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Saúde mental x Doença mental
A saúde mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela reage às exigências da vida e como lida com os seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. Ter saúde mental não é não ter doenças como depressão ou ansiedade, por exemplo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estar mentalmente saudável é o estado de bem-estar no qual uma pessoa consegue desempenhar suas habilidades, lidar com as inquietudes da vida, sendo capaz de trabalhar de forma produtiva e contribuir para a sua comunidade.
Nos hospitais universitários vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o atendimento clínico voltado a saúde mental é ofertado tanto para pacientes quanto para colaboradores. Enfermeiros, psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais realizam o atendimento clínico para a população nos ambulatórios de psiquiatria. Para os colaboradores, há a atuação desses mesmos profissionais, alinhados com terapeutas ocupacionais e pedagogos, integrando a equipe multidisciplinar da Unidade de Saúde do Trabalhador.
Atenta às necessidades psicossociais da população e dos seus funcionários, a Ebserh oferece informações, conhecimentos e serviços para que pacientes e colaboradores invistam em suas vidas e em relacionamentos com mais saúde mental. Conheça como é realizado o atendimento voltado à saúde mental do trabalhador no Hospital Universitário de Brasília, da Universidade de Brasília (HUB- UnB/Ebserh) e as ações voltadas ao atendimento da comunidade no Hospital Universitário de Santa Maria, da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh).
No Hospital Universitário de Brasília, a Unidade de Serviço Social do Trabalho realiza o acolhimento ao colaborador e busca sensibilizar os funcionários sobre a importância do cuidado com a saúde mental.
"Realizamos atividades coletivas, rodas de conversas nas unidades, fazemos atendimentos individuais, que chegam a nós por demanda espontânea ou por indicação da chefia/supervisão, ou, até mesmo, por um colega de trabalho que já conhece o nosso serviço e indica para que seu amigo vá ser atendido pela nossa equipe multiprofissional. Nestas atividades coletivas as pessoas colocam o que sentem sobre suas demandas no trabalho, sobre sua vida pessoal, e é um momento muito importante porque tudo está intimamente relacionado”, pontua a assistente social do HUB- UnB/Ebserh Violeta Nolêto.
A assistente social acrescenta que “a saúde é um fator determinante da capacidade de trabalho - quanto melhor a qualidade de saúde, melhor a condição da capacidade para o trabalho, ou seja, a saúde, em sua integralidade, que inclui capacidade física e mental, influencia a qualidade da capacidade para o trabalho”.
Existem alguns fatores protetores nesse cuidado voltado à saúde mental como: a prática de uma atividade física, o cuidado com a alimentação, a espiritualidade, o equilíbrio financeiro, o cultivo de bons relacionamentos em família e amizades, além de buscar expressar seus sentimentos, falar o que sente.
Esse olhar sobre poder se expressar, considerar suas reflexões e validar seus sentimentos faz parte, desde 1997, do campo de atuação da Associação de Familiares, Amigos e Bipolares (AFAB) do Hospital Universitário de Santa Maria, da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh).
Complementar às ações da AFAB, foi criado em 2015 o Espaço Nise da Silveira, que desenvolve ações em Rede de Atenção Psicossocial, envolvendo capacitações e articulação em saúde mental, promovendo parcerias que envolvem rodas de conversas, grupos de testemunhos, pontos de leitura com obras sobre saúde mental, redes de afetos (que é um grupo virtual no WhatsApp), e congressos.
No espaço Nise da Silveira são desenvolvidos 15 subprojetos que envolvem atividades intersetoriais e interdisciplinares. A psiquiatra do HUSM-UFSM, especialista em Humanização na Atenção e Gestão do SUS, Martha Noal, coordenadora destes programas, explica sobre o Comunidade de Fala, projeto de parceria internacional que se propõe a dar voz àquelas pessoas consideradas especialistas por vivências, também chamados de docentes por experiência.
“São pessoas que têm a expertise, têm o conhecimento de ter vivido na pele o sofrimento emocional, seja uma tentativa de suicídio, uma crise psicótica, que passaram por internações e agora se reabilitaram. Quem está bem há um bom tempo passa a ser referência para quem está iniciando seu tratamento, quem está desesperançoso, quem não tem esse conhecimento ainda ou que está vivendo sob a lógica social dos preconceitos, dos estigmas em relação ao adoecimento psíquico, toda essa questão”.
A psiquiatra acrescenta que “Nada melhor do que alguém que já viveu isso para trazer essa experiência para outras pessoas”.
Ela explica que muitos alunos da UFSM assistem essas palestras enquanto estão na graduação na área da saúde para poder ter uma visão mais realista do adoecimento psíquico e não de que ele seja, inevitavelmente, uma situação implacável de incapacidade, de uma pessoa que vai ficar inválida para o resto da vida.
Saúde mental na adolescência
Os hospitais universitários vinculados a rede Ebserh também prestam assistência à saúde mental de adolescentes. A adolescência (10 a 19 anos) é uma fase que molda as pessoas para a vida adulta. Metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. O psiquiatra da Infância e da Adolescência do HUB-UnB/Ebserh, André Salles, explica que existem pontos que fazem com que os adolescentes tenham maior vulnerabilidade para desenvolverem transtornos mentais.
“A modulação das questões emocionais, das questões de sentimento, de humor, de emoções; tem a maturação do eixo neuroendócrino; do desenvolvimento neurobiológico, se a gente for pensar no amadurecimento do sistema nervoso central, que não amadurece de forma tão organizada; tem as mudanças hormonais; a sexualidade; as questões de maturidade específica de hormônios, em que os hormônios femininos, por exemplo, trabalham em ciclos, fazendo com que o humor também fique um pouco mais vulnerável a essas flutuações”, detalha o psiquiatra.
Estes fatores, aliados a questões familiares e influência genética, afetam essa característica de se ter uma curva aumentada de transtornos mentais na adolescência. O trabalho de prevenção deve considerar todas estas perspectivas biológicas, psicológicas e sociais.
“Para minimizar é preciso fazer a prevenção de todos os aspectos: quanto mais o adolescente tiver arsenal para se entender e entender o seu momento, e quanto mais estabilidade ele tiver (estabilidade social, estabilidade nas relações sociais, nos serviços que o Estado pode oferecer), tudo isso faz uma sociedade mais robusta, em que o jovem pode contar, se identificar, o que é fundamental para se trabalhar a prevenção de transtornos mentais”, recomenda André Salles.