Relatos e Historias
"Quanto ao que é mais gratificante, com certeza, é ver os alunos brilharem e terem sucesso, pois se mede um professor pelos resultados dos seus alunos!"
Quando criança, acompanhei o diagnóstico e processo de perda total da visão do meu avô paterno por uma doença ocular. Passei a conviver com ele totalmente cego até o final da sua vida, por uma doença irreversível e hereditária. Ao saber que “hereditário” significava que passava de pai para filho, logo percebi que meu pai, eu e meus descendentes poderiam ser acometidos pelo mesmo mal. Diante disso, aos 10 anos, coloquei como propósito de vida estudar Medicina, para tentar encontrar a cura daquela doença silenciosa e nefasta que retirava a luz dos olhos sem causar sintomas!
Entrei na Faculdade de Medicina da UFRN após muita luta e logo percebi minha impotência em achar a cura para aquela doença, o glaucoma. Porém, será que algo poderia ser feito para outros tipos de cegueira? Sabendo que o homem foi à Lua com um “computador” com processamento infinitamente inferior aos celulares comuns, por que não utilizá-los para o combate à cegueira? Assim, criamos uma empresa com a missão de desenvolver dispositivos móveis de baixo custo e alta acessibilidade, capaz de diagnosticar doenças preveníveis. Estes equipamentos funcionam como ferramentas importantes de triagem em massa e contribuem para a criação de banco de dados, que auxiliam no estabelecimento de estratégias de saúde. O objetivo é fazer com que a Medicina ultrapasse os limites dos consultórios, hospitais e outras unidades de saúde, alcançando qualquer indivíduo através de dispositivos móveis conectados a uma central diagnóstica.
O que mais me fascina na profissão de médico é proporcionar o que há de mais sublime: a manutenção da vida!
Relação professor-aluno
A minha relação é típica de um professor da geração X e alunos, na sua grande maioria, da geração Y: um constante alinhamento de pensamentos, em que tento transmitir a experiência de quem já passou por tudo que eles estão passando – tudo mesmo! Desde dificuldades financeiras, incertezas para com o futuro, etc. Costumo tentar fazer com que eles vejam o mundo com outros olhos, pois o profissional do futuro, e não só o médico, deverá saber solucionar problemas. O acúmulo de conhecimentos, em breve, já não será mais um problema; porém a necessidade de experiências, que encurte a busca pelo o conhecimento, essa sim será preciosa! Uma das frases mais chocantes dos últimos tempos foi: “o profissional que for substituído pela tecnologia, merece!”. Parece chocante, mas entendo que o autor quis chamar a atenção da necessidade de sairmos da nossa inércia psicológica e inovarmos em tudo!
Quanto ao que é mais gratificante, com certeza, é ver os alunos brilharem e terem sucesso, pois se mede um professor pelos resultados dos seus alunos!
Perspectiva ensino e pesquisa no Brasil
Acho que muita coisa deve ser mudada e com urgência! A velocidade do ensino deverá ser mais célere e efetiva no mundo supersônico, no qual vivemos. Devemos capacitar nossos alunos para resolverem problemas e criarem seus próprios empregos: formar empregadores e não empregados! Precisamos focar em pesquisas que efetivamente tragam melhorias à sociedade, sem esquecer das ciências básicas.
O caminho é a inovação! O mundo não permite mais que a Medicina permaneça enclausurada dentro de hospitais, clínicas e consultórios! Ela terá que ultrapassar esses limites e chegar ao cidadão comum! Não tenham medo de fazer o diferente, sejam inquietos, não se habituem ao que é dito como normal. Não se preocupem se lhe chamarem de louco por pensar coisas absurdas – passem a se preocupar quando tudo parecer normal!
Francisco Irochima Pinheiro - Professor Adjunto da Disciplina de Oftalmologia do Departamento de Cirurgia