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ATENDIMENTO
Huap e outros hospitais da Ebserh realizam cirurgias de reconstrução mamária, do canal vaginal e de redesignação sexual
Para algumas pessoas, a preocupação com a estética pode parecer desnecessária e superficial. Porém, estudos indicam que a autoestima está diretamente ligada à saúde da população. Pensando nisso, diversos hospitais da Rede Ebserh realizam procedimentos que ajudam a reconstruir a autoestima de mulheres, por meio de cirurgias reparatórias de reconstrução mamária e do canal vaginal. Um deles é o Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF). Além disso, outros possibilitam que mulheres trans consigam se sentir pertencentes ao gênero que se identificam, por meio da redesignação sexual.
Reconstruindo a mama e a autoestima
O tratamento do câncer de mama pode ser intenso e invasivo. Além da quimioterapia e radioterapia, algumas pacientes precisam passar pela mastectomia, ou seja, a retirada da mama. Para amenizar o sofrimento, buscar qualidade de vida para elas e restituir a autoestima, alguns hospitais da Ebserh realizam a reconstrução mamária.
No Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF), por exemplo, o Serviço de Mastologia realiza, principalmente, a reconstrução imediata, aquela que é feita no momento da mastectomia. As pacientes também têm acesso às cirurgias de reconstrução parcial da mama. Algumas vezes são realizados procedimentos para melhorar a simetria entre as duas mamas e aumentar a satisfação da paciente. Além disso, o HUAP reconstrói com prótese mamária definitiva e temporária (expansor) ou, ainda, com retalhos miocutâneos, que é o uso do tecido da própria paciente para repor o volume retirado pela mastectomia.
A mastologista Júlia Dias, do Huap, destacou que o tratamento do câncer de mama tem um estigma muito forte de mutilação. “Poder oferecer à paciente um tratamento que a cure, mas que também preserve sua autoestima é muito gratificante. Quem passa por um tratamento em que sua mama é reconstruída adere melhor ao tratamento, o que favorece as chances de cura”.
O Serviço conta com quatro mastologistas e todos fazem a reconstrução mamária. Os profissionais associam um excelente tratamento oncológico a um resultado cosmético satisfatório. Além disso, a instituição realiza a reconstrução tardia, na sua grande maioria no Serviço de Cirurgia Plástica.
O Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB), também faz a reconstrução mamária, beneficiando pacientes que estão com câncer de mama e precisam de uma reconstrução imediata, bem como pacientes que fizeram a mastectomia anos atrás, caracterizando a reconstrução tardia.
Saluana Sousa, 25 anos, descobriu, em maio de 2019, um nódulo na mama direita. Na ocasião, o médico de uma clínica particular disse que o cisto era simples e que só era necessário o acompanhamento para ver se ele crescia. Porém, em pouco tempo, o nódulo aumentou e houve a necessidade de uma cirurgia de retirada do cisto. Após a biópsia, ficou constatado o câncer de mama. Com isso, Saluana fez a mastectomia bilateral sem a reconstrução.
De acordo com a Mastologista do HULW-UFPB, Ana Thereza Uchôa, a paciente necessitava de quimioterapia e radioterapia, porém a reconstrução mamária imediata não foi indicada inicialmente diante da particularidade do caso. "Existia a urgência de tratá-la logo por ser uma paciente de 20 anos de idade com um tumor relativamente agressivo". Em 2023, Saluana voltou ao HULW e fez a reconstrução tardia com prótese. “A reconstrução mamária mudou muito minha autoestima. Eu sonhava em voltar a usar determinados tipos de roupas e hoje em dia consigo. Foi algo que mudou a dinâmica da minha vida. Fiquei muito feliz com o resultado”, enfatizou a estudante.
Atualmente está sendo ofertado um curso inédito no HULW-UFPB para os mastologistas da instituição. Assim, aqueles que desejarem podem se capacitar para a realização da reconstrução mamária em pacientes.
Pele de tilápia para construção do canal vaginal
A tilápia é um peixe de água doce, abundante no país. Na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará/Ebserh (Meac-UFC/Ebserh), a tilápia tem sido uma grande aliada na restauração da autoestima de muitas mulheres. Isso porque a pele do animal é utilizada em cirurgias de reconstrução vaginal em meninas que nascem com síndrome de Rokitansky (ausência de canal vaginal). A técnica, inédita no mundo e desenvolvida no hospital da Ebserh, também tem sido estudada em outro ensaio clínico da Meac em reconstrução vaginal de mulheres que tiveram obliteração vaginal em função de tratamentos como radioterapia, já tendo sido aplicada com sucesso.
A pele de tilápia é rica em colágeno e tem propriedades cicatrizantes e não contém vírus ou bactérias contaminantes aos humanos. O biomaterial é desidratado, embalado a vácuo e esterilizado por irradiação, dessa forma pode funcionar como anteparo para o crescimento e desenvolvimento celular. Por meio da cirurgia, a membrana é totalmente incorporada à vagina reconstruída.
O método também tem sido estudado com um grupo de cirurgia plástica em Cali, na Colômbia, utilizado em procedimentos de redesignação sexual em mulheres trans. Ele foi treinado pelo uroginecologista Leonardo Bezerra, da MEAC, que também levou a capacitação ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Na instituição, o procedimento é feito em mulheres com a síndrome de Rokitansky.
A cirurgiã e coordenadora do Setor de Uroginecologia do HC-UFMG, Marilene Vale de Castro Monteiro, explicou que, na cirurgia, de aproximadamente uma hora, o cirurgião cria um espaço entre a uretra e o reto, recobrindo-o com a pele de tilápia. “Um molde cilíndrico é colocado nesse espaço para impedir que as paredes da "nova vagina" se fechem, enquanto as células dos tecidos da paciente e as células e fatores de crescimento liberados pela pele de tilápia se transformam em um novo tecido, com aspecto semelhante à de uma vagina habitual”.
Ainda segundo a cirurgiã, as pacientes que nascem sem o conduto vaginal podem utilizar a dilatação mecânica progressiva ou a cirurgia para obter uma nova vagina. “Essa nova vagina aumenta a autoestima dessas pacientes, porque na maioria das vezes elas se sentem "incompletas ou insatisfeitas" por não ter nascido com a vagina habitual, igual a maioria das mulheres”, justificou.
Adequação do corpo à identidade de gênero
A cirurgia de redesignação sexual ou transgenitalização, conhecida também como "cirurgia de mudança de sexo", tem o objetivo de alterar as características físicas dos órgãos genitais, de forma a que a pessoa possa ter um corpo adequado ao que considera correto para si própria. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh) conta com esse procedimento, oferecido por meio do Espaço Trans da instituição.
O local é um dos centros de referência na assistência às pessoas trans no Brasil, com acompanhamento psicossocial, clínico e cirúrgico, criado em 2014, quando o HC recebeu o credenciamento do Ministério da Saúde para a implantação dos procedimentos relativos ao processo transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS).
A ginecologista Aleide Tavares, do HC-UFPE, reforçou a importância da transgenitalização para mulheres transgênero. “Para a maioria das mulheres trans, a adequação do corpo à sua identidade de gênero, representa uma grande melhora na qualidade de vida, aumento da autoestima, uma liberdade”, enfatizou.
Iniciativas como essas contribuem para que as mulheres possam viver mais confiantes, felizes e realizadas, a partir de procedimentos feitos em hospitais públicos por meio do SUS, que atuam de forma multidisciplinar, impactando diretamente na qualidade de vida de todos e todas.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação de Paulina Oliveira, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh