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SETEMBRO AMARELO
10 de setembro - Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
O suicídio mata anualmente em todo o mundo cerca de 800 mil pessoas, sem contar as vítimas que sobrevivem ao ato com sequelas. Um problema social e de saúde pública que foi lembrado no último domingo, dia 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, e segue na campanha Setembro Amarelo. “Hoje o suicídio tem como elemento de risco, o comportamento depressivo, em 80% dos casos”, esclarece Hugo Gedeon Barros dos Santos, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM-UFMT/Ebserh).
Qual o perfil das pessoas que cometem suicídio?
Hugo - Há uma prevalência em homens, enquanto as mulheres são as que mais tentam. Os homens utilizam mecanismos mais letais para se matarem, como armas de fogo, por exemplo, e as mulheres tentam métodos menos letais, como ingestão de medicamentos em excesso. Em um olhar mundial, os idosos estão em maior número, motivos como aposentadoria, filhos indo embora de casa ou o falecimento de um dos cônjuges, entre homens, pesa a questão da perca da virilidade. Mas os jovens estão alcançando essa faixa.
Quais fatores têm levado ao aumento de casos de suicídio?
Hugo - Hoje o suicídio tem como elemento de risco, o comportamento depressivo em 80% dos casos. Não é via de regra, nem todo mundo que se matou tem depressão e nem todos que têm depressão irão se matar. O uso de substâncias ilícitas, como álcool e drogas, desesperança, solidão, pessoas vítimas de bullying na infância ou adolescência, que desenvolvem depois o não pertencimento social, status econômico, pessoas na linha da pobreza, desempregadas e falidas.
Como identificar uma pessoa com essas intenções?
Hugo - Perceba as alterações nos sinais de comportamento e nos discursos. A pessoa fica cada vez mais isolada socialmente, trancada no quarto, sem interagir com a família, deixa de fazer coisas prazerosas, perde o interesse no trabalho, começa a se despedir das pessoas, se desfazer de coisas pessoais e produzir falas do tipo “Eu não vejo mais a luz no fim do túnel”, “eu só queria dormir e não acordar mais”, “eu não farei falta para ninguém”, frases que podem passar despercebidas.
É um problema de saúde pública?
Hugo - Com certeza. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que 800 mil pessoas cometem suicídio todo ano. Isso dá um impacto emocional muito forte porque a cada pessoa que morre outras seis pessoas ficam em processo de luto. Cada vez mais a população jovem está se matando, ou seja, estamos perdendo mão de obra, produção. Além das pessoas que tentam e ficam com sequelas durante o resto da vida, que geram gastos financeiros para as instituições de saúde.
De que forma as políticas públicas poderiam atuar sobre o assunto?
Infelizmente, falar de suicídio ainda é um tabu. As pessoas têm preconceito por conta de valores religiosos ou culturais. A mídia começou a divulgar o assunto e as discussões recentemente. Sobre políticas públicas, a OMS preparou em 2014 uma cartilha onde pretende diminuir em 20% os casos de suicídio em todo o mundo até 2020, com restrições a venda de armas, burocracia na venda de venenos e materiais químicos, cercar torres e pontes com redes para as pessoas não tentarem se jogar de cima.
Como a campanha Setembro Amarelo ajuda na causa?
Que bom que criou-se o Setembro Amarelo. Faz o assunto ser mais discutido, com capacitações, despertando interesse dos profissionais para a causa. As pessoas que pensam nisso poderem buscar ajuda, fugindo do tabu. Existe um jargão sobre o suicídio que diz que “no fundo a pessoa não queria morrer, apenas se livrar da dor” e vê na morte como a única saída.
Quais são os órgãos públicos que atuam na prevenção ao suicídio?
Existe o CVV (Centro de Valorização da Vida) que atua com trabalhadores voluntários, que são capacitados para escutar a quem liga e auxiliar as pessoas que precisam. Em serviços de saúde, qualquer unidade básica de saúde serve como primeiro ponto para a pessoa buscar ajuda, revelando seu problema para que aí ela possa ser encaminhada para uma ajuda qualificada.
Como uma pessoa sem conhecimentos específicos pode ajudar uma pessoa que tenha tendência a procurar o suicídio?
Deve prestar atenção no comportamento das pessoas, mudanças de perfil e ter a segurança de perguntar para a pessoa do que se trata e conversar com ela. As pessoas se esquivam do assunto por não ter informação e também por não querer se responsabilizar pelo próximo. Ou seja, devemos ouvir e, com isso, tentar ajudar a pessoa, ligar para o CVV ou procurar junto com a pessoa outra medida que possa ajudar a pessoa.
Como o Hospital Universitário Júlio Müller atua no serviço de prevenção?
O HUJM tem um grande público com comportamento suicida, mas o nosso serviço vem através de encaminhamento. Depois que a pessoa chega, ela pode contar com serviços de psiquiatras, psicólogos, uma psicoterapia E todas as formas para tentar auxiliar essa pessoa.