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Meac apresenta trabalhos sobre Diferenças do Desenvolvimento Sexual
A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), participou do IX Congresso Norte-Nordeste de Genética Médica 2024, realizado em 28 e 29 junho último. No evento, foram apresentados quatro trabalhos sobre os casos clínicos de pacientes do Ambulatório de Diferença do Desenvolvimento Sexual (DDS) da Maternidade. A Meac é um dos 45 hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
As Diferenças do Desenvolvimento Sexual (DDS) consistem em alterações no desenvolvimento cromossomal, gonadal ou da ação hormonal que podem levar à malformação genital, dificultando algumas vezes, a definição do sexo biológico e impactando na qualidade de vida dos indivíduos. As causas para a ocorrência das DDS são raras. Para 5 mil pessoas que nascem, uma pode ter essa condição.
A Meac foi representada no evento pela chefe da Divisão Médica e coordenadora do ambulatório, Zenilda Bruno (médica ginecologista), além da médica endocrinologista Eveline Gadelha e do médico geneticista Carlos Grangeiro, integrantes do ambulatório DDS.
Segundo Zenilda Bruno, as apresentações dos trabalhos da Maternidade, foram bem-sucedidas e atraíram muitos participantes do evento. “Houve muito questionamento e uma grande discussão a respeito do que apresentamos, com destaque para perguntas sobre o uso da pele da tilápia nas cirurgias de neovaginoplastia, um dos temas abordados nos trabalhos apresentados”, disse a médica, referindo-se a uma técnica inédita no mundo desenvolvida na Meac.
Atendimento no ambulatório
Conforme informou Zenilda Bruno, no ambulatório são atendidos todos os casos de pessoas que chegam com a genitália atípica. “São meninas que não tem a genitália completamente feminina, ou seja, possuem alguma alteração como virilização e masculinização da genitália. Também são recebidos os casos de malformações, como por exemplo, mulheres que não menstruam porque não têm vagina ou não têm útero, ou aquelas com septo vaginal, que é um impedimento do fluxo sanguíneo descer na menstruação”.
De acordo com a médica, as causas de DDS normalmente são alterações hormonais e alterações genéticas que levam a malformações dessas genitálias ambíguas. Ela destaca que na Meac há o tratamento cirúrgico e o hormonal com a endocrinologia.
Falta conhecimento social
Segundo a chefe do ambulatório de DDS, muitas pessoas não têm conhecimento sobre o que é DDS e como ocorre, por isso é importante o diagnóstico mais precoce possível. “Normalmente, na Maternidade as pessoas com essas condições procuram o serviço na adolescência, porque não menstruam, e aí vão ao serviço procurar ajuda”, disse.
Confira os títulos e resumos dos trabalhos apresentados:
- Desfecho Cirúrgico de Pacientes com Diferenças no Desenvolvimento Sexual Submetidas à Neovaginoplastia
O objetivo foi descrever as principais etiologias, dados epidemiológicos e exame ginecológico de grupo de pacientes com DDS, que realizaram cirurgia de neovaginoplastia. Segundo informações do trabalho, a retirada de pele autóloga pela técnica de McIndoe de neovagina é a mais utilizada para as pacientes com malformação, atresia ou agenesia de vagina, porém deixa uma cicatriz na região doadora com possibilidade de infecção e deiscência. A técnica feita, desenvolvida no Ceará, com a pele de tilápia do Nilo iniciou a ser realizada em 2016, pela equipe de cirurgia ginecológica da Meac-UFC/Ebserh.
- Diferenças no Desenvolvimento Sexual: Casuística de um Ambulatório Especializado no Ceará
O objetivo desse trabalho foi apresentar casos de pacientes com DDS atendidos no ambulatório especializado da Meac. Trata-se de um estudo retrospectivo, transversal e quantitativo que avaliou os registros médicos no período compreendido entre 2002 e 2024.
- Síndrome de OHVIRA (Hemivagina Obstruída e Anomalia Renal Ipsilateral): Série de Casos
O trabalho objetivou descrever as similaridades e particularidades de pacientes com síndrome OHVIRA (um acrônimo do inglês para Hemivagina Obstruída com Anomalia Renal Ipsilateral) acompanhadas no ambulatório. Essa síndrome é uma rara anomalia do trato geniturinário feminino caracterizada pela tríade de útero didelfo; septo vaginal oblíquo, levando a obstrução de hemivagina e agenesia renal ipsilateral. Além disso, as mulheres podem apresentar dor pélvica cíclica, dismenorreia e/ou hematocolpo poucos anos após a primeira menstruação (menarca).
Diferenças no Desenvolvimento Sexual com Cariótipo 46, XY: Série de Casos
O trabalho objetivou descrever o perfil clínico e epidemiológico de pacientes com DDS 46,XY acompanhados no ambulatório. Pacientes com DDS podem ser classificados em três diferentes grupos, sendo um deles, os DDS 46,XY. Esse grupo é caracterizado pela deficiência na virilização da genitália externa de graus variáveis por três diferentes mecanismos: distúrbios da diferenciação gonadal (disgenesia gonadal completa ou parcial XY/ DDS ovotesticular); distúrbios da síntese ou ação de hormônios testiculares (síndrome de insensibilidade androgênica, deficiência da enzima 5α-redutase do tipo 2 e defeitos da síntese de testosterona) e os quadros sindrômicos.
Sobre a Ebserh
O CH-UFC faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Rosenato Barreto, com revisão de Danielle Campos