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CONSCIENTIZAÇÃO
“As pessoas têm muito medo de ter tuberculose, embora seja uma doença tratável e curável”
No dia 24 de março de 1882, o médico Robert Koch anunciou a descoberta do bacilo causador da tuberculose, abrindo meios para o diagnóstico e cura dessa doença. Por isso, em 1992, a Organização Mundial da Saúde, em comemoração ao centenário da evidenciação, resolveu estipular esta data como o Dia Mundial da Tuberculose, para aumentar a conscientização a respeito dos efeitos destruidores à saúde, à economia e à sociedade representados por essa enfermidade. Mesmo sendo uma doença tratável e curável, até hoje, a tuberculose segue como uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo, causando, em média, 30 mil adoecimentos e mais de 4 mil óbitos diários.
– A tuberculose é causada por um microrganismo, de crescimento lento e, por isso, evolui gradativamente até começar a surgirem os primeiros sintomas. Ela é transmitida pelo ar, ou seja, uma pessoa infectada, que esteja tossindo, ao expelir pequenas gotículas, pode contaminar aqueles que estão ao seu redor. De acordo com o Ministério da Saúde, cada infectado transmite, em média, o bacilo para outras oito pessoas –, explicou o Prof. Dr. Rodolfo Behrsin, pneumologista do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Porém, de acordo com o especialista, nem todos infectados chegam a desenvolver a doença, graças ao próprio sistema imunológico natural. E, pelo fato de ter uma progressão vagarosa, é difícil precisar uma janela de tempo específica para os aparecimentos dos primeiros indícios:
– Tosse, febre baixa, perda de fome, emagrecimento e sudorese excessiva, especialmente à noite e independente de temperatura, são os principais sintomas. O próprio Ministério da Saúde diz que, em caso de tosse por mais de três semanas seguidas, deve-se procurar uma avaliação médica, já que esse prazo estendido de tosse transforma o indivíduo em sintomático respiratório –, continuou o médico.
Nesses casos, segundo o pneumologista, a recomendação é que a pessoa vá diretamente ao serviço de Tisiologia, parte específica que estuda a enfermidade, e que é de portas abertas no Sistema Único de Saúde (SUS):
– Chegando à unidade de saúde, inicialmente, haverá a verificação de sintomas indicativos da doença. Em caso afirmativo, será feito um pedido de exame de raio x e havendo presença de escarro, será realizado um exame específico de cuspe para dar a certeza do diagnóstico. Caso esse venha positivo, poderemos indicar mais tranquilamente o tratamento ao paciente –, informou Rodolfo.
O tratamento é composto por quatro medicamentos e dura seis meses. Nos primeiros dois são usadas as quatro drogas e, caso não haja nenhuma alteração, a partir do terceiro mês, o usuário reduzirá para dois fármacos que serão usados até o final. Todas as decisões, porém, devem ser tomadas com acompanhamento profissional:
– Procedendo corretamente, a tendência é que o paciente esteja curado ao fim do processo. Na verdade, com a medicação correta, em 15 dias, possivelmente, o enfermo já não estará mais transmitindo o bacilo. Mas é importante ressaltar que os pacientes não parem a medicação antes da orientação médica, pois caso contrário, ainda poderá haver bacilos no organismo que voltarão a crescer, possibilitando, também, a proliferação de bactérias resistentes aos remédios –, falou o especialista.
Ainda assim, qualquer indivíduo tratado e curado, poderá se infectar novamente, caso esteja em contato com uma pessoa enferma. Pessoas imunossuprimidas, como por exemplo as soropositivas, devem ter ainda mais cuidado:
– Há uma incidência grande de pacientes com tuberculose também estarem com HIV( em torno de 10% dos casos), gerando uma dupla infecção. Nestes casos, ainda que o bacilo esteja previamente calcificado por uma imunidade anterior, poderá ocorrer, novamente, o crescimento do microrganismo, já que o sistema de defesa do corpo está deficitário –, disse o pneumologista.
Já nas situações em que o tratamento é incompleto ou não ocorre, a doença poderá evoluir de maneira mais agressiva:
– Nessas situações, poderá ocorrer a existência de lesões pulmonares, conhecidas como bronquiectasia, quando ocorre uma grande distorção dos brônquios que passam, por sua vez, a ficar mais vulneráveis a infecções, podendo gerar hemoptise, caso em que a pessoa tosse e escarra sangue. Se o tratamento seguir não ocorrendo, o quadro infeccioso se alastrará, podendo levar a óbito. É uma doença bastante sofrida –, narrou.
Ainda assim, o pneumologista diz ser possível, mesmo em estado avançado, a cura. Para ele, boa parte dessas mortes pode ser evitada com a criação contínua de campanhas que miram a desinformação:
– As pessoas têm muito medo de ter tuberculose, embora seja uma doença tratável e curável. O estigma vem da época em que não se existia tratamento e a informação da comunidade médica nem sempre chega para as pessoas leigas, ou seja, por falta de informação, muitas vezes, não há busca por auxílio. Por isso, é fundamental datas como essa, já que tomando conhecimento de como agir, conseguimos conter e até cortar os ciclos de transmissão –, contou.
Outro fator determinante para o alto número anual de óbitos é social. A falta de acesso a sistemas públicos de saúde, ou de condições precárias de habitação, ajuda na proliferação de ocorrências:
– É uma doença que tem uma tendência a atingir pessoas com menor nível socioeconômico, por diversos motivos, como: questão nutricional, questão de aglomeração, já que vivendo em espaços pequenos, a transmissão do bacilo se torna mais fácil –, completou Rodolfo.
Por fim, outro motivo preocupante se deu em razão da pandemia do novo coronavírus, já que as pessoas tiveram menos acessos aos sistemas públicos:
– Sabemos que durante a pandemia a população procurou menos atendimento, em parte pelo medo de sair de casa. Consequentemente, acreditamos que exista muita gente com tuberculose que não tenha chegado até o serviço para o atendimento, ou seja, uma demanda reprimida grande pode e deve existir. De qualquer maneira, a melhor medida para impedir a transmissão segue sendo única: identificação das pessoas doentes e análise dos contactantes dos infectados. Fazendo esse procedimento conseguimos quebrar a cadeia –, concluiu Rodolfo Behrsin.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.