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JANEIRO ROXO
Janeiro é o mês da conscientização da Hanseníase
Janeiro Roxo é o mês de conscientização sobre os cuidados, tratamentos e prevenção da hanseníase, doença milenar causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Annair Freitas do Valle, médica dermatologista, responsável pelo Ambulatório de Hanseníase do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF/Ebserh), explica como essa enfermidade pode ser transmitida e quais são os seus desdobramentos.
De acordo com Annair, a hanseníase ou lepra, como era denominada no passado, é uma doença espectral, ou seja, que pode apresentar uma manifestação menos grave ou mais grave dependendo da imunidade de cada paciente. Sua forma de transmissão se dá principalmente através das vias respiratórias superiores após o contato com um portador que apresenta grande quantidade do bacilo. Isso acontece principalmente pelo contato íntimo e prolongado que ocorre geralmente dentro de casa, mas a transmissão também pode se dar no trabalho.
A médica ainda explica como a doença se desenvolve no corpo do paciente. O bacilo causador da hanseníase se instala geralmente nas áreas mais frias do corpo, como lóbulo da orelha, ponta do nariz, cotovelos e nos nervos periféricos. Na pele surgem manchas variadas, de coloração vermelha, mais claras, acastanhadas, e que podem se transformar em placas, nódulos, áreas infiltradas, úlceras, calosidades com alteração de sensibilidade. Todos esses sintomas e manchas devem ser investigados, realizando o teste de sensibilidade e a apalpação dos nervos periféricos. Quando o bacilo se instala nos nervos, ele pode causar formigamento, fisgadas, dormência. A sensibilidade começa a ser modificada; primeiro é a térmica, a seguir, dolorosa, e por último, tátil.
Quando a pessoa é diagnosticada com a doença, a médica explica que todos os seus contatos devem ser rastreados, e as pessoas precisam realizar exames, pois a hanseníase é uma doença que passa por um período de incubação que pode levar entre 3 a 5 anos. A dermatologista ainda ressalta a importância de um diagnóstico precoce, pois se trata de uma doença incapacitante. No início é uma mancha na pele, mas depois pode evoluir para lesões motoras. A pessoa pode deixar de caminhar direito, a mão pode ficar incapacitada. E, quanto mais cedo for descoberta, melhor para o sucesso do tratamento, evitando que o paciente fique incapaz de realizar suas atividades diárias.
Quanto ao diagnóstico da doença, a médica explica que o paciente, ao chegar no HU, passa pelo diagnóstico clínico, fazendo o exame dermatoneurológico que consiste em analisar todo o corpo para verificar a existência de manchas, áreas sem sensibilidade, apalpar os nervos periféricos para saber se estão espessos e doloridos. Além disso, é testada a força muscular.
Após essas análises, ocorre a classificação da doença. Alguns outros exames podem ser feitos como baciloscopia, que consiste em colher o material dos lóbulos da orelha e dos cotovelos; teste com estesiômetro, que tem a finalidade de avaliar a sensibilidade tátil da pessoa; teste de sensibilidade térmica com algodão seco e molhado. Para a sensibilidade dolorosa, o teste pode ser feito com a ponta de uma agulha e perguntar se o paciente sente algo.
Após a classificação, a responsável pelo ambulatório explica que o paciente vai iniciar o tratamento com os medicamentos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), chamada poliquimioterapia (PQT), que consiste em uma combinação de antibióticos. A medicação é utilizada por um período de 6 ou 12 meses, de acordo com a classificação da hanseníase.
No Hospital Universitário, o paciente é atendido por uma equipe multidisciplinar: fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo e assistente social, para um acompanhamento adequado e de acolhimento, explica Annair. Nessas consultas, são realizados testes para avaliar a sensibilidade do paciente e saber a sua evolução. Eles são atendidos pelo HU mensalmente e ainda recebem uma medicação dentro da unidade, cuja dose é supervisionada, e outra para fazerem o tratamento em casa. Assim, há um cuidado mais preciso e uma certeza de que estão medicados. Após o término da medicação, o paciente recebe alta, mas caso apareça alguma nova lesão ou reações deve voltar a procurar atendimento.
A prevenção da doença consiste em ter hábitos de higiene, como lavar as mãos e a aplicação da vacina BCG em toda a população, além de conhecimento sobre a hanseníase.
Colaborou: bolsista Juliana Gonçalves