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Cigarro: a principal causa evitável de doença no mundo
“Todo mundo vai morrer, isso a gente sabe. Mas, de uma certa forma, como a gente vai morrer dá para a gente escolher. Então, o melhor é você ir cuidando da sua saúde, porque ninguém vai ser jovem para sempre, e é preciso escolher como você quer envelhecer”. Assim o pneumologista Ricardo Martins encerra mais um dos seus atendimentos na Unidade do Sistema Respiratório - Pneumologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh), que tem atendido cada vez mais jovens.
O médico revela que o uso de cigarros eletrônicos tem crescido de forma assustadora e o vício em nicotina é similar ao vício da cocaína. “Quando você fuma, a primeira tragada de nicotina chega em dez segundos no seu cérebro. É a droga que mais rápido chega ao cérebro e quando chega ela cria receptores específicos, então o organismo entende que você precisa de mais nicotina, criando mais receptores e é aí que começa a dependência”, afirma ele.
O Coordenador do Programa de Controle e Tratamento de Tabagismo do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF/Ebserh), Leonardo Pessôa, destaca que a dependência de nicotina, está frequentemente associada a dependência psíquica e comportamental, que também causa ou agrava outras doenças. “São cerca de 55. As mais frequentes são o infarto, AVC (derrame), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mais conhecida como enfisema, e a mais temida, o câncer de pulmão. São tantas doenças que não há como escapar de todas, a vida inteira. Infelizmente em algum momento da vida, alguma enfermidade, vai surpreender o tabagista”.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. No Brasil, são 161.853 mortes anuais atribuíveis ao uso de tabaco. “Isso representa 443 mortes por dia e leva o tabagismo a ser o terceiro fator de risco para anos de vida perdidos ajustados por incapacidade”, enfatiza a professora assistente de pneumologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF/Ebserh), Christina Pinho. O Hospital Universitário Antônio Pedro é um dos hospitais da rede Ebserh credenciado pelo Ministério da Saúde para participar do Programa Nacional de Controle ao Tabagismo (PNCT) desde 2005.
A equipe é composta por pneumologistas capacitados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA/Ministério da Saúde) para abordagem e tratamento do tabagismo. O programa atende cerce de 80 pacientes por ano das regiões de Niterói, Itaboraí, São Gonçalo, Tanguá, Maricá, Rio Bonito e Silva Jardim. O programa tem alcançado bons resultados, com taxa de abstinência ao final do grupo em torno de 60%. “O tratamento inclui avaliação clínica, terapia cognitivo comportamental (TCC) e ações educativas. O tratamento medicamentoso que complementa a terapia é fornecido pela Secretaria Municipal de Saúde. O grupo, formado por 10 pacientes, recebe tratamento em sessões de 90 minutos, quatro semanais, duas quinzenais e posteriormente, uma mensal, até completar três meses”, pontua a médica do Programa de Controle e Tratamento de Tabagismo do HUAP-UFF/Ebserh, Valéria Moreira.
Cigarros eletrônicos
Essa onda de consumo de nicotina na forma de cigarro eletrônico traz uma série de preocupações. “Estamos caminhando para uma epidemia de cigarro eletrônico. A gente vai ainda confrontar com várias doenças crônicas que o cigarro eletrônico vai nos trazer, bem como a Evali, inflamação pulmonar grave, que explodiu em 2017, matando vários jovens nos Estados Unidos”, enfatiza Vanessa Mendes de Resende Barros, pneumologista HC-UFU/Ebserh.
“Já está bem documentado na literatura: o cigarro eletrônico mata, produz doenças, inflama o organismo e vicia da mesma forma ou mais do que o cigarro convencional. Então, nem de longe, ele pode ser usado como uma terapia para a cessação de tabagismo”, acrescenta ela, que destaca que a nicotina do cigarro eletrônico é muito mais viciante. “O efeito dela é mais rápido, a concentração dela é maior, ela chega mais rapidamente no sistema nervoso central e isso favorece uma dependência química muito maior do que a gente vê no cigarro convencional. Então a pessoa que troca o convencional pelo dispositivo está piorando a sua dependência química”, esclarece a pneumologista.
Tratamento de tabagismo
Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o tratamento do tabagismo no SUS são: terapia de reposição de nicotina (adesivo transdérmico e goma de mascar) e o Cloridrato de Bupropiona.
“É como se trocasse 5 mil substâncias pela nicotina. Aí você vai reduzindo a dose, pois são várias concentrações de nicotina no adesivo. Então, na medida que a pessoa vai se sentindo menos fissurado na droga, você vai reduzindo a nicotina”, explica o pneumologista do HUB, Ricardo Martins.
“Mas o tratamento é multidisciplinar. Só tomar o remédio sem esforço e sem ir atrás de coisas estruturantes, não tem como. É preciso reformular as redes neurais e a Terapia Cognitivo Comportamental dá mais sustentação para a pessoa conseguir ficar livre do cigarro”, acrescenta.
Medidas a serem adotadas por quem deseja parar de fumar
Segundo o pneumologista do HUAP, Leonardo Pessôa, cerca de 22% da população brasileira é constituída por ex-tabagistas e muitas pessoas já conseguiram se livrar do vício e a maioria sem ajuda médica. “Para os menos dependentes eu sugiro tentar. Marcar uma data e simplesmente tentar. Esta forma é mais eficiente do que a redução gradual. Se a pessoa não conseguir ou se conseguir, mas recair, talvez ela seja mais dependente do que imaginou. Neste caso é importante ser objetivo, não perder tempo, não adiar e buscar auxílio médico”, revela ele.
Tabagismo e mulheres
Homens fumam quatro vezes mais do que mulheres. Mas enquanto o índice de homens tabagistas estabiliza-se, o número de mulheres fumantes segue aumentando. A pneumologista HC-UFU, Vanessa Mendes de Resende Barros, revela que “há indícios de que a nicotina pode interagir de maneira distinta no organismo feminino, principalmente na fase lútea (período entre a ovulação e a menstruação). “Isso provoca reações no período de abstinência do cigarro, dificultando a cessação e aumentando as recaídas. A mulher por si só, tem duas vezes mais risco de câncer de pulmão que os homens e 80% mais chance de osteoporose quando fumam, comparado aos homens”, finaliza a médica.
Sobre a Ebserh
O Hospital de Clínicas da UFU faz parte da Rede Ebserh desde 2018. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.