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INOVAÇÃO
HUWC aplica, pela primeira vez no Ceará, cetamina injetável para tratamento de ideação suicida
O Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), deu mais um passo na inovação no tratamento para a saúde mental. Em 28 de setembro fez a primeira aplicação da cetamina, anestésico também utilizado no tratamento do risco de suicídio e de depressão, em pacientes tratados no Ambulatório de Psiquiatria. O HUWC tornou-se, então, o primeiro hospital do Ceará a utilizar essa substância pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para esta finalidade.
O psiquiatra do HUWC Fábio Gomes de Matos explica que o anestésico surgiu no início da década de 1960, e, por volta dos anos 2000, os estudos conduziram para a descoberta de que, em pequenas doses (0,5 ml por kg de peso corporal), a cetamina é eficaz no tratamento das situações clínicas de ideação suicida e de depressão resistente. Já utilizada em centros privados, o uso tem se expandido no SUS no formato off-label, ou seja, quando é indicada para tratamento de uma enfermidade tendo sido desenvolvida para outra finalidade: “Essa oferta da cetamina dentro do SUS garante o acesso à população, em sua grande maioria, a este anestésico, melhorando a sua qualidade de vida”, destaca o psiquiatra
Uma dona de casa de 26 anos, que prefere não ser identificada, foi a primeira a receber este tratamento no HUWC e, após cinco sessões, já relata uma melhora significativa. “Desde que eu comecei, sinto que me devolveu a vida. Eu estava no fundo do poço e essa foi a luz. Não sinto mais vontade de tirar a minha vida. Neste momento, eu sinto a empolgação de viver porque eu mereço contemplar os melhores momentos da minha vida, de cuidar de mim. Até a minha família percebe a diferença. Eu queria que todas as pessoas que estão como eu estava pudessem ter a oportunidade de fazer esse tratamento”, ressalta.
Mecanismo de ação
O mecanismo de ação da cetamina é diferente dos antidepressivos, garante a psiquiatra e professora da UFC, Luisa Bisol. Os antidepressivos atuam na normalização de neurotransmissores porque age em uma substância chamada monoaminas. No caso do anestésico cetamina, a atuação se dá no glutamato (aminoácido mais presente no Sistema Nervoso Central), auxiliando na reconstrução das sinapses cerebrais (transmissão do impulso nervoso).
As pessoas encaminhadas ao HUWC com o risco de suicídio passam por uma triagem pelo projeto de extensão universitária executado pelo Serviço de Psiquiatria, o Programa de Apoio à Vida (PraVida). Havendo a indicação pelos profissionais do uso da cetamina, o paciente e seus familiares recebem as orientações e, caso concordem, a aplicação ocorre necessariamente no próprio ambiente hospitalar.
A psiquiatra Luísa explica que essa substância é introduzida no músculo (braço) ou subcutânea (no abdômen), uma vez por semana por seis semanas. Após a aplicação, o indivíduo precisa aguardar, em média, duas horas em observação. A especialista ressalta que este é um tratamento adjuvante, ou seja, faz parte de um conjunto de estratégias terapêuticas, com outros medicamentos e acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
Serviço
- PraVida: Ambulatório de Saúde Mental do HUWC – Rua Pastor Samuel Munguba, nº 1290, Rodolfo Teófilo. Atendimentos nas tardes das quintas-feiras. É necessário encaminhamento pela regulação por meio das Unidades Básicas de Saúde.
Sobre a Ebserh
O Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh), formado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio e pela Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, faz parte da Rede Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh