Notícias
NOVA VIDA
Cirurgia possibilita a mulheres que não tinham vagina terem vida sexual normal
Aos 29 anos, Regina está começando uma nova vida. Namorando sério, dessa vez não vai precisar terminar o relacionamento de repente por medo do companheiro não aceitar que ela tem a Síndrome de Morris. É que há 3 meses, ela fez na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC) uma neovaginoplastia, cirurgia que constrói uma vagina nas mulheres que não a tem ou a reconstrói nas que tem vagina curta, mas que têm características femininas e pretendem iniciar ou manter vida sexual.
Regina viajou mais de 100 quilômetros até Fortaleza para ter um diagnóstico preciso e encontrou o tratamento adequado na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand. Até então, foram anos de dúvidas, insegurança, complexo. “Minha mãe só achou que tinha alguma coisa errada comigo quando eu fiz 17 anos e ainda não tinha menstruado”, conta. Foi quando um médico da cidade onde mora a recomendou procurar a capital para confirmar a suspeita dele de que ela tinha um encurtamento da vagina e, provavelmente, ausência de útero e ovários.
“Quando eu ouvi pela primeira vez o nome da síndrome, comecei a pesquisar na internet causas e tratamentos. E até descobri grupos de mulheres com o mesmo problema, o que me ajudou muito a encarar tanta novidade”, comentou. Em vez de retrair-se, descuidar-se ou ter medo, Regina encheu-se de esperança. “Vi no grupo muitas mulheres obesas por depressão, com pensamentos suicidas, que vivem enclausuradas. Mas vi também muitas que enfrentaram a cirurgia e ganharam qualidade de vida, se amam mais, estão mais felizes. Por isso, resolvi ir até o fim e fazer as duas cirurgias. Estou muito feliz”, relata.
A causa mais comum de ausência vaginal é uma malformação na vida intrauterina (quando o feto está em formação), chamada Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Houser (SMRKH) ou outra menos comum, a insensibilidade androgênica completa (Síndorme de Morris – SM), explica a ginecologista Zenilda Vieira Bruno, diretora médica da MEAC, que realiza as neovaginoplastias na Maternidade. Segundo ela, na SMRKH a ausência do útero e da vagina ocorre em consequência do defeito da junção dos ductos de Müller, que são os responsáveis pela formação destes órgãos. A incidência é de 1 em cada 5.000 mulheres e sua causa ainda é incerta. “Em exame físico, a genitália externa é normal, mas há ausência de vagina. O ultrassom confirma a presença de ovários e a ausência ou deformidade uterina”, esclarece.
Já na Síndrome de Morris, existe a presença de testículos e não de ovários, como seria esperado. Porém, há uma resistência ao hormônio masculino produzido, desde a vida intrauterina, e os genitais externos são femininos, sem a formação da vagina e sem útero. Este é o caso da Regina.
Mas, mesmo sem a produção necessária de hormônios, ela sempre foi muito feminina. As unhas bem pintadas, o cabelo impecavelmente tratado, a voz suave e mansa. Gosta de vestir saia e usar salto alto. E guarda esse segredo até de sua irmã, só compartilha com a mãe. Agora, após a cirurgia, está em tratamento hormonal e comemora o crescimento dos seios, podendo abrir mão dos enchimentos. “Minha autoestima está muito melhor, me sinto bem mais feliz”, diz. E afirma que o apoio que recebeu na MEAC lhe fez sentir segura para iniciar a atividade sexual sem receios. “Fui bem orientada e sou muito grata a todos os profissionais que cuidaram de mim aqui”.
O tratamento na MEAC envolve uma abordagem multidisciplinar com apoio psicossocial e correção de anormalidade anatômica. Como Regina, outras 27 pacientes foram operadas na instituição de 2005 a setembro de 2016. “Das que retornaram à MEAC, 85% atingiram o resultado esperado, tinham relações sexuais satisfatórias com vaginas com boa profundidade e largura. Estas pacientes dispõem de um serviço multiprofissional e são acompanhadas pela Psicologia sempre que é identificada qualquer dificuldade na aceitação do diagnóstico ou receio na atividade sexual”, afirma Dra. Zenilda.
*O nome da paciente foi alterado a pedido dela.