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EU VENCI A COVID-19!
"Espero em Deus que a cura chegue o mais rápido possível"
“Viva como se o amanhã não fosse existir. Faça o bem hoje, ligue hoje e ame hoje. Posso começar dizendo que passei pelo vale do medo, pois a palavra é esta: medo. Tenho 15 anos de experiência em UTI [Unidade de Terapia Intensiva] como técnica em enfermagem e digo que nunca vi algo me abalar tanto como esse vírus. Foi medo ao extremo. Tudo começou no fim de abril, quando amanheci, um dia, com leve coriza. Não era alarmante. Nos dias seguintes, surgiu um pigarro na garganta e uma tosse seca leve, que me fez lembrar uma tosse alérgica, e a coriza cessou. No dia 2 de maio, amanheci cansada e ofegante, mas rezando a Deus que fosse apenas uma gripe. Naquela manhã, recebi a ligação da minha amiga Vanessa, quem percebeu que eu estava ‘cansando’. Ela me disse: ‘amiga, vá ver isso. Uma amiga disse ter apenas dor de cabeça e estava com Covid-19’. Eu lhe disse que iria esperar um pouco mais, pois só gosto de hospital para trabalhar. À tarde, o cansaço não passou e me veio o gatilho: será que estou com Covid-19? Dirigi-me à urgência de um hospital, onde fui consultada. Estava apresentando sibilo à ausculta pulmonar, dispneia e tosse seca. Fui encaminhada à tomografia e aos exames laboratoriais. Medicada, fui liberada algumas horas mais tarde para o isolamento domiciliar, enquanto aguardaria o resultado do exame PCR para Covid-19. No dia 6 de maio, o resultado deu positivo. Ao receber a notícia, a minha cabeça deu um giro e respirei fundo. As mãos estavam trêmulas por causa da crise de ansiedade—que não ajuda muito. Sei que temos que tentar ter o controle para não surtarmos pelo medo de piorar. Nesses dias, eu já estava com fortes dores. Foram 14 dias de incertezas. Nós, da área da saúde, devemos ser os piores pacientes, pois sabemos para o que pode evoluir a doença. Entrei em pânico. Se eu morrer, como os meus filhos vão ficar? E o meu esposo? Foram dias de muita cefaleia, muita dor no corpo. Já tive dengue e digo que [a Covid-19] é três vezes pior. Não conseguia pentear os cabelos com tanta dor. Isso sem falar da dispneia, que, algumas vezes, fez com que eu usasse a bombinha para respirar melhor. A Covid-19 mexe com toda a sua estrutura física e psicológica. Mesmo após os 14 dias [de isolamento], fiquei três semanas com cansaço diante do esforço e do falar, além da coriza. A cefaleia continua. Tive auxílio do pneumologista e vou passar pela avaliação do neurologista, devido à cefaleia intensa pós-Covid. Estou em tratamento psiquiátrico e psicológico, porque sinto taquicardia e medo ao extremo só de falar no assunto. Mas sei que vou superar. De qualquer forma, existe um lado bom nesses 14 dias. Posso dizer que comecei a ver o mundo de forma diferente. Como? Passei a dar valor ao agora, ao estar junto, ao se declarar para quem amamos agora. Temos de olhar para dentro de nós e fazermos algumas perguntas, pois a correria do dia a dia, às vezes, não nos permite. Mandar aquela mensagem para aquele amigo que não vemos há muito tempo. Receber o carinho dos filhos e dos nossos pacientes que cuidamos e de quem, naquele momento, precisei dos cuidados por meio de mensagens de ânimo e orações. Receber o carinho e o alento dos familiares. A minha irmã, que é acamada e tem inúmeros problemas de saúde, ligou e, chorando, pedia a Deus que essa enfermidade fosse para ela e não para mim. Receber o carinho dos colegas e amigos de trabalho: Juciara, Gidalva, Ana Paula Lemos, Diana, Glauciene, Ana Carolina, Clarrisa, e tantos outros amigos que me ligavam todos os dias. Hoje, posso dizer que estou bem melhor e vou, com medo ou sem medo, subir para dar a minha contribuição na ala Covid-19 do HU-UFS. A mensagem que quero deixar é a de que, se você sentir os sintomas, por mais leve que sejam, avise a sua chefia e vá atrás para fazer o exame. Esse vírus se comporta de várias maneiras, e a medicação que uma pessoa toma não é receita de bolo: cada um será medicado de acordo com o que apresentar. Por isso, se sentir falta de ar, não tente dar um jeitinho: vá à urgência. Espero em Deus que a cura chegue o mais rápido possível. Hoje posso dizer que venci a Covid-19”.