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Hospital Universitário Walter Cantídio e Hemoce já realizaram mais de 600 transplantes de medula óssea
João Wilker, 37, encontrou um doador que tinha cerca de 90% de compatibilidade. No dia 23 de julho deste ano, ele realizou o transplante de medula óssea (Foto: Arquivo Pessoal)
Há mais de uma década, a parceria entre o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) salva vidas por meio de transplantes de medula óssea no Estado. No último domingo (26), o serviço completou 13 anos de atendimento e, ao longo deste período, atingiu a marca histórica de 610 transplantes do tecido.
“Estou rico, bem novinho e com saúde. E essa é a maior riqueza”, brinca João Wilker, 37, que há dois meses passou por um transplante de medula óssea. O procedimento foi todo realizado pelas duas instituições. “Hoje, a minha visita ao Hemoce e ao HUWC é para realizar exames periódicos de rotina e consulta médica semanal, mas passei por uns momentos bem complicados. Em junho de 2020, tive Covid-19 e descobri que estava com anemia. A pedido dos médicos, passei por vários exames para investigar e o diagnóstico veio dois meses depois: síndrome mielodisplásica”, diz o servidor público.
A síndrome refere-se a um grupo de distúrbios nos quais as células formadoras do sangue anormais se desenvolvem na medula óssea. Vários tipos de células podem ser afetadas, sendo o fator mais comum da doença a diminuição de glóbulos vermelhos (anemia), podendo mais tarde se transformar em uma leucemia.
Em agosto do ano passado, Wilker recebeu a informação da equipe médica de que precisaria passar por um transplante de medula óssea. Até localizar um doador compatível, ele teve de fazer tratamento de quimioterapia e recebeu transfusão de plaquetas. “Durante esse processo, acontece um turbilhão de sentimentos. Tem dias que você amanhece com a esperança lá em cima, mas tem outros que você amanhece super cabisbaixo. O bom é que, nesses dias que você está desmotivado, tem a sua família pra apoiar. Você tem duas maneiras de enfrentar um problema: você senta e chora ou você sorrir e vai enfrentar. Eu decidi enfrentar sorrindo”, conta.
Na busca por um doador compatível, os parentes de Wilker fizeram o exame de tipagem HLA (Antígeno Leucocitário Humano). As irmãs eram compatíveis apenas em 50% e, como a família tinha histórico da doença, foi necessário buscar um doador no banco de doadores de medula óssea.
“Eu sabia que as chances eram de uma para cada cem mil, mas se existe 1% de chance, se apegue a ele e não desista”
Cerca de oito meses depois da descoberta da doença, o servidor público recebeu dos médicos a tão esperada notícia: foi encontrado um doador com 90% de compatibilidade. “Quando soube que tinham achado um doador, foi uma euforia de sentimentos. Fiquei muito feliz e com as esperanças renovadas por saber que a cura estava próxima. Sou muito grato a Deus e a esse doador, que mesmo sem me conhecer, em uma atitude totalmente altruísta, estava me dando uma nova chance de vida. Hoje, o que eu digo para quem tá passando pelo mesmo que eu passei é que não perca a esperança. Terão dias de turbulência, mas tenha fé e seja confiante, que vai dar certo”, ensina.
Natural de Russas, João Wilker vem uma vez por semana ao Hemoce e ao HUWC para dar continuidade no pós-transplante. No hemocentro, ele realiza hemograma completo. No HUWC, Wilker continua o acompanhamento com a sua equipe médica. Um dia de cada vez, assim descreve o paciente sobre a sua evolução. “Hoje, estou me sentindo bem melhor, com energia para dar uma caminhada e com a esperança renovada. Agora tenho mais força para continuar”.
Atuação do HUWC e Hemoce
o HUWC realiza o transplante e o acompanhamento posterior do paciente. “O hemocentro atua no congelamento das células transplantadas, com um atendimento de excelência na transfusão de sangue filtrado e irradiado com irradiador gama com câmera (único no Estado). Isso torna o trabalho do Hemoce essencial. Costumo dizer que não existe transplante sem a parceria do Hemoce”, destaca Fernando Barroso, médico hematologista do Hemoce e chefe da equipe de transplante de medula óssea do HUWC. Já o Hemoce é responsável pelo cadastro dos doadores voluntários de medula óssea no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), pela triagem de candidatos, pelos testes de compatibilidade, exames e pela coleta da medula por aférese.
Mesmo no ápice da pandemia do coronavírus, o Ceará manteve a realização dos transplantes de medula óssea. Barroso conta com orgulho o feito. “Junto com outros centros do Brasil, estabelecemos protocolos de testagem de doadores e pacientes para Covid-19, além dos profissionais de saúde assintomáticos. Isso permitiu que os transplantes não fossem paralisados na pandemia e nos fortaleceu no entendimento dessa nova patologia”, completa.
Transplantes
O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento indicado para algumas doenças que afetam as células do sangue. De 2008 até agora, já foram 448 transplantes do tipo autólogo (com medula do próprio paciente), 139 alogênicos (quando o doador tem parentesco com o paciente ou com medula de doador sem parentesco) e 23 haploidênticos (quando a compatibilidade entre paciente e doador é parcial).
“Estamos trabalhando para manter os níveis de excelência nos resultados de sobrevida que temos, que se equiparam aos melhores centros do Brasil e do mundo, e temos como perspectiva a realização de terapia com Car-t Cell, uma modalidade de tratamento inovadora para pacientes refratários até ao transplante, um projeto do Hemoce”, detalha o hematologista.
Além da realização dos exames, o hemocentro cearense também coleta células para transplante alogênico não aparentado em pacientes de outros estados e países. Este procedimento começou a ser realizado em 2012. Já foram feitas 83 coletas, sendo 46 para transplante de medula óssea em outros estados e 37 para outros países (Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Canadá, Argentina, Holanda e Turquia).
Seja um doador de medula óssea
Para ser um doador de medula óssea, é necessário fazer um cadastro. É necessário ter entre 18 e 35 anos de idade, estar bem de saúde, não ter sido diagnosticado com câncer e apresentar documento de identidade e comprovante de endereço.
O cadastro será concluído com a assinatura de um Termo de Consentimento e a coleta de uma amostra de sangue (5 ml), que será encaminhada para um laboratório especializado onde serão feitos os exames necessários. Os resultados são enviados para o Redome. Sendo constatada a compatibilidade entre doador e receptor, o Hemoce e o Redome entram em contato com o voluntário para que sejam feitos os próximos exames e a doação de medula óssea possa acontecer.
O Ceará é o estado com maior número de pessoas cadastradas como doadores de medula óssea entre as regiões Norte e Nordeste. O Hemoce, responsável pelo cadastro no Estado, já cadastrou mais de 214 mil voluntários como possíveis doadores de medula óssea.
Sobre a Ebserh:
O Complexo Hospitalar da UFC, formado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio e pela Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, faz parte da Rede Hospitalar Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Os hospitais universitários são, por sua natureza educacional, campos de formação de profissionais de saúde. A Rede Hospitalar Ebserh não é responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país, apenas atua de forma complementar ao SUS.
Fontes: Unidade de Comunicação Social do Complexo Hospitalar UFC/EBSERH e Núcleo de Comunicação Hemoce