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Faculdade de Medicina inova com marcador PET CT para diagnóstico do câncer de mama
A Faculdade de Medicina da UFMG, através do Centro de Tecnologia e Medicina Molecular (CTMM), é a primeira instituição brasileira a usar o marcador 18F-FES nos exames Pet Scan (PET CT) para rastreio do câncer de mama. A partir desta terça-feira, 26 de outubro de 2021, pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG poderão ter acesso, de forma inédita, a um diagnóstico por imagem mais aprimorado, ao mesmo tempo em que contribuem com o objetivo da Instituição em avaliar o uso do novo marcador na população brasileira, se somando as pesquisas internacionais.
O professor Marco Romano-Silva, chefe do Departamento de Saúde Mental da Faculdade e coordenador do CTMM, explica que o exame PET, até o momento realizado com o marcador 18F-FDG, já tem benefícios importantes como identificar os locais de lesão do câncer de mama e acompanhar o tratamento. “A partir do momento que a paciente começa a quimioterapia, por exemplo, o exame identifica se está fazendo efeito ou não em um intervalo muito curto de tempo, já que consegue identificar a diminuição do metabolismo do tumor, mesmo que não tenha diminuído o tamanho”, informa. “Dessa forma, o PET acrescenta no estadiamento das pacientes, tanto no estabelecimento de metástase, onde estão, quanto no acompanhamento das respostas do tratamento”, continua.
Mas, de acordo com ele, os exames PET Scan podem ser ainda mais proveitosos, uma vez que o 18F-FES é mais específico para rastreio do câncer de mama. “O FDG capta muito pouco em alguns tipos de câncer de mama, por exemplo, quando o crescimento é mais lento. Já o novo marcador consegue identificar até esses. As células tumorais que gastam muita energia captam muita glicose e o FDG consegue identificar essa captação de um metabolismo acelerado, mas o 18F-FES consegue detectar mesmo os tumores pequenos e com metabolismo baixo”, pontua.
Pesquisa associada ao uso clínico
O coordenador do CTMM conta que o projeto de pesquisa para caracterizar o uso do 18F-FES na população brasileira foi escrito quando ainda não havia aprovação da Anvisa para o uso clínico do marcador, ainda que já fosse usado em outros lugares no mundo. Mas, durante esse processo o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) da CNEN, conseguiu aprovação da Agência, a partir da flexibilização do registro de radiofármacos no país, permitindo que o estudo seja desenvolvido ao memo tempo em que realizam o uso clínico. Dessa forma, os dois Centros atuam como parceiros nesta pesquisa: um produz o marcador e o outro realiza a aplicação em pacientes com câncer de mama, que tenham indicação médica para seu uso.
“É um marco muito importante, ao mesmo tempo em que mostramos que faz diferença o uso desse marcador, sermos os primeiros a oferecê-lo. Isso faz parte da nossa missão como instituição pública”, ressalta Marco Romano. “Como ainda não temos dados do uso desse marcador na nossa população, esse é outro fator importante. Também do ponto de vista de pesquisa internacional, já que quanto mais replicação de estudos existirem, melhor será para validar esse método, para se ter ideia das especificidades, se realmente é eficaz ao que se propõe”, completa.
De acordo com o professor, caso seja constatado que o uso do 18F-FES tem benefícios superiores ao marcador tradicional, na população brasileira, ele pode ser, inclusive, incorporado no SUS. Poderá gerar economia ao sistema de saúde com diagnósticos mais precisos e economia no acompanhamento do tratamento, já que possibilitaria verificar se está ocorrendo o resultado ou não e modificar a estratégia terapêutica, caso necessário.
“Assim esse projeto serve para elucidar à população brasileira, produzir dados de replicação do uso, como já existe em outros países, para mostrar ao Ministério da Saúde que vale a pena em questão de custo, bem como poder melhorar a qualidade de vida das pacientes. Além disso, as mulheres que participam do estudo contribuem com a pesquisa, mas também se beneficiam com um melhor acompanhamento”, afirma.
Como esse novo marcador tem uma afinidade para receptores do hormônio estrogênio, sua aplicação traz benefícios especificamente para as mulheres com câncer de mama que expressam receptores hormonais. Por isso, inclusive, a necessidade de uma avaliação e indicação médica para a realização do exame. “O 18F-FES também é muito importante ao permitir identificar metástases, o que talvez não seria possível com o marcador FDG, que será usado durante o estudo para efeito de comparação”, comenta Romano.
“O que a gente espera é que, do ponto de vista prático, esse novo radiofármaco tenha uma ampla utilização. Buscamos verificar se um novo produto traz menos efeitos colaterais, ou seja, se é superior do ponto de vista da efetividade e eficácia, além de ser menos agressivo e trazer menos repercussão do ponto de vista dos efeitos colaterais”, acrescenta o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina, Clécio Ênio de Lucena, também coordenador Setor de Mastologia do HC, unidade responsável pela indicação das participantes na pesquisa.
