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HUMANIZAÇÃO
Profissionais e familiares de paciente se emocionam em simpósio sobre cuidados paliativos no Hucam-Ufes
VITÓRIA (ES) - Em um auditório lotado e em clima de emoção, profissionais do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) realizaram, nesta sexta-feira, 4, o simpósio “Cuidados Paliativos em todos os ciclos da vida”. O evento contou com histórico desta atividade na instituição, relatos de profissionais, depoimentos de familiares, formas de abordagem, técnicas e questões éticas e legais relacionados ao tema.
A coordenadora da Comissão de Cuidados Paliativos, a médica geriatra Gleida Lança, que recebeu os participantes e dirigentes do hospital na abertura do simpósio, no Complexo Ambulatorial Multirreferenciado (CAM), falou da importância deste evento. “O objetivo é fortalecer essa visão do cuidado, com foco na dignidade do paciente e seus familiares nos momentos de vulnerabilidade. O simpósio tem esta meta de energizar todos os envolvidos nestes cuidados”, explicou.
O superintendente do hospital, Lauro Monteiro Vasconcellos Filho, destacou os esforços para humanizar o cuidado e o acolhimento na instituição. “Trabalhar com a área de saúde exige muita solidariedade. Nós presenciamos o sofrimento e isso é uma escolha nossa, então temos que estar preparados para acolher os pacientes e seus familiares em todos os momentos”, resumiu o dirigente.
Na abertura do simpósio, que teve transmissão em tempo real pelo Teams, foi formada uma mesa sobre os novos horizontes em cuidados paliativos, com apresentação da política de cuidados paliativos do Estado, o histórico da formação da comissão e seus trabalhos no Hucam-Ufes, as metas baseadas na Política Estadual de Cuidados Paliativos e critérios para uma desospitalização segura. Na sequência, profissionais da área assistencial do hospital apresentaram um caso clínico.
Familiares relatam caso de acolhimento
No evento, o público ouviu o depoimento de Reginaldo de Oliveira e Ana Cláudia Intringer Trabch, pais de Gabriel, que nasceu com uma doença genética chamada Síndrome de Edwards. Com 15 dias de nascido, ele teve uma parada cardíaca, ficou internado um ano, quatro meses e dez dias no Hucam e faleceu em maio de 2023. Neste período, a equipe assistencial acionou a Comissão de Cuidados Paliativos, que acolheu o paciente e a família.
Reginaldo, Ana Cláudia e as profissionais do Hucam envolvidas neste processo foram às lágrimas ao relatar o caso. “Neste tempo que ficamos aqui eu nunca fiquei só nem fiz nada sozinha. Meu marido sempre estava presente comigo e a equipe nos acolheu e acolheu o Gabriel para passar por este momento. Foram feitos todos os procedimentos e quando chegou o tempinho dele, ele se foi”, disse Ana Cláudia.
Na parte da tarde, o simpósio contou com uma apresentação sobre abordagem no caso de dispneia (quando fala o ar) e uma conferência sobre dilemas bioéticos e problemas jurídicos relacionados aos cuidados paliativos. A programação incluiu, no encerramento, uma mesa composta por profissionais para falar sobre os cuidados psicossociais frente à morte e ao luto, tratando de orientações para familiares, definições sobre o luto e o papel dos profissionais de saúde diante de famílias que passam pelo luto.
Comissão completa nove anos
A Comissão de Cuidados Paliativos do Hucam, que completou nove anos de atividade em 2024, é composta por uma equipe multidisciplinar, atualmente com 13 membros (oito consultores e cinco executores). De acordo com os profissionais da comissão, a família do paciente é acolhida, ouvida e considerada nas decisões e planos de cuidados, que têm como foco a qualidade de vida e o conforto do paciente. E, para que isso ocorra, é necessário que a equipe dê informações realistas da doença e do prognóstico, em uma abordagem respeitosa e empática.
O serviço de cuidados paliativos age sempre que é convocado pelos profissionais da assistência e passa a acompanhar o paciente em conjunto com a equipe assistencial, aliviando o sofrimento físico, psicológico, social e espiritual. Em paralelo, “educa” as equipes a “paliarem”, ou seja, a cuidarem de maneira integrada de todas as dimensões do sofrimento. Desde o primeiro caso, em abril de 2015, a comissão já realizou 1.523 atendimentos no Hucam.
Segundo a coordenadora da comissão, a equipe pode fazer sugestões farmacológicas ou não farmacológicas, a fim reduzir o desconforto do paciente. Por isso, a equipe de cuidados paliativos busca meios para o melhor manejo clínico e psicossocial de cada paciente atendido, lembrando que a doença pode evoluir para a morte e todos deverão estar preparados para esse momento, tanto a equipe quanto a família e o próprio paciente. “O objetivo principal é que o paciente tenha direito à dignidade até o fim de sua vida”, ressalta.
Os atendimentos ocorrem de acordo com as demandas do paciente. Em alguns casos, são liberados os alimentos preferidos do paciente, em outros, realizados encontros com pessoas significativas, inclusive as crianças da família ou, ainda, estendido o horário de visita no hospital ou promovida uma conversa pela internet com uma pessoa querida, entre outras ações. “São coisas que importam para o paciente neste momento”, resumiu a geriatra.
Segundo Gleida Lança, os cuidados paliativos resgatam o princípio de curar quando possível, aliviar quando necessário e consolar sempre. “Aliviar e consolar necessita de treinamento e desenvolvimento através de práticas científicas e compassivas, em busca da integridade humana e centrada no paciente, seus valores e crenças”, acrescentou.
A comissão atua na capacitação das equipes, por meio dos acompanhamentos conjuntos, de reuniões científicas, discussões de casos clínicos, aulas e treinamentos nos temas relacionados, contribuindo com a formação prática de estudantes e residentes.
Sobre a Ebserh
O Hucam-Ufes faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde abril de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Sinval Paulino
Coordenadoria de Comunicação Social – Ebserh