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Inovação
Hupes conduz pesquisa com técnica inovadora de cirurgia afirmativa de gênero
Foto: Freepik.
O Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), da Universidade Federal da Bahia e vinculado à Rede Ebserh (UFBA/Ebserh), realiza uma pesquisa sobre a técnica TCM (Total Corporal Mobilization ou Mobilização Total dos Corpos Cavernosos), procedimento que maximiza os benefícios da metoidioplastia, cirurgia que permite a construção do falo no homem trans.
Segundo Ubirajara Barroso, urologista do hospital que coordena a pesquisa, a técnica é uma metoidioplastia avançada porque permite a construção de um falo maior. “O principal avanço dessa técnica é que, para quem tem uma extensão peniana muito pequena que impossibilite a penetração, como nos casos de amputação cirúrgica ou traumática, de micropênis e de homens trans, ela permite que se adquira um tamanho de falo maior do que as outras técnicas, bem como a possibilidade de ereção, masturbação e penetração na maior parte das vezes”, explica Barroso.
A técnica, que já havia sido empregada em casos de micropênis e amputação pela equipe do urologista, foi feita pela primeira vez em um homem trans no dia 27 de maio. O procedimento, a primeira cirurgia genital afirmativa de gênero feita pelo SUS na Bahia segundo Barroso, foi bem-sucedido.
Agora, o paciente, um jovem de 27 anos, aguarda a segunda fase do processo, a qual deve ocorrer cerca de seis meses após a cirurgia que construiu o falo. Nesta segunda fase, será feito um procedimento cirúrgico para que o paciente possa urinar em pé.
A cirurgia ocorreu em caráter experimental e faz parte da pesquisa “ Metoidioplastia com mobilização dos corpos cavernosos para homens transexuais”, aprovada em 13 de agosto de 2021 e em desenvolvimento no Hupes.
Cirurgia de redesignação sexual
De acordo com Barroso, cerca de 40% dos homens trans, pessoas designadas ao nascer como pertencentes ao sexo feminino, mas que se identificam com o gênero masculino, procuram a cirurgia para fazer a adequação dos órgãos genitais.
O clitóris tem a mesma anatomia do pênis. Na metoidioplastia, ele é desprendido do púbis, que é um osso da bacia. A uretra é construída com tecido da face interna da boca. O saco escrotal, por sua vez, é feito com os grandes lábios e com próteses de silicone.
Atualmente, esse é o procedimento mais comum realizado no Brasil. Além dele, há a faloplastia, técnica que permite a construção de um pênis maior, já que utiliza a pele de outros locais do corpo, como a coxa ou o antebraço. Entretanto, ela é mais cara e complexa. Por isso, é pouco usual no país. Além disso, segundo Barroso, a faloplastia não permite a ereção (é preciso a colocação de prótese para a penetração), e a sensibilidade da região é menor.
Pelo SUS, os hospitais credenciados para cirurgia de redesignação sexual são os hospitais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). No Hupes, a cirurgia ocorrida no dia 27 de maio teve caráter experimental.
Ambulatório
O Hupes conta com um ambulatório especificamente voltado para a população trans. Nele, pessoas interessadas em fazer a transição de gênero recebem acompanhamento social, psicológico e clínico.
Para solicitar o acompanhamento, a pessoa deve procurar o serviço localizado no Ambulatório Magalhães Neto (AMN), no qual são distribuídas, por semana, cinco vagas destinadas à área de enfermagem. Após feita uma avaliação inicial pela enfermeira, o paciente é encaminhado ao psicólogo e ao endocrinologista.
O psicólogo vai avaliar se o paciente está apto para a transição. O endocrinologista, por sua vez, é responsável por prescrever a terapia hormonal que ajudará no processo. O acompanhamento desse profissional é um dos requisitos para a realização da cirurgia.
Luciana Oliveira, endocrinologista do ambulatório, reforça que nem todos os pacientes desejam a operação. Segundo ela, cada vez mais as pessoas entendem que a identidade de gênero não está intrinsecamente ligada ao órgão sexual. “Os ativistas têm feito um trabalho muito bom no sentido de fazer as pessoas entenderem que a identidade de gênero vai além da genitália”, afirma.
“Algumas mulheres trans entendem que são mulheres, têm pênis e podem inclusive usá-los sexualmente sem que isso as torne menos mulheres. Da mesma maneira, os homens trans podem gestar e isso não faz deles menos homens”, reforça.