Como vai funcionar
Romano conta que a prioridade de atendimento do CTMM é o SUS, por isso neste momento serão as pacientes do Hospital das Clínicas da UFMG quem terão a oportunidade do exame de rastreio do câncer de mama usando o 18F-FES. Para participar é necessário ter o encaminhamento e pedido médico do Setor de Mastologia do HC e preencher alguns critérios.
Critérios de inclusão para participação:
– Biópsia prévia com diagnóstico de câncer de mama
– Exame de Imunohistoquímica compatível com tumor Luminal: receptor estrógeno positivo
– Estádio clínico IIB ou mais avançado
-Concordância em participar do estudo
-Diagnóstico de câncer de mama atual e prévio (seguimento clínico no Setor de Mastologia do HC)
*Todos os critérios serão informados pela equipe responsável antes da indicação médica de realização do exame PET CT com o marcador 18F-FES
O Centro de Tecnologia e Medicina Molecular continuará oferecendo os exames de rastreio com o FDG. Caso haja interesse de instituições particulares em exames PET Scan com algum dos marcadores é necessário entrar em contato com a equipe do CTMM pelo imagemolecular@gmail.com.
“Desde 2010, quando o PET foi instalado na Faculdade, a gente trabalha para oferecer mais marcadores além do FDG. Mas as coisas demoram um tempo para acontecer. Isso significa que os avanços demandam tempo e investimento”, lembra o professor Marco Romano-Silva. “Tivemos um investimento grande do Ministério da Ciência e Tecnologia, do CNPq, Capes e da Fapemig, órgãos que hoje estão sendo sufocados com o atual corte gigantesco de verba, o que afeta programas como esse, que geram benefícios diretos para a população e se originaram da pesquisa”, completa.
A importância do PET CT para o câncer de mama
Neste ano a campanha Outubro Rosa chama a atenção para o impacto da pandemia na redução das buscas pelas consultas médicas ou dos exames que permitem a investigação e tratamento do câncer de mama. “O resultado de tudo isso é que, cada vez mais, nós começaremos a encontrar casos mais avançados de câncer de mama em decorrência de tudo que aconteceu nesses praticamente dois anos de pandemia”, afirma o professor Clécio Lucena.
Ele comenta que também se observa o aumento da sobrevida das mulheres vítimas do câncer de mama ao longo das décadas e isso se deve tanto ao maior acesso da população, do ponto de vista global, a melhoria dos tratamentos, da medicação, dos procedimentos cirúrgicos que são ofertados quanto aos programas de rastreamento. “Mas é claro que tudo está atrelado a questão do diagnóstico, principalmente no diagnóstico precoce, já que quanto mais cedo for diagnosticada, maiores são as chances de cura e menor a agressividade do tratamento”, reforça.
“Então quando se fala de prevenção é preciso entender que existem níveis de prevenção para as doenças como um todo”, lembra o professor. A prevenção primária utiliza estratégias para evitar que a pessoa desenvolva determinada doença. Mas como o câncer de mama é multifatorial, não há como saber exatamente o que a causa e como afirmar que determina medida preventiva primária vai impedir o seu desenvolvimento.
De acordo com o Clécio Lucena, de maneira geral, combater o sedentarismo, realizar atividades físicas, diminuir o consumo de álcool, iniciar a vida reprodutiva mais cedo, principalmente antes dos 30 anos, realizar a amamentação efetiva e prolongada são algumas medidas que ajudam na prevenção ao câncer de mama.
“Por isso, com câncer de mama usamos o que chamamos de prevenção secundária, com estratégias para identificar a doença precocemente e, a partir disso, ter o benefício do aumento da chance de cura e aumento da sobrevida. Um método eficaz e que se mostra realmente efetivo na redução da mortalidade é a mamografia”, aponta o professor. De acordo com ele, em termos de saúde pública a mamografia deve ser feita dos 50 aos 69 anos a cada dois anos, mas do ponto de vista das entidades médicas o melhor é fazer o exame anualmente a partir dos 40 anos até a idade de sobrevida das mulheres.
Para mulheres com mutações genéticas associadas ao câncer de mama a recomendação é diferente, usando a mamografia e outras estratégias. Além disso, o professor explica que há outros grupos em que se estabelece estratégias específicas de rastreamento precoce da doença como história familiar de parente de primeiro grau que já teve câncer de mama, de ovário, intestino ou sarcomas, por exemplo, em que se pode antecipar o início da realização da monografia, além de outras recomendações a partir da estratificação de risco.
Em relação ao PET CT, Clécio informa que o exame de imagem tem como finalidade não fazer a prevenção do câncer de mama, mas o melhor planejamento do tratamento da doença numa fase mais tardia ou mais avançada. “O grande benefício do PET é identificar locais da metástase da doença em outros órgãos. É um exame mais completo que, de uma maneira unificada, consegue mapear o corpo como um todo, com a única limitação do sistema nervoso central, já que não captura muito bem as imagens de metástases cerebrais. Ou seja, seu benefício de diagnóstico precoce é para metástase, não da doença em si”, explica.
Redação: Luna Normand, jornalista