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Práticas Integrativas
Pilates pode complementar tratamentos de dor crônica, avalia fisioterapeuta do HC-UFTM
Exercícios que utilizam o peso do próprio corpo e alongamentos feitos em solo ou em aparelhos que possibilitam aumentar a amplitude dos movimentos. Assim é o pilates, uma das atividades oferecidas pelo Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares (Nupic) do Hospital de Clínicas da UFTM.
Criada pelo alemão Joseph Pilates na década de 1920, essa prática pode trazer benefícios que vão além do condicionamento físico. No HC-UFTM, o pilates é administrado como terapia complementar a tratamentos da medicina convencional, sob supervisão de uma profissional de Fisioterapia. Os alunos se movimentam na bola de equilíbrio, no colchonete e em quatro aparelhos: Step Chair, Ladder Barrel, Cadillac e Reformer, que são otimizados para múltiplos usos, em movimentos lentos e precisos de flexão e extensão.
Nas manhãs de sexta-feira, o Nupic mantém cinco horários, com duas alunas em cada aula (a turma atual está composta apenas por mulheres). Devido à pandemia, somente três pessoas podem ficar na sala de pilates. Numa sessão, o paciente chega a usar todos os aparelhos. “Em muitos casos você adapta o exercício para aquilo que a pessoa tem condições de fazer. Então, é uma quantidade grande de exercícios que a gente consegue realizar”, explica a fisioterapeuta Ana Carolina Ribeiro Terra, acrescentando que, com o tempo, o pilates clássico passou por adaptações, tendo sido ampliada a utilização dos equipamentos.
“A gente consegue pegar um público que vai desde uma pessoa com boa condição de prática, até uma senhora cheia de dores. E você justamente objetiva diminuir essa dor e melhorar esse condicionamento”, especifica Ana Carolina. A profissional chama a atenção para um motivo recorrente que leva os alunos à prática: “A maioria das pacientes está aqui por conta de dor. O pilates trabalha o condicionamento geral do corpo. A pessoa sedentária, na maioria das vezes, alcança outros ganhos, como tônus muscular, força… entre vários benefícios que a técnica oferece”, detalha.
Maria Aparecida dos Santos Sobrinho, de 66 anos, sofre de hérnia de disco cervical e é uma das praticantes de pilates no Nupic. Munida das tomografias de coluna e da cabeça (acompanhada pela Ortopedia, também passou por consultas de Neurologia), ela teve indicação para terapias complementares. Levou os exames até o Núcleo, onde já fez acupuntura e desde 2021 frequenta as sessões com a instrutora Ana Carolina.
“Um dos ortopedistas que me olharam achou que eu deveria fazer cirurgia; o próximo que eu fui falou que eu não precisava, era só fazer essas coisas, massagem também... e estou voltando em consultório para continuar com os remédios que ele me deu, a receita que ele tem de me passar, mas na verdade melhorei bastante. Já não sinto dor”, informa a dona de casa, contando ainda que já tinha feito hidroginástica, [treino] funcional e musculação, e por isso, teve facilidade de se adaptar ao pilates. “Não estranhei muito, mas até hoje estou meio tensa, não relaxo muito o corpo, sabe? Eu tenho muita tensão, mas estou indo bem, graças a Deus”, comemora.
Desde que passou pelas práticas propostas pelo Nupic, ela reconhece ganhos: “Tive umas duas crises que doíam demais, custava a levantar, mas como tenho minhas obrigações para fazer, fazia com muita dor. Hoje, dor eu não tenho. São várias hérnias, não vai sarando de um dia para o outro. Mas vai estabilizar”, Maria Aparecida diz.
Outra praticante é Cleide Aparecida Nogueira, de 49 anos, que sofreu dois acidentes: em 1997, uma queda de moto causou-lhe sequelas na coluna; já em 2018, foi vítima de um atropelamento no qual fraturou um braço e uma perna. Devido a esse último, Cleide ficou meses sem conseguir andar. Foi quando passou a fazer sessões diárias de fisioterapia domiciliar, observando uma melhora progressiva. Precisou usar cadeira de rodas e muletas. Otimista, ela abraçou as possibilidades de reabilitação e terapias que surgiram. “Comecei tudo o que me indicavam; falava: ‘tenho de melhorar porque estive à beira da morte’. Eu me vi morta, mesmo”, enfatiza.
Em maio de 2021, direcionada pela equipe multidisciplinar do Ambulatório Maria da Glória, Cleide conheceu o Nupic, onde fez acupuntura, terapia que lhe proporcionou melhoras relacionadas à capacidade de repouso. Ao finalizar o ciclo de sessões de acupuntura, a paciente foi encaminhada para o pilates. “Tinha dificuldade em me locomover com o andador, porque não usava direito o braço esquerdo. Então, desalinha a coluna, até voltar ao normal. Fiquei muito tempo sem caminhar, sem fazer atividade física; com isso a gente perde musculatura”, relembra. Para ela, reaprender a andar com segurança (passou a ter mais equilíbrio, parou de cair) e a regulação do sono figuram como grandes conquistas, para as quais o pilates teria sido essencial.
Hoje Cleide retoma atividades cotidianas prévias ao último acidente. “Desde novembro, melhorei bastante. Ela [a fisioterapeuta do Núcleo] falou que eu estava muito inchada quando cheguei aqui e agora desinchou. Nesse pouco tempo já estou tendo diferenças no meu corpo, conseguindo fazer coisas que eu não fazia”, afirma.
De acordo com o terapeuta ocupacional e coordenador do Nupic, Paulo Estevão Pereira, a adesão ao tratamento complementar, como nas demais práticas de saúde, é fundamental para o sucesso da terapia. “O paciente deve ser ativo no seu processo de cura. É importante ter assiduidade nas sessões, confiar na terapia e no terapeuta, e fazer seu trabalho de autorreflexão”, orienta.
Seguindo esse fundamento, Cleide revela que, depois das práticas complementares, a expressão “qualidade de vida” passou a ter outro sentido para ela. “Eu tirei um tempo para mim, para vir para cá. Esse tempo é meu. Se eu tivesse a noção desse serviço, desde a primeira cirurgia que eu fiz na coluna, acredito que estaria melhor ainda”, conclui.
O oferecimento de práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS) é regulamentado por uma política nacional específica, oficializada em 2006 e atualizada em 2017 e 2018, quando passou a reconhecer 29 práticas consideradas alternativas pela Organização Mundial da Saúde. Tais práticas, no âmbito do SUS, não são substitutivas da medicina convencional.
Unidade de Comunicação Social HC-UFTM