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DE 2018 PARA 2022
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand reduz em 83% número de óbitos com estratégia “Zero Morte Materna”
A partir de um trabalho sistêmico, transdisciplinar e analítico, a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh, conseguiu reduzir em 83% o número de mortes maternas na instituição. Levantamento feito mostra que, em 2018, 12 mulheres perderam a vida por causas relacionadas à gestação na instituição. Com a adoção da estratégia “Zero Morte Materna”, que foca na principal causa de morte materna prevenível no mundo (hemorragia pós-parto), os indicadores têm melhorado substancialmente ao longo dos anos, chegando a duas mortes em 2022.
Isso representa 8% dos 25 óbitos maternos (exceto por causas externas) registrados pela Secretaria Municipal de Saúde em Fortaleza no ano passado, o melhor desempenho entre as instituições públicas de alta complexidade. Uma das vidas salvas foi a de Niclea Gonçalves Costa, de 35 anos. Depois de dar à luz Ravih Victor, o quarto filho, numa cesariana, que teve de ser antecipada em razão de uma diabetes mellitus gestacional descompensada, a mãe apresentou complicações importantes no hospital de origem. Com hemorragia pós-parto, pressão arterial despencando e parada cardiopulmonar que durou 18 minutos, teve de ser transferida para a MEAC.
Com a estabilização do quadro, foram 17 dias de luta pela vida na Unidade de Terapia Intensiva Materna. Ao todo, entre tempo de UTI e enfermarias, incluindo os cuidados recebidos no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Niclea passou dois meses e meio no Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh. “Eu sou muito grata a todos os profissionais envolvidos na minha recuperação. Fui muito bem tratada. Se eu estou viva, podendo cuidar dos meus filhos, do meu marido, da minha família, é porque fui salva aqui (na MEAC)”, diz, bastante emocionada. Segundo o gerente de Atenção à Saúde da Maternidade-Escola, Prof. Edson Lucena, a vida salva de Niclea e de outras tantas mães é fruto de um conjunto robusto e bem pensado de medidas relacionadas ao combate à principal causa de óbito materno: hemorragia pós-parto (HPP).
Sensibilização e envolvimento
A adoção da estratégia “Zero Morte Materna” engloba, entre outros, o treinamento nos mais diversos cenários no intuito de identificar precocemente a paciente de maior risco, a implantação da prevenção universal da hemorragia com uso da ocitocina pós-parto e a implementação do protocolo de tratamento da hemorragia pós-parto. A gestão da MEAC destaca, ainda, que todos os setores da Maternidade estão sensibilizados e envolvidos na prevenção da morte materna, da emergência à alta hospitalar, passando por profissionais da assistência e do administrativo e chegando aos estudantes de graduação e residências médica e multiprofissional. “É um propósito que perseguimos e que direciona nossas condutas”, completa Edson Lucena.
Confira a evolução das mortes maternas na MEAC ao longo dos últimos cinco anos:
Maria da Piedade Albuquerque, chefe da UTI Materna, destaca também os treinamentos teóricos (manuseio seguro de hemorragia pós-parto e transfusão na dose certa) e práticos (mensuração e pesagem de absorvente com sangramento transvaginal de todas as puérperas nas primeiras 24 horas pós-parto); a implementação do kit de hemorragia pós-parto em todas as unidades assistenciais da MEAC; a atualização e a implantação de protocolos clínicos para pacientes graves com pré-eclâmpsia e HPP; a padronização de exames laboratoriais para hemorragia pós-parto no sistema de gestão em saúde da Maternidade; a priorização no atendimento das pacientes com HPP nas unidades de Agência Transfusional e de Diagnóstico por Imagem e Diagnósticos Especializados; e a identificação, com pulseira roxa, de todas as pacientes (gestantes ou puérperas) com risco de ter hemorragia na Maternidade.
Ainda sobre a disseminação do conhecimento na MEAC, apoiada pela Gerência de Ensino e Pesquisa do Complexo Hospitalar, Raimundo Homero de Carvalho Neto, chefe da Unidade de Apoio ao Ensino e à Pesquisa, informa que está sendo oferecido, aos residentes que fizeram o curso de manuseio seguro de hemorragia pós-parto, a participação em oficinas práticas de diagnóstico e quantificação da HPP, métodos de tamponamento uterino e técnicas de abordagem cirúrgica. “Acreditamos que o treinamento da equipe deve ser contínuo para resultados cada vez mais impactantes na diminuição da mortalidade materna”, pontua.
Nas perspectivas de monitoramento e avaliação, Mariana Firmiano, coordenadora do serviço de enfermagem do Centro Obstétrico da Maternidade-Escola, cita o monitoramento de indicadores de processo e resultado para avaliação contínua de melhoria da qualidade da assistência perinatal e a formação de um grupo de trabalho para enfrentamento da hemorragia pós-parto, atuando na avaliação de indicadores, plano de ação e capacitações. “A MEAC tem quatro instrutores da Opas (Organização Pan-americana da Saúde) para o programa Zero Morte Materna por Hemorragia Pós-parto”, ressalta.
Hemoterapia
A responsável técnica das Agências Transfusionais da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand e do Hospital Universitário Walter Cantídio, Denise Brunetta, elenca também: redução do tempo de centrifugação das amostras para os testes pré-transfusionais emergenciais e de coagulação; simulações de transfusão de emergência com as equipes das unidades de hemoterapia; hemocomponentes para atendimento de emergência previamente selecionados, testados e identificados em gaveta separada; aquisição de caixas aquecedoras de soluções e descongelador de plasma para os dois hospitais; disponibilização de testes viscoelásticos para monitorização em tempo real da coagulação dos pacientes e de ácido tranexâmico para pacientes cirúrgicos e obstétricos, combatendo hemorragias; criação dos ambulatórios de anemia para grávidas, coagulopatias e de infusão de ferro intravenoso para redução da anemia das gestantes, fator relacionado ao aumento do risco de hemorragia pós-parto; e visita diária do médico hemoterapeuta na UTI Materna para identificação de pacientes com risco para HPP e auxílio na conduta transfusional.
Além de todas essas ações, Muse Santiago, chefe do Setor de Apoio Diagnóstico e Terapêutico da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, reforça as contribuições trazidas pelo projeto Lean nas Emergências. “A elaboração das planilhas para o cálculo do tempo do início da coleta de exames até a liberação dos laudos; a adoção de um rol de exames de imagens para a emergência; e a definição dos exames laboratoriais classificados como emergência, seguindo os protocolos da instituição, são algumas dessas contribuições”, finaliza.
Saiba mais
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a hemorragia pós-parto é a segunda principal causa de morte materna no Brasil. Perde apenas para a hipertensão arterial. Por ser um evento frequente, grave e de evolução rápida, pede que a equipe assistencial esteja preparada e seja conhecedora dos protocolos para que a intervenção terapêutica seja correta e imediata e evite um desfecho desfavorável.
Sobre a Ebserh
A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand e o Hospital Universitário Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh, fazem parte da Rede Hospitalar Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Os hospitais universitários são, por sua natureza educacional, campos de formação de profissionais de saúde. A Rede Hospitalar Ebserh não é responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país, apenas atua de forma complementar ao SUS.
Jornalista responsável: Ludmila Wanbergna (MTB 1809/CE)
Unidade de Comunicação Social
Complexo Hospitalar da UFC
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
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