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Fisioterapeuta do HC-UFTM aprimora dispositivo de apoio ao paciente acamado
Foto: Unidade de Comunicação HC-UFTM
Acometido por um acidente vascular cerebral no dia 14 de novembro, o auxiliar de serviços gerais aposentado Ludgero Lourenço de Oliveira, 75 anos, já se senta com mais comodidade à beira do leito, na enfermaria de Neurologia do Hospital de Clínicas da UFTM. Morador de Uberaba, ele experimenta os benefícios de uma cadeira projetada especificamente para pessoas com enfermidades cerebrais limitantes. A filha do paciente, Maria Rosa de Oliveira Rezende, classifica o dispositivo como “bom demais, porque a pessoa não fica só deitada na cama, numa posição só. Ajuda a melhorar, dá uma força para a pessoa se sustentar mais rápido”.
Para entendermos como o uso dessa adaptação inovadora se tornou realidade no Hospital de Clínicas, é preciso voltar no tempo até 2018, quando um conteúdo na internet chamou a atenção da fisioterapeuta respiratória Priscila Mauad Rodrigues: uma cadeira para acomodar pacientes na borda da cama hospitalar. Estimulada com o que viu, ela conversou com os colegas, manifestando interesse em ter o produto no HC-UFTM.
“Eu vi essa cadeira de PVC chamada Dasbel (sigla para Dispositivo Auxiliar de Sedestação a Beira Leito), que uma equipe hospitalar multidisciplinar de São Paulo criou para sentar os pacientes no CTI [Centro de Terapia Intensiva]”, relembra. O produto não é patenteado. O grupo criador permite que seja produzido apenas para fins hospitalares ou não comerciais. “Era uma cadeira grande, que não dobrava, não tinha a proteção na frente”, salienta a fisioterapeuta. A partir daí, a profissional (que há mais de cinco anos integra a equipe da enfermaria de Neurologia no HC) desejou ter no dia a dia do trabalho um aparato com características semelhantes, porém com inovações: que fosse dobrável e com cabeceira inclinável.
União entre assistência, ensino e pesquisa
Pensando numa parceria, Rodrigues entrou em contato com o departamento de Engenharia Mecânica da UFTM. O professor Marcos Massao Shimano topou o desafio e ajudou a projetar a cadeira em PVC, com base na original e seguindo as sugestões da fisioterapeuta. A proposta: criar um modelo que pudesse ser dobrado, coubesse dentro de um armário e tivesse encosto reclinável.
O projeto, então, passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição. A partir daí, juntamente com dois alunos do curso de Engenharia Mecânica, Rodrigues e Shimano confeccionaram um protótipo, testando-o com pacientes. Nessa etapa, ocorria na prática uma relação entre pesquisa acadêmica e retorno de resultados à sociedade: a cadeira rendeu um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) no referido departamento.
Em 2019, com um projeto de mestrado que buscava demonstrar a viabilidade de produção e a funcionalidade da cadeira, Rodrigues foi admitida no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFTM, sendo orientada pela professora Luciane Sande de Souza. A pesquisa baseou-se no modelo original (já acrescido de encosto reclinável), e testou amplamente a eficiência da cadeira, na enfermaria de Neurologia.
Parceiro na empreitada, o professor Shimano fez uma proposta para melhorar o material, incluindo o alumínio na estrutura do dispositivo. Também foi criada uma barra de proteção frontal, para impedir que o paciente caísse para a frente, proposta pela professora Luciane Sande. “Fizemos tudo em conjunto. Foi muito legal, pois reuniu a assistência, os alunos da graduação em Engenharia Mecânica e a pós-graduação”, pontua Rodrigues. O protótipo se mostrou mais estável, com melhor encaixe na cama (e consequentemente no corpo), mais fácil de limpar, menos pesado, conta com cinco níveis de inclinação (dois a mais do que o de PVC) e a barreira de segurança frontal.
A profissional explica que outros benefícios também são percebidos no cotidiano hospitalar. “Quando você faz os exercícios com o paciente sentado, os faz contra a gravidade; ele consegue flexionar e estender melhor a perna, por exemplo. A função pulmonar também melhora [minimiza riscos de pneumonia e infecção no órgão], pois ele se desencosta da cama”, enumera.
O foco nas necessidades expressas pelas famílias dos pacientes foi determinante para a iniciativa de criação das cadeiras, conta a fisioterapeuta. “Quando o paciente sofre um AVC ou tem algum problema neurológico que o deixa acamado, a família tem uma preocupação de não conseguir cuidar. E quando a gente senta o paciente, orienta, mostra que ele tem possibilidade de melhorar, a família vê com outros olhos. A gente percebe que eles já querem levar [a cadeira] para casa”, relata.
Atualmente, existem na unidade hospitalar duas cadeiras frutos da iniciativa: a de PVC e a de alumínio. Aprovadas pela CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), são higienizadas a cada uso. Em outubro de 2020, a fisioterapeuta fez uma proposta para a instituição solicitando a compra de material para a manufatura de dez cadeiras de alumínio. Elas seriam serradas e montadas pelo professor Shimano e equipe. Inicialmente a sugestão foi aprovada, porém está em trâmite para efetivação. A intenção do grupo é ofertá-las para mais dez setores do HC-UFTM.
O preço do material da cadeira é estimado em R$ 366. A mão de obra está sob a responsabilidade do professor Marcos Shimano. "Nossa intenção é ajudar o paciente. Então reunimos pessoas e estamos tentando fazer uma boa ação”, justifica Rodrigues. Eles pretendem lançar até o fim de 2021 uma cartilha explicativa voltada para a montagem da cadeira de PVC e a de alumínio, que será distribuída para os acompanhantes na alta do paciente, dando-lhes a opção de ter o produto em casa.
Unidade de Comunicação HC-UFTM