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Tomografia se mostra eficaz no diagnóstico de COVID-19 mesmo em análises feitas por médicos clínicos
São Carlos (SP)- Um estudo realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), revelou que a tomografia computadorizada sem contraste pode ser mais eficaz do que a radiografia simples no diagnóstico de complicações respiratórias graves causadas pela COVID-19. O projeto, desenvolvido no Programa de Iniciação Científica (PIC/Ebserh), em parceria com o CNPq, foi conduzido pela aluna Esther Lira de Medeiros, sob orientação da Profa. Dra. Sigrid De Sousa dos Santos, com seus resultados apresentados em 23 de agosto de 2024. A pesquisa, que abrangeu dados de 2020 e 2021, durou um ano e trouxe importantes contribuições para o diagnóstico e tratamento de pacientes com COVID-19.
Sigrid explicou que o estudo surgiu da necessidade de avaliar a acurácia dos métodos clínicos e radiológicos no diagnóstico de pacientes com síndrome respiratória aguda grave. "No início da pandemia, o acesso aos métodos moleculares e imunológicos era limitado, o que nos forçou a recorrer ao diagnóstico clínico-epidemiológico e radiológico", comentou. Ela destacou que o foco era entender a precisão desse diagnóstico em relação à COVID-19 e outras doenças respiratórias.
Entre os principais resultados, a tomografia computadorizada demonstrou maior acurácia no diagnóstico de COVID-19, especialmente no padrão de opacidades em “crazy paving”, característica da doença. "A tomografia de tórax mostrou maior precisão diagnóstica, enquanto a radiografia simples foi menos eficaz, com 54% dos pacientes graves não conseguindo realizar o exame adequadamente", afirmou. Além disso, o estudo evidenciou que a tomografia permitiu maior concordância entre os avaliadores quanto à natureza das lesões e à suspeição diagnóstica.
Um dos maiores desafios enfrentados pela equipe foi o volume de prontuários revisados, com 985 prontuários analisados, o que exigiu um grande esforço logístico. Outro desafio foi garantir que a avaliação das imagens radiológicas fosse cega, sem que as estudantes tivessem acesso ao diagnóstico prévio dos pacientes. A plataforma Redcap foi fundamental para isso, eliminando as referências diagnósticas durante a análise e garantindo a imparcialidade.
A pesquisa também reforçou a importância da integração entre as equipes clínica e radiológica. Sigrid destacou que a colaboração entre médicos clínicos e radiologistas foi essencial para a obtenção de resultados precisos em um contexto pandêmico, com grande volume de exames a serem analisados e a necessidade de liberação rápida de laudos.
Impacto na formação acadêmica e aprendizado multiprofissional
Para Esther Lira de Medeiros, a participação na pesquisa foi transformadora e desafiadora, especialmente ao lidar diretamente com análises clínicas e radiológicas durante a pandemia. Segundo a aluna, o estudo proporcionou uma oportunidade única de aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula no ambiente hospitalar, principalmente na análise de prontuários de pacientes internados nos primeiros anos da pandemia.
Ela também destacou que o contato com profissionais de diferentes áreas foi um dos aspectos mais enriquecedores da experiência, permitindo-lhe valorizar a abordagem multiprofissional no cuidado ao paciente hospitalizado. O aprendizado na análise de imagens radiológicas foi fundamental para que ela identificasse padrões específicos da COVID-19 e os diferenciasse de outras condições respiratórias.
A pesquisa contou com a colaboração de Isabella Gerin de Oliveira, que auxiliou no desenvolvimento do projeto e na integração com outra pesquisa relacionada à COVID-19. Guilherme Castilho Sorensen de Lima desempenhou um papel importante ao introduzir os estudantes na interpretação das imagens, enquanto Matheus Jorge Iani foi responsável pela maioria dos laudos tomográficos incluídos no estudo, garantindo a qualidade e precisão dos diagnósticos.
Sigrid também ressaltou a qualidade do Programa de Iniciação Científica (PIC/Ebserh), que oferece acompanhamento contínuo e suporte tanto aos estudantes quanto aos orientadores. "O programa é diferenciado, oferecendo suporte desde a seleção até a finalização do projeto, o que permite uma formação mais disciplinada e completa", afirmou. Relatórios mensais e orientações específicas sobre o ambiente hospitalar estimularam a autocrítica e evolução dos alunos, além de fomentar a expertise local e promover uma formação sólida para futuros profissionais.
A pesquisa no HU-UFSCar, além de seus avanços técnicos e científicos, proporcionou uma rica experiência de aprendizado para os alunos. O PIC/Ebserh foi essencial ao oferecer suporte contínuo durante todas as etapas do projeto. Esther acredita que a vivência adquirida será um diferencial em sua futura atuação médica, destacando a versatilidade do aprendizado e a importância da pesquisa para sua formação.
Sobre a Ebserh
O HU-UFSCar faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Felipe Monteiro