGG.
– A gente vê a terra e fala muito de ecologia, mas da mesma forma que o globo terrestre se ressente do que a gente faz nele, o nosso organismo se ressente do que usamos nele. Somos um sistema ecológico que tem de estar equilibrado e quando desiquilibra ficamos doentes –, disse o médico.
Toda população coabita com mais de um trilhão de microorganismos, sendo a grande maioria benéfica. Eles, por sua vez, formam o microbioma, coletivo de bactérias, vírus, fungos, parasitas entre outros micróbios e seus respectivos genes, encontrados em vários tecidos do corpo, como boca e nariz, além do intestino. É diferente da microbiota, que se refere aos microorganismos que colonizam um local específico. Essa diversidade interna pôde ser estudada mais profundamente a partir dos anos 90, com o Projeto Genoma Humano, que objetivava identificar e mapear os genes existentes nas células do corpo humano, determinar os pares de base que compõem o DNA e armazenar essas informações em bases de dados acessíveis.
– Cada vez mais se estuda esse tema e a tecnologia permite evoluir nesse sentido, já que consegue registrar com mais precisão o que acontece. Por exemplo, pode-se fazer uma biópsia no intestino grosso e a partir disso sequenciar geneticamente as bactérias que são residentes daquele órgão ou mucosa –, exemplificou o professor.
O microbioma tem sido relacionado a importantes funções metabólicas, imunológicas e nutricionais, e, por isso necessita cuidado. Seus principais componentes, as bactérias, devem estar constantemente em simbiose, que é o equilíbrio entre as bactérias comensais (boas) e as patógenas (ruins). O oposto, disbiose, ocorre quando há desequilíbrio nessa relação, desencadeando um padrão de microbiota pró-inflamatória, especialmente no intestino.
– A disbiose pode ser tanto ocasionada por fatores externos como o uso de antibióticos quanto por fatores internos, como mudanças de hábito ou mesmo mudanças culturais que façam com que se mude o padrão alimentar –, comentou o professor.
Este patrimônio microbiano já tem sua formação iniciada desde a gestação, onde será influenciado pelos hábitos de saúde maternos.
– Dentro do útero sabemos que existem bactérias no líquido amniótico que são deglutidas e importantes para maturar o sistema imune dessa criança. Essas bactérias são herdadas da flora intestinal da mãe e terão uma ação sobre essa criança –, explicou José Cesar.
Ou seja, a depender da característica de dieta da mãe, exercício físico, uso ou não de antibiótico e tabaco, a microbiota do bebê será articulada positiva ou negativamente.
Após esse período, os momentos mais importantes para obtenção de uma boa microbiota são o parto natural e o aleitamento materno exclusivo, por transmitirem perfis mais benéficos quando equiparados à cesárea e ao uso de fórmula infantil. Nesta fase, além da constituição da microbiota também está ocorrendo o desenvolvimento do sistema de defesa do corpo humano, logo, quanto maior acessibilidade de bactérias comensais, maior será a maturidade do sistema imunológico:
– Normalmente, a criança que nasceu de parto normal tem sua microbiota desviada para um tipo que estimula as células do tipo TH1, que são da tolerância, enquanto aquelas que nascem de cesárea vão estimular mais as células TH2, que são da alergia e das doenças autoimunes. Crianças que nascem de cesárea, dependendo da genética, vão ter maiores chances de ter uma doença autoimune –, finalizou.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.