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INOVAÇÃO
Hospital da Ebserh no Ceará realiza primeira cirurgia para tratar epilepsia refratária no estado via SUS
Fortaleza (CE) – A primeira cirurgia para tratamento de epilepsia do estado do Ceará, com o diagnóstico integral e multidisciplinar de um paciente, via Sistema Único de Saúde (SUS), ocorreu no último sábado (16), no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), que integra o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O procedimento, denominado de amigdalohipocampectomia, foi realizado em uma paciente de 42 anos, para o tratamento cirúrgico de esclerose mesial temporal (EMT). A paciente apresentava crises epilépticas diárias, apesar do seu tratamento com várias medicações.
Para o neurocirurgião do HUWC, Rafael Queiroz, essa cirurgia representa um marco para o hospital, consolidando-o como um centro de referência em neurocirurgia funcional, e ampliando as possibilidades de tratamento para pacientes com epilepsia refratária (em que não há o controle completo das crises, mesmo com o tratamento medicamentoso adequado). “Isso demonstra o compromisso da nossa equipe com avanços médicos e com a oferta de tratamentos inovadores para a população”, completou.
A amigdalohipocampectomia é uma técnica neurocirúrgica voltada para o tratamento de epilepsia refratária. “No caso desta paciente, a cirurgia teve como objetivo remover a região do cérebro responsável por desencadear as crises, permitindo um controle mais eficaz da epilepsia”, informou Rafael Queiroz. Ele explicou que os benefícios esperados com a cirurgia incluem uma redução significativa na frequência das crises ou até mesmo a eliminação completa delas, o que melhora diretamente a qualidade de vida da paciente, sua autonomia e bem-estar emocional.
Segundo o neurocirurgião, para essa cirurgia, foram utilizadas técnicas de remoção microcirúrgica das áreas do cérebro que causam as crises epilépticas, garantindo segurança, preservando as funções cognitivas e motoras da paciente. “No HUWC, a equipe também conta com uma abordagem multidisciplinar, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, neurofisiologistas, neuropsicólogos e enfermeiros que é um diferencial para esse tipo de intervenção”, frisou Rafael.
O que é a epilepsia?
A médica do HUWC, Ângela Rodrigues Gifoni, especialista em neurologia pediátrica e neurofisiologia clínica, explicou que a epilepsia é uma doença cerebral, em que os neurônios apresentam uma disfunção nas suas membranas celulares, resultando em descargas anormais e excessivas. As crises epilépticas são a manifestação clínica dessa disfunção neuronal.
Existem vários tipos de crises epilépticas, podendo ocorrer manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, entre outras. Em muitos casos, essas crises colocam o paciente em risco de acidentes/traumas, pois se manifestam com perda de consciência e ou queda abrupta ao solo.
Nos pacientes com EMT, ocorre uma alteração no tecido cerebral, na região do hipocampo, localizado no lobo temporal. Os pacientes com esse problema comumente têm epilepsia, e em alguns casos, essa doença é refratária ao tratamento medicamentoso. “Para estes casos, o tratamento cirúrgico, quando bem indicado, mostra ótimos resultados. Na cirurgia é realizada a ressecção (remoção) da amigdala e do hipocampo do lobo temporal afetado”, destacou Gifoni.
Atendimento no HUWC-UFC
O HUWC dispõe de ambulatório especializado em epilepsia e uma equipe de avaliação de epilepsias refratárias, com amplo parque diagnóstico em neurofisiologia clínica. A estrutura contempla o ambulatório de epilepsia refratária, avaliação por vídeo eletroencefalograma (vídeo EEG) e neuroimagem, avaliação neurocirúrgica, neuropsicológica e de enfermagem.
Conforme o médico Samir Câmara Magalhães, especialista em neurofisiologia clínica e chefe da Unidade do Sistema Nervoso (USNE) do HUWC, o serviço de neurofisiologia clínica vem sendo reestruturado, desde 2018, para contemplar a possibilidade de investigação de epilepsias refratárias. Neste ano de 2024, o hospital recebeu nova estrutura e equipamentos de alta qualidade, além da incorporação de neurologistas, neuropediatras, neurocirurgiões e neuropsicólogo, capacitados no tratamento de epilepsia.
Ele detalhou que o hospital conta atualmente com leitos de vídeo EEG, profissionais neurofisiologistas com atuação em EEG e vídeo EEG, equipe de enfermagem e técnica capacitada. Também dispõe da Residência Médica em Neurofisiologia Clínica e Neurologia, formando profissionais capacitados, que agora terão conhecimento em mais essa área, a cirurgia de epilepsias.
No ambulatório de epilepsia do HUWC, são atendidos pacientes com quadros clínicos refratários, incluindo pacientes com EMT. “Eles apresentam crises diárias ou quase diárias, que limitam suas atividades sociais, laborais e familiares, comprometendo sua autonomia”, explicou a médica Ângela Gifoni.
Para o tratamento cirúrgico é necessária uma extensa avaliação das crises epilépticas, com anamnese detalhada, registro prolongado de vídeo-eletroencefalograma, avaliação radiológica e neuropsicológica. Segundo Ângela, dados da literatura médica mostram que, em média, 80% desses pacientes podem ficar livres de crises. “Essa é uma grande conquista da USNE do HUWC, que recentemente teve uma ampliação de sua estrutura física com a criação da Enfermaria de Neurofisiologia Clínica, onde é possível a internação para monitorização prolongada por vídeo EEG”, evidenciou.
De acordo com Gifoni, ofertar o tratamento cirúrgico da epilepsia para os pacientes do estado do Ceará sempre foi um objetivo da USNE, reduzindo a necessidade de envio do paciente para tratamento fora de domicílio (em outros estados do País). “Agora, torna-se realidade devido ao empenho e dedicação da equipe multiprofissional composta pela enfermagem (enfermeiras e técnicos de eletroencefalograma), neuropsicólogo e médicos (neurologistas, neurofisiologistas, neurorradiologistas, neurocirurgiões e neuropediatras), e ao apoio da direção da instituição”, disse Ângela Gifoni.
Sobre a Ebserh
O CH-UFC faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Rosenato Barreto
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh