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RELATOS DE QUEM CUIDA
Wilton de Souza e Silva relata sua história de amor à profissão
Eles cruzam os corredores dos hospitais como o sangue que circula pelas artérias. Assim são os maqueiros, na lida diária de acolhimento e transporte de pacientes para exames, centro cirúrgicos e leitos dos hospitais. E seus trabalhos vão muito além do que se pode imaginar, como explica o maqueiro há 17 anos do Hospital das Clínicas da UFG, vinculado à Rede Ebserh, Wilton de Souza e Silva: “A gente se apega aos pacientes, o coraçãozinho amolece e a gente vai se apegando. É assim!”.
Wilton tem 52 anos, nasceu em Minas Gerais (BH), mas mora há 50 anos em Goiânia. Sua trajetória profissional teve início como pintor de automóvel e depois como metalúrgico. Certo dia, recebeu convite para trabalhar como maqueiro no Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG), onde ficou por 4 anos.
Ele conta que se interessou pela profissão por ver o sofrimento das pessoas nos hospitais e o coração ‘amoleceu’.
“Eu percebi que eu também poderia ajudar os pacientes, como se algo tocasse meu coração ao ver o sofrimento dos outros. Eu sempre busco conversar com a pessoas que estão tristes, procuro dar uma palavra, um gesto de carinho!”.
“Eu não posso chegar com a cara feia perto do paciente. Sinto que tenho que alegrá-lo e fazer com que aquele problema que ele tem seja amenizado”.
Muito emotivo e empático, Wilton Silva fala de sua rotina de trabalho: “Quando eu comecei, eu fui me apegando, me apegando, até que fui ficando... Meu coraçãozinho foi se apegando!”. No dia a dia foi criando laços e fazendo amizade com os pacientes.
Ele ressalta sobre as habilidades necessárias para ser um bom profissional na área: “Eu sempre ensino para os colegas como chegar ao paciente, como se apresentar. Digo que é importante perguntar se o paciente quer alguma coisa. E o paciente acaba criando um vínculo também. Depois que recebe alta e volta ao HC, sempre me procura e cumprimenta. Até na rua sou reconhecido. As pessoas vão à Ouvidoria do HC e me elogiam. Tenho vários certificados de elogio”, diz.
Wilton se sente predestinado: “Eu gosto muito da minha profissão. Foi o destino que Deus e o meu coração que me fazem estar aqui e querer fazer parte da vida do paciente. Eu já sofri muito por causa de paciente, porque me envolvo”.
Amizade e a dor da partida
Dentre as lembranças que carrega de pacientes que transportou, Wilton conta uma que o marcou bastante: a história de uma paciente da hemodiálise que chegou ao hospital com cerca de 32 anos e pesava 160 kg. Ela era carregada pela maca de rodas, com a ajuda de mais dois colegas maqueiros para transportá-la. Ela sempre brincava que ele e os outros maqueiros eram namorados dela. Ela chegou a emagrecer, depois de anos de tratamento, e ficou muito bem. “Nossa amizade era muito boa, e eu conhecia a mãe, a filha, o marido dela. Mas, infelizmente, após uma fatalidade, voltou ao hospital onde ficou na UTI do HC. Um dia, quando fui chamado na UTI para transportá-la, eu não sabia que ela tinha falecido. Não me avisaram. Fiquei em choque!” (pausa na fala). Não consegui transportá-la!” (choro).
Wilton também conta que já vivenciou várias histórias muito positivas. “Quando a gente vê o paciente bem, quando ele está de pé, andando, sorrindo, eu fico tão feliz que me dá vontade de chorar!” (se emociona).
Ele conta que não quer, por nada, carregar bebês sem vida. E diz: “Pode me pedir para fazer outras coisas, menos isso!”, enfatiza.
Para Wilton Silva, o bom maqueiro deve tratar o paciente bem, saber conversar: “O paciente não está bem e muitas vezes está nervoso, por isso é importante ser carinhoso. Deve estar sempre com os EPI’s (luvas, touca, capote, máscara, uniforme, crachá de identificação), oferecer segurança ao paciente no transporte e manter contato, conduzindo a maca ou a cadeira numa velocidade tranquila, freando sempre na descida das rampas”.
Família
Casado há 31 anos com Cristiane Silva, possui três filhas, Michele, Franciely e Andreza, todas casadas, e possui três netos. De acordo com Wilton, a família sempre deu total apoio e suporte ao trabalho e sempre soube das dificuldades enfrentadas dentro de um hospital.
Wilton Silva finaliza seu relato deixando uma mensagem aos colegas de profissão: “Eu sou grato por ser maqueiro e sou grato por ensinar aos outros maqueiros tudo o que sei. Vejo que os novatos, que entram agora, também são dedicados aos pacientes e eu fico feliz por cada um, por gostarem também do trabalho e o executarem com cuidado e amor!”.