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SÉRIE CONVIVENDO COM O HIV/AIDS
Hospitais da Ebserh tiveram pioneirismo marcante em diagnóstico e tratamento de HIV/Aids
O Dia Internacional da Luta Contra a Aids, comemorado em 1 de dezembro, une forças no enfrentamento da doença em escala global.
Brasília (DF) – O Brasil virou uma referência no tratamento HIV/Aids. Os hospitais universitários federais tiveram papel preponderante na fase inicial da doença e até hoje são essenciais para o tratamento e controle de pacientes com HIV e para realização de pesquisas relacionadas ao vírus. Por isso, esta nova série especial de reportagens, “Convivendo com o HIV/Aids”, aborda o cenário no tratamento em hospitais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), do pioneirismo às perspectivas de futuro.
Uma luz em meio ao medo
Nos anos 80 e 90, a epidemia de Aids – doença causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana (HIV) - assombrou o mundo ao causar milhões de mortes. Não havia tratamento eficaz nem perspectivas de esperança para quem fosse contaminado com vírus HIV. Com o crescimento descontrolado da infecção, em 1987, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional da Luta Contra a Aids, comemorado em 1 de dezembro, para unir forças no enfrentamento da doença em escala global.
A adoção de políticas voltadas para a epidemia aconteceu enquanto o país vivia a redemocratização, os debates para Constituição Federal de 1988 e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990.
Betinho foi tratado no HUCFF-UFRJ
Vários hospitais federais passaram a cuidar de pacientes com HIV. O Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) e atualmente administrado pela Ebserh, foi um deles. Na década de 1980, o hospital reservou uma ala no quinto andar do prédio só para esse atendimento. O HUCFF contou com vários expoentes, entre eles, o professor e médico Walber Vieira, que se engajou firmemente no combate à infecção por HIV/Aids e atuou como médico responsável pelo tratamento do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Outro nome importante é o do professor e médico Mauro Schechter, um dos maiores estudiosos de HIV e antirretrovirais.
“O hospital assumiu uma dianteira não só no Rio, mas no Brasil, como referência para a terapia de HIV”, conta a infectologista da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HUCFF, Erika Ferraz de Gouvea. “O HU era onde se conseguia assistência. Então, pacientes de várias classes sociais eram encaminhados para cá, tanto para fazer diagnóstico, que no início era difícil, como para se tratar”, explica.
O principal medicamento à época era o AZT (zidovudina), que ampliava a sobrevida do paciente, mas o vírus rapidamente ficava resistente. Em meados dos anos 90, surgiu um novo tratamento que consistia no uso associado de várias drogas, daí o nome de “coquetel”. Eram drogas com muitos efeitos colaterais. O paciente ficava com um aspecto específico, que fortalecia o estigma.
“O paciente de HIV era aquele sujeito muito magrinho, de cílios longos, unhas escuras, quase sem bochechas, com braços e pernas finas. Hoje em dia, não se vê mais isso. O tratamento melhorou muito e o HIV não define mais a pessoa. O que temos são pessoas vivendo com o HIV, e podendo ter uma vida feliz”, assegura Erika.
HC-UFMG foi o primeiro a ofertar antirretrovirais em Minas Gerais
Para o infectologista da Unidade de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/Ebserh), Mateus Westin, o Brasil continua sendo referência no tratamento de pessoas vivendo com HIV/AIDS. “Temos um pioneirismo histórico por sermos um grande país que passou a oferecer o tratamento antirretroviral de forma universal, incluindo ainda o fato de que a rede de atenção foi estruturada com ampla participação da sociedade civil, que também fez parte em da construção do SUS”, defende.
Do ponto de vista ambulatorial, o HC-UFMG tem o Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas Parasitárias Orestes Diniz, que funciona em cogestão com a prefeitura de Belo Horizonte. Foi o primeiro ambulatório em Minas Gerais a ofertar antirretrovirais e os cuidados para pessoas vivendo com HIV na década de 1980. “A gente sempre teve um papel de protagonismo nessa ideia de atenção multidisciplinar e de integração do hospital universitário com a rede municipal de saúde, inclusive na gestão do serviço”, explica Mateus.
HU-Furg atende pacientes de 21 municípios do Rio Grande do Sul
Em 1985, o Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg/Ebserh), fez seu primeiro diagnóstico, tendo sido um dos pioneiros no Estado a atender pacientes que vivem com a infecção pelo HIV. “O serviço de atendimento especializado em Infectologia recebe pacientes de 21 municípios do extremo sul do Rio Grande do Sul. É um atendimento multidisciplinar com infectologistas, infecto-pediatras, educadores físicos, psicólogos, nutricionistas, nefrologistas, cardiologistas, pneumologistas e neurologistas, para o cuidado de pessoas vivendo com HIV, incluindo gestantes”, informa a médica infectologista da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HU-Furg, Rossana Basso.
Mais da metade dos exames de carga viral do estado da Bahia são feitos no Hupes
O Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh), tem um serviço especializado no atendimento AIDS desde o início da epidemia, na década de 80. Atualmente, atende de 4.000 a 4.500 pacientes nos ambulatórios, além da enfermaria que cuida dos pacientes mais graves internados.
“Além da linha de cuidado, o hospital conta com o laboratório de referência do Ministério da Saúde, desde o início da pandemia. Então, nós efetuamos mais da metade dos exames de carga viral e outros exames de apoio a diagnóstico dos pacientes não só do hospital, mas do estado inteiro da Bahia”, ressalta o professor da UFBA e coordenador do Laboratório de Infectologia do Hupes, Carlos Brites.
Paciente trata-se no HUCFF-UFRJ desde a década de 1990
Aos 22 anos, X recebeu o duro diagnóstico de contaminação por HIV. “Eu não aceitava quando os médicos diziam que não tinha jeito, que em seis meses eu poderia não estar mais aqui. Fiquei revoltada”, diz X, que prefere não ser identificada para evitar discriminação. Desde 1992, ela passou a se tratar no HUCFF e vivenciou o estágio inicial do HIV/Aids, quando ainda se sabia muito pouco a respeito da infecção. “Éramos analisados da unha do pé até cabeça. Era uma novidade para os médicos também”, diz.
“Aí comecei a tomar o AZT, que dava uma reação horrorosa. Era uma prostração, vontade de vomitar, dor no estômago... Eu parei várias vezes. Ainda bem que passou essa fase e a gente não sente nada com os remédios de hoje”, lembra, aliviada. Há mais de 20 anos, X tem carga viral indetectável, o que significa dizer que o vírus é intransmissível. Aos 54 anos, X se preocupa em viver e está fazendo um curso para ser instrumentadora cirúrgica porque quer atuar na área de saúde.
“Venho ao hospital de seis em seis meses só para acompanhamento e controle mesmo. Tomo a medicação corretamente, faço exercícios e levo uma vida normal. Eu passei por uma metamorfose, estou bem e estudando para entrar na área da saúde porque quero ajudar outras pessoas”, arremata.
Indetectável é o mesmo que intransmissível, segundo a UNAIDS
Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), “indetectável = intransmissível”. Isso significa que quando uma pessoa vivendo com HIV alcança a carga viral indetectável, o vírus deixa de ser transmitido em relações sexuais. Deixar a carga viral indetectável é uma das metas do tratamento.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação de Claudia Holanda, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh