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Setembro Verde
Equipes especializadas da Ebserh atuam 24 horas para fazer captação de órgãos de forma humanizada
Brasília (DF) - Uma das fases mais delicadas e talvez uma das mais importantes no processo de captação de órgãos é o momento de abordar a família de um paciente recém-falecido para conversar sobre a possibilidade de doação. Mas, para isso, existem equipes que são capacitadas, garantindo o acolhimento humanizado da família no momento de perda e, ao mesmo tempo, explicando sobre o processo e importância de doar órgãos. Saiba mais nesta terceira reportagem da série especial da Ebserh sobre doação de órgãos.
Um dos destaques deste processo são as Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTTs), formadas por equipe multiprofissional da área de saúde, com a finalidade de organizar no âmbito da instituição rotinas e protocolos que possibilitem o processo de doação de órgãos e tecidos para transplante.
Izabelle de Freitas Ferreira, da Comissão Hospitalar de Transplantes do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), vinculado à Ebserh, disse que, na verdade a família é informada que tem o direito de fazer a doação. “Não existe obrigação, não existe nenhuma insistência. A doação é apresentada como um direito que a família pode exercer”, explicou a enfermeira.
Segundo ela, a equipe fica em plantão permanente, segue todo um protocolo e faz trabalhos de conscientização com os demais profissionais do hospital, além de passar por cursos e reciclagem para fazer esta abordagem de uma forma humanizada. “Conversamos em um local reservado, sempre respeitando a vontade da família, explicamos que o corpo não fica deformado, que é um grande temor de alguns parentes e, se a família concordar, fazemos o contato com os responsáveis pela captação no Estado. O importante é o respeito à família neste momento”, complementou.
Um trabalho especial nesta área está sendo desenvolvido pelo médico Ilidio Antunes de Oliveira Junior, no Hospital de Clínicas do Triângulo Mineiro (HC-UFTM/Ebserh), coordenador da CIHDOTT da instituição, onde são realizados transplantes de tecidos oculares (córnea, esclera e limbo), renais, de tecidos ósteo-tendino-ligamentares, de medula óssea autólogo e de válvula cardíaca, num total de 1.357 cirurgias de transplantes desde 1981.
Ele implantou, em janeiro de 2001, o projeto Vida pela Vida, que motiva e conscientiza a população de 27 cidades brasileiras, por meio de visitas e atenção, acolhimento e apoio humanizado às famílias. “Estamos com 65% de doações autorizadas de múltiplos órgãos e tecidos para transplantes, contra uma média nacional de 43%, e aproximadamente 30 mil doadores voluntários de medula óssea cadastrados”, disse.
O consentimento
De acordo com a legislação vigente com relação a ser um doador de órgãos ou tecidos para transplante, somente a família pode autorizar o processo. Nenhuma declaração em vida é válida ou necessária, não há possibilidade de deixar em testamento, não existe um cadastro de doadores de órgãos e nem são mais válidas as declarações nos documentos de identidade/carteiras de habilitação e nem mesmo as carteirinhas de doador.
O médico explicou que, por essa razão, a única forma de ser um doador pós-morte é discutir o assunto, em vida, com os seus familiares, o que permitirá também a todos que participarem dessa conversa, revelarem-se doadores ou não de órgãos. “Essa simples conversa permitirá aos familiares tomarem uma decisão rápida e consciente, caso a situação se apresente”, acrescentou, ao afirmar que a principal estratégia para ter sucesso nesta abordagem consiste em dois passos: “Acolher e respeitar”.
A psicóloga hospitalar do Hospital Universitário de Brasília (HuB-UnB/Ebserh), Narjara Pedrosa, explica que a CIDHOTT é acionada em caso de morte encefálica e morte por parada cardiorrespiratória (em caso de possível doação de córnea) e analisa os exames para saber se o paciente está em condições de doar. As equipes do hospital oferecem um tratamento humanizado durante todo o processo. “Em geral, quando a família se sente bem atendida aumenta a chance de doar”, explica. “Esse tema é estimulado em ações para pacientes, acompanhantes e profissionais, pois qualquer um pode ser doador.
A médica intensivista da UTI do Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh), Luciana Borges Segala, coordenadora da CIHDOTT, disse que a taxa de aceitação neste ano está em torno de 50%, com 30% de efetivação, considerando que às vezes o doador não é elegível para o processo.
Segundo ela, as estratégias adotadas pela equipe para garantir a doação e aumentar a taxa passam, principalmente, pelo esclarecimento da população e por campanhas de doação. “O acolhimento, o treinamento e a transparência no processo também são muito importantes”, disse, esclarecendo que o principal motivo para recusa é o desconhecimento da família do desejo do falecido em fazer a doação. “Um doador pode beneficiar até oito pessoas, com possibilidade de captação de pulmões, fígado, rins, pâncreas, córneas e tecidos”, explicou a médica.
Na reportagem de amanhã, será abordado o transplante em crianças: a vida sendo salva em seu desabrochar.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por: Sinval Paulino, com apoio de Angélica Lúcio e Vanda Laurentino e edição de Danielle Campos.
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Veja as matérias da série:
Doadores e receptores afirmam que ganharam nova família após transplante