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GASTROENTEROLOGIA
Hucam faz 1º transplante fecal do Espírito Santo
VITÓRIA (ES) -O primeiro transplante fecal do Espírito Santo foi realizado no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam-Ufes), da Rede Ebserh. O procedimento já é realizado em outros estados e têm demonstrado resultados significativos. O método pode causar estranheza quando se ouve dele pela primeira vez, mas na verdade é muito efetivo para o tratamento de pacientes com infecção causada pela bactéria
Clostridium difficile.
Thaisa Ribeiro, médica gastroenterologista e endoscopista do Hucam foi responsável, com equipe de oito pessoas, por trazer a técnica para o hospital. Quando Thaisa soube que o transplante seria necessário, ligou para o amigo e médico especialista na área Felipe Bertollo para esquematizar como tudo ocorreria.
“Se está ao nosso alcance e pode mudar a vida do paciente, acho que tem que investir” afirmou a médica sobre a experiência de trazer algo novo para o hospital e para o paciente.
O TRANSPLANTE
O transplante da microbiota fecal foi realizado no Brasil pela primeira vez no Hospital Israelita Albert Einstein, em 2013 na cidade de São Paulo. O método está sendo pesquisado e testado para tratar outras doenças. Mas, por enquanto, tem oficialmente apenas indicação para tratar a infecção por esta espécie específica de bacilo. O tratamento é indicado apenas depois de o paciente ter passado pelas etapas tradicionais da terapia, que são o uso de antibióticos e a lavagem intestinal. Se nada disso funcionar, então é a vez do transplante fecal.
O objetivo do transplante é repovoar a microbiota intestinal (microorganismos que habitam no intestino do paciente), afetada. Tal infecção pode ser causada pelo uso de antibiótico, que modifica a flora intestinal e faz proliferar essa bactéria, mas não é o único fator de risco. Doenças inflamatórias intestinais (colite ulcerativa ou doença de Crohn, por exemplo) também podem causá-la.
A bactéria se manifesta por meio de uma diarreia aquosa frequente, e faz o doente a evacuar cerca de 10 vezes ao dia. Segundo Thaisa, esse quadro muitas vezes consome o estado geral do infectado e o faz perder peso.
O PACIENTE
O paciente era um idoso de 69 anos. Ele foi internado com uma hemorragia digestiva alta por causa de varizes de esôfago. As varizes foram ocasionadas por uma cirrose hepática, fruto do uso excessivo de álcool. O paciente foi submetido ao tratamento clinico, endoscópico e farmacológico padrão. Então, depois do uso de antibióticos convencionais, o paciente passou a ter a diarreia aquosa.
Com os exames, ficou confirmado que havia toxinas produzidas pela Clostridium difficile em seu corpo . Como o idoso passou pela terapia convencional e não respondeu, o próximo passo seria o transplante de microbiota fecal
O PROCEDIMENTO
O transplante aconteceu no dia 13 de setembro deste ano. Primeiro, foram feitos exames no indivíduo que pretendia doar as fezes para comprovar o bom estado de saúde. Posteriormente, as fezes colhidas foram diluídas em soro fisiológico e coadas para a retirada do resíduo sólido. Por fim, o material orgânico é infundido por sonda nasoentérica, procedimento que levou cerca de duas horas.
O procedimento foi bem-sucedido. No entanto, 10 dias depois, o paciente teve outra hemorragia digestiva como a que o levou a ser internado, devido a complicações de cirrose hepática, e acabou falecendo.
“Foi um aprendizado muito grande, a gente viu que não é tão difícil de realizar. Então, se algum outro paciente precisar, a gente já se sente apto a fazer.” finalizou Thaisa.
Sobre a Rede Ebserh
O Hucam-Ufes faz parte da Rede Ebserh desde outubro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.