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CONSCIENTIZAÇÃO
Hospital das Clínicas da UFG/Ebserh realiza evento em alusão ao Dia Mundial da Doença de Chagas
O Hospital das Clínicas da UFG/Ebserh realizou na manhã desta quarta-feira (13/04), no Ambulatório de Doença de Chagas, evento em comemoração ao Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado no dia 14 de abril. Com o tema “Uma conscientização necessária para enxergar o paciente para além da doença", o evento reuniu portadores da doença e profissionais de saúde que discutiram a importância de divulgar a prevenção, sintomas e tratamento da doença.
O evento contou com colaboração da Coordenação Estadual de Zoonoses da Superintendência de Vigilância em Saúde (SUVISA), em parceria com a Associação Goiana dos Portadores de Doença de Chagas (AGPDC). A biomédica do Laboratório de Chagas e responsável técnica pelo Programa Estadