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RELATOS E HISTÓRIAS
Tratada no HC-UFG, a manauara Themis Gandra recorda: “Jeito carinhoso, dedicado e certeiro de mostrar que não estávamos sós!”
O ano de 2021 ficará marcado na memória de todos aqueles que, de alguma forma, continuaram sofrendo com os impactos da pandemia de Covid-19, especialmente, quando falamos da população Amazonense e o episódio do colapso da falta de cilindros de oxigênio, em meados do mês de janeiro, gerando um caos no sistema de saúde pública local e muitas mortes.
E é a partir deste triste contexto que vamos contar a história da manauara Themis Lima Gandra, de 56 anos, motorista de aplicativo, que conseguiu vencer a Covid-19, após tratamento realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás – HC-UFG, vinculado à Rede Ebserh.
Themis conta que morava com os pais em Manaus e que tem dois irmãos, a Circe, de 59, e o André, de 49, que não moravam com ela. A irmã mais velha foi a primeira a adquirir a doença, antes do Natal de 2020. E como elas sempre tinham os mesmos problemas de saúde, desde pequena, como se fossem irmãs gêmeas, Themis resolveu se tratar antecipadamente com os medicamentos que haviam passado para sua irmã.
No entanto, no dia 25 de dezembro, vieram os primeiros sintomas: febre, moleza no corpo, dores musculares. A partir de então, suspeitando estar com Covid, decidiu por conta própria se isolar no seu quarto. No dia 27, por meio de uma tomografia, foi constatado que 25% do seu pulmão estava comprometido.
Os pais de Themis foram para a casa de uma sobrinha e ela ficou sob os cuidados do único filho, Alberto Rubens Gandra Neto, de 32 anos e acompanhamento de uma amiga médica.
Ainda em casa, ganhou de seus sobrinhos um respirador doméstico, mas que já não estava suprindo suas necessidades respiratórias.
Início da tormenta
Themis viu sua situação piorar de forma rápida. “Minha situação foi se agravando, então eu ganhei um cilindro de oxigênio de 3 litros de minha irmã. No dia 12 de janeiro, tentei vaga no Hospital 28 de Agosto, mas não consegui, porque não apresentei meu cilindro (oxigênio). Com 80% do meu pulmão comprometido, fui parar na Sala Rosa do Hospital João Lúcio, destinada a pacientes com Covid-19. Comigo, eram mais 69 pessoas infectadas, uma cena terrível”.
Themis viu pessoas morrendo e, sentada numa cadeira de plástico, aguardava um leito para poder se deitar, mas só conseguiu uma maca após a morte de um paciente. “A enfermeira passou álcool naquela maca e eu imediatamente me deitei, estava exausta”, relata.
Apesar de ser bem tratada no hospital, Themis conta que não estava conseguindo se recuperar, pois eram muitos pacientes, ainda que os enfermeiros estivessem dando o seu melhor, dividindo, inclusive, oxigênio entre os pacientes, para que não faltasse.
“Quando ia conseguir uma transferência para o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), com ajuda de minha amiga médica, não consegui sair do João Lúcio por falta de ambulância, devido à grande demanda. Foi aí que percebi que Deus me deu um livramento. Posso dizer que eu andei pelo vale da sombra da morte”, ressalta.
Transferência de estado
Diante do cenário de horror, com aumento do número de casos de Covid-19, o colapso da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus deflagrado no dia 14 de janeiro e o aumento significativo do número de mortes, foi dado início à triagem de pacientes que seriam transferidos para sistemas de saúde de outros estados, por determinação do Ministério da Saúde.
Themis, então, foi questionada pela assistente social do hospital em que estava, se tinha interesse em ser transferida. Ela disse que poderia, mesmo sem saber qual seria o seu destino.
Então, no dia 18 de janeiro de 2021, Themis foi transferida em avião da Força Aérea Brasileira (FAB), por volta das 13h para Goiânia (GO). Alberto, seu filho, a acompanhou, mas em voo comercial.
Recepção e atendimento no HC-UFG
Para Themis, a chegada em Goiânia deu a ela uma nova esperança. “Minha chegada em solo goiano foi emocionante, pois já haviam muitas ambulâncias e equipes de saúde aguardando no aeroporto (choro). Durante o transporte, do aeroporto Santa Genoveva até o Hospital das Clínicas, a enfermeira que me acompanhou ia dizendo: ‘Estamos passando por ruas muito arborizadas e nos cruzamentos das avenidas, há batedores, para não haver trânsito até nossa chegada ao hospital’. Nesse momento, me senti escolhida e dei Glória a Deus!”, disse.
Ela relata que a recepção e o atendimento no Hospital das Clínicas da UFG foram os melhores possíveis. “Fui recepcionada como se eu estivesse num hotel, ficamos numa ala nova, cada um com um quarto. Fizeram vários exames, nunca vi tantos ‘cotonetes’ (risos). Colocaram aquela bata em mim e me deram tranquilidade. Me fizeram sentir a convicção de que eu ficaria boa ali. A equipe teve o cuidado de me passar isso”.
E Themis conta, de modo enfático, das lembranças do atendimento. “A equipe foi de um cuidado, de um profissionalismo, de um respeito! Sou extremamente grata por todo o cuidado que tiveram comigo, com os meus! As pessoas nos tratavam pelo nome. Da comida, com mensagens nas marmitas a hora do banho, o cuidado! O que fica na minha recordação é o jeito carinhoso, dedicado e certeiro de mostrar que não estávamos sós, mesmo longe da família e da minha cidade. Sabe quando pouco é muito? Ainda quero voltar lá no HC e poder abraçar e agradecer cada um pelo profissionalismo e cuidado com que me trataram”, concluiu Themis, emocionada.
Vida nova
Hoje, Themis Gandra vive bem. Torcedora do Vasco da Gama, esbanja espiritualidade e um sorriso cativante no rosto. Na volta para Manaus, ainda ficou alguns meses sem trabalhar por conta do cansaço físico, sequela da doença. Hoje, ela conta que está voltando a fazer novos exames. “Como motorista de aplicativo, dependo do SUS. Mas, antes da minha alta, tive a oportunidade de fazer exames que nunca havia imaginado fazer por não ter condições financeiras. Saí do Hospital das Clínicas com um verdadeiro check-up”.
Themis ainda cuidou do pai que estava doente, com câncer e que faleceu em setembro de 2021. Ela acredita que o fato de ter ficado viva, foi prova da misericórdia de Deus. A irmã, Circe, está bem e faz acompanhamento da saúde com regularidade.
Do HC-UFG ela guarda a experiência que nunca mais esquecerá: “Senti um calor humano muito parecido com o nosso daqui! As pessoas estavam empenhadas em se mostrar à nossa disposição, para nos transmitir confiança e para que pudéssemos ter nossas dores amenizadas!”.
A lição que Themis tira da experiência vivida? “Sou muito grata a todos que cuidaram de mim e com muito amor. Sou grata a Deus, por ter me colocado nas mãos de pessoas competentes e disponíveis no tratar ‘dos outros’ que nem conhecem. A isso chamo AMOR!”.
Texto: Aretha Lins
Fotos: Arquivo pessoal de Themis Gandra
Unidade de Comunicação Social do HC-UFG/Ebserh