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NOVEMBRO NEGRO
Hupes-UFBA/Ebserh promove simpósio sobre práticas assistenciais para saúde mental da população negra no SUS
Salvador (BA) – O II Simpósio Multiprofissional da Unidade de Saúde Mental do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA/Ebserh) aconteceu nesta terça-feira, 05, com a temática "Saúde mental no SUS: desafios no cuidado da população negra". O evento promoveu debates e reflexões relacionando práticas assistenciais ao contexto sociopolítico da Bahia. A população do estado é composta por mais de 80% de pessoas negras - dados do IBGE referente ao censo 2022 -, sendo a maior do Brasil.
O evento faz parte da celebração do “Novembro Negro”, no qual se comemora o Dia da Consciência Negra, cuja data é lembrada no dia 20. A escolha do tema do simpósio buscou discutir a defesa de uma prática antirracista e os desafios à construção de linhas de cuidado com oferta de assistência às pessoas com sofrimentos causados por discriminações que se interconectam e se reforçam mutuamente.
O superintendente do Hupes-UFBA, Valber Menezes, participou da abertura do evento e destacou que o hospital precisa participar das discussões que envolvem a saúde mental da população negra. “O Hupes é um aparelho de grande impacto no atendimento da população baiana, que tem a maior população negra do país. O SUS com todo o seu poder tem criado estratégias para ter uma atenção à especial a essa população”, afirmou.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra contempla em suas estratégias o fortalecimento da atenção à saúde mental de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos negros/as. O documento busca prevenir os agravos decorrentes dos efeitos do racismo estrutural e seus impactos na saúde física e mental da população negra.
Entender o racismo como adoecimento
O antropólogo e sanitarista, Altair Lira, que proferiu a palestra “Por que discutir sobre a população negra na Bahia?” destaca que é essencial que os hospitais públicos
funcionem como núcleos de aprendizado e transformação. “É necessário que o enfrentamento ao racismo se torne parte da cultura organizacional do hospital. Isso não só melhora o ambiente para todos, mas também enriquece a formação dos profissionais de saúde. A educação permanente é um caminho fundamental para garantir que todos estejam sempre atualizados e sensíveis às questões sociais que impactam a saúde mental”, disse.
A psicóloga e pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA), Ana Luísa Dias, que apresentou a conferência “Racismo, interseccionalidade e saúde mental: desafios atuais da atenção psicossocial”, comentou que o simpósio tem uma conexão direta com o reconhecimento do racismo como fator central na criação de condições desiguais. “É importante que a gente leve em consideração que o racismo coloca as pessoas em situações diferentes de viver, de se relacionar com o mundo e traz um peso no cotidiano de pessoas negras. Essa diferença delineia barreiras invisíveis e o grande desafio quando falamos de saúde mental é promover a quebra dessas barreiras”, afirmou.
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
O índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros no Brasil é 45% maior do que entre brancos. Os dados são do Ministério da Saúde e mostram ainda que o risco aumentou 12% entre a população negra nos últimos anos e permaneceu estável entre brancos.
De acordo com o texto da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: “racismo causa impactos danosos que afetam significativamente os níveis psicológicos e psicossociais de qualquer pessoa. A prática do racismo e da discriminação racial é uma violação de direitos, condenável em todos os países. No Brasil, é um crime inafiançável, previsto em lei”.
O texto do documento ainda destaca que “os impactos do racismo geram efeitos que incidem diretamente no comportamento das pessoas negras que normalmente estão associados à humilhação racial e à negação de si, podendo levar a diversas consequências inclusive às práticas de suicídio”.
O evento
O simpósio contou com mesas redondas e conferências, submissões de trabalhos científicos e relatos de experiências, além de apresentações culturais, utilizando outras linguagens para o aprofundamento do debate.
Durante a programação, além das já citadas, aconteceram também as seguintes reflexões: Violência e necropolítica: a construção de caminhos de resistência à política de mortes; Desafios da saúde mental na intersecção de gênero, raça e classe: o cuidado de mulheres negras e a defesa de práticas antirracistas no SUS; impactos do racismo na saúde mental de crianças e adolescentes negros; Promoção em Saúde mental da população negra: direito e arte para aquilombar no cuidado.
O vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Penildon Silva Filho, afirmou a UFBA deu uma grande contribuição ao Novembro Negro com a realização do evento. “Os serviços de saúde precisam aprender a lidar com as especificidades de cada população. Dentro do contexto da Bahia nada mais justo que o Hupes, a UFBA e o SUS se debrucem sobre como atender de forma efetiva a população negra”, comentou.
Sobre a Ebserh
O Hupes-UFBA faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Luiz Carlos Lima, com revisão de Danielle Morais
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh