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AMEAÇA GLOBAL
Uso racional de antibióticos é uma das medidas para combater resistência antimicrobiana
Brasília (DF) - A resistência antimicrobiana (RAM) coloca em risco tratamentos médicos eficazes e aumenta a mortalidade global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso inadequado de antibióticos e outros antimicrobianos tem acelerado o processo de resistência, resultando em infecções difíceis de tratar e, frequentemente, fatais.
Em todo o planeta, ela é a causa de, aproximadamente, 1,3 milhão de mortes anuais atribuíveis e até 5 milhões de óbitos associados a infecções resistentes. Para reverter esse cenário, é fundamental o uso consciente de antibióticos. Por isso, entre 18 e 24 deste mês, durante a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM, hospitais ligados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) intensificam as ações de conscientização e prevenção, promovendo a educação sobre o consumo responsável desses medicamentos.
No Hospital Universitário da Grande Dourados (HU-UFGD), em Mato Grosso do Sul (MS), a abordagem ao combate à RAM é baseada em um sistema que integra profissionais de diversas áreas da saúde. A implementação do Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos (PGA) em 2023 representou um avanço para o controle do uso de antibióticos. A infectologista, Andyane Tetila, explicou que a conscientização dos profissionais é indispensável nesta mobilização. “Cada prescrição deve ser feita com cuidado e conhecimento das melhores evidências científicas, assim como as orientações de consumo devem ser seguidas à risca”, afirmou.
Segundo Tetila, um dos maiores desafios no HU-UFGD é educar os profissionais, especialmente em um hospital universitário com grande fluxo de estudantes e acadêmicos. “A conscientização contínua é essencial. O PGA tem sido uma excelente ferramenta para integrar as equipes médicas e farmacêuticas. Essa colaboração garante que as melhores práticas sejam seguidas, tanto no tratamento quanto na prevenção”, ressaltou.
Farmácia no combate à RAM
O Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA), em Salvador (BA), tem adotado medidas eficazes com destaque para a atuação dos farmacêuticos clínicos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Fernando Novais, farmacêutico e membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), enfatizou que a farmácia clínica tem um papel estratégico na educação dos profissionais de saúde. “Temos farmacêuticos clínicos que participam das visitas diárias à beira-leito, orientando médicos, enfermeiros e outros profissionais sobre as melhores práticas terapêuticas”, disse.
Novais destacou, ainda, que a utilização de antibióticos de amplo espectro (eficazes contra muitos tipos de bactérias) tem sido um dos maiores desafios no Hupes. “A nossa equipe trabalha para evitar o uso excessivo desses tipos de medicamentos, promovendo terapias mais direcionadas, de acordo com as infecções identificadas”, relatou. “A criação de equipes de stewardship (administração) nas UTIs tem ajudado a reduzir o uso de medicamentos como os carbapenêmicos, que são importantes, mas devem ser usados com muito critério”, complementou.
Iniciativa inovadora
Criado em 2015, o Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM), que funciona no Hospital da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf), em Petrolina (PE) também se destaca no enfrentamento ao problema. Coordenadora do projeto, a farmacêutica Isabel Pio detalhou que a iniciativa tem se dedicado à promoção de informações acessíveis sobre o uso seguro de antibióticos. “Nosso trabalho é fornecer conteúdos relevantes sobre como os pacientes devem utilizar os medicamentos corretamente. Afinal, a resistência antimicrobiana é um problema da sociedade em geral”, comentou.
Além de fornecer instruções sobre a dosagem e o armazenamento adequado dos antibióticos, o CIM trabalha com tecnologias assistivas para garantir que o conteúdo informativo chegue a todos, incluindo pessoas surdas, analfabetas ou com baixa escolaridade. Isabel reforçou que, apesar dos esforços para educar a população, ainda há resistência ao cumprimento das orientações. “Muita gente não percebe o impacto do uso inadequado de antibióticos, mas é essencial que a sociedade compreenda que isso afeta diretamente a saúde e a efetividade dos tratamentos futuros”, alertou.
Destaque internacional
O projeto de prevenção à disseminação de microrganismos multirresistentes no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) é uma das duas iniciativas no Brasil selecionadas pela Anvisa e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo da ação é servir como modelo para outras instituições de saúde do país, promovendo melhores práticas no manejo e controle de infecções hospitalares, especialmente nas UTIs.
A enfermeira Aline Bergamini é integrante da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HC e do projeto iniciado em 2023. Segundo ela, o foco é aprimorar o cumprimento das precauções de contato e a vigilância microbiológica. Os resultados preliminares apontam fragilidades na adesão à higienização das mãos, um dos principais focos da intervenção. "Ainda há dúvidas em alguns profissionais. Estamos trabalhando para intensificar as campanhas educativas e as simulações realísticas para melhorar a adesão a essas medidas", informou.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por George Miranda, com revisão de Danielle Morais.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh
Tags: Ebserh; SUS; saúde pública, resistência antimicrobiana; uso racional de antibióticos; HU-UFGD; Hupes-UFBA; HU-Univasf; HC-UFMG
Legenda da foto I: Ebserh realiza ações com foco nos pacientes e profissionais de saúde
Legenda da foto II: RAM é a causa de, aproximadamente, 1,3 milhão de mortes por ano em todo o planeta