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FEVEREIRO ROXO E LARANJA
Lúpus: tratamento assertivo garante a qualidade de vida aos portadores
Em fevereiro, as doenças incuráveis são lembradas para ganhar relevância acerca do diagnóstico precoce e dos tratamentos possíveis. Entre essas doenças, o Lúpus é uma das mais graves e importantes, pois pode acometer vários órgãos.
Por isso, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (HC-UFG/Ebserh) entrevistou Ana Carolina Montandon, médica reumatologista, coordenadora do Ambulatório de Reumatologia, para debater o Lúpus e suas principais manifestações.
HC: O que é o Lúpus? Por que o lúpus ganha destaque entre as doenças incuráveis e autoimunes?
ANA CAROLINA: Lúpus é uma doença autoimune, ou seja, ocorre quando o sistema imunológico passa a atacar estruturas do próprio organismo produzindo inflamação. Vários órgãos podem ser afetados: pele, articulações, rins, pulmão, coração, cérebro e vários outros. Tem importância porque frequentemente acomete indivíduos jovens, principalmente as mulheres, causando sintomas que só melhoram com o tratamento adequado.
HC: Quais fatores podem aumentar as chances de desenvolver a doença?
ANA CAROLINA: Lúpus é uma doença geneticamente determinada, em que a pessoa nasce com alguma alteração genética que predispõe à doença. Entretanto, para que essa predisposição genética possa desencadear a doença, é necessária a interação com outras condições, tais como a exposição solar, o tabagismo, o álcool, o estresse psíquico, infecções ou medicações.
HC: Quais são os principais sintomas?
ANA CAROLINA: Os sintomas do Lúpus são diversos e variam em intensidade de indivíduo para indivíduo. No início da doença os sintomas mais comuns são as manifestações de pele – sensibilidade ao sol, manchas na pele, queda de cabelo, dor e inchaço das articulações – e sintomas gerais – febre, cansaço, emagrecimento, perda do apetite. Outras manifestações menos comuns, porém mais graves, também podem ocorrer, tais como:
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inflamação nos pulmões e coração, causando dor ao respirar, tosse seca, falta de ar e dor no peito;
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inflamação nos rins, que é uma das manifestações mais preocupantes e que ocorre em aproximadamente 50% dos pacientes. Nas formas mais graves evolui para pressão alta, inchaço nas pernas, urina espumosa e com sangue. Quando não tratada rapidamente e adequadamente, pode haver evolução para insuficiência renal e o paciente pode precisar fazer diálise ou transplante renal;
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inflamação do sistema nervoso, podendo causar convulsões, acidente vascular encefálico, alterações de humor ou comportamento (psicoses), depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal;
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alterações das células do sangue, que ocorrem por destruição das células, causada por anticorpos produzidos pelo próprio paciente, podendo acarretar em anemia, leucopenia, linfopenia ou plaquetopenia.
HC: Quais exames são usados para investigar o Lúpus?
ANA CAROLINA: A investigação do Lúpus é iniciada durante a consulta com um médico reumatologista habilitado no reconhecimento dos sintomas que possam estar relacionados à doença. Nesta consulta, o especialista realizará uma entrevista com o paciente, bem como um exame físico minucioso e a solicitação de exames complementares de acordo com as queixas e sintomas. Dentre os exames laboratoriais, existe um exame que deve ser sempre solicitado: FAN (fator ou anticorpo antinuclear). Embora não seja um exame exclusivo para diagnóstico do Lúpus, quando positivo e em títulos elevados em uma pessoa com sinais e sintomas característicos, permite o diagnóstico assertivo. Outros testes laboratoriais que confirmam a suspeita diagnóstica é a presença de anticorpos anti-Sm e anti-DNA, que são específicos para a doença, assim como o consumo de frações do complemento (C3 e C4).
HC: Quais são os tratamentos possíveis, caso o diagnóstico seja confirmado? É possível ter qualidade de vida mesmo com a doença? Quais cuidados precisam ser tomados?
ANA CAROLINA: O Lúpus não tem cura, mas tem controle. Para isso, é fundamental que o tratamento seja realizado de forma correta, com acompanhamento regular com o reumatologista, o uso das medicações prescritas, a adoção de hábitos saudáveis e a fotoproteção – proteção contra os raios solares. O tratamento dessa enfermidade deve ter como guia o grau de severidade e os órgãos acometidos pela doença. O uso de corticóides, via oral ou em pulsoterapia endovenosa, hidroxicloroquina e imunossupressores podem contribuir no controle e na remissão do quadro. É possível ter uma vida normal e de qualidade, desde que o tratamento seja realizado. O acesso gratuito às medicações necessárias é disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, no Centro Estadual de Medicação de Alto Custo Juarez Barbosa (Cemac JB).
HC: Quais serviços relacionados ao diagnóstico e ao tratamento do Lúpus o HC-UFG/Ebserh oferece? Ou como é feito o encaminhamento no HC-UFG/Ebserh do paciente com lúpus?
ANA CAROLINA: O HC oferece consultas de primeira vez, para o diagnóstico, e de acompanhamento, para os pacientes já diagnosticados com a doença. Para ter acesso à consulta inicial, o cidadão deve ser encaminhado pela Secretaria Municipal de Saúde ou por algum médico do próprio HC, desde que o paciente já esteja em atendimento neste hospital. Além disso, também é possível internação em enfermarias ou em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para os casos mais graves.
Por Vitória Castro (Estagiária em Jornalismo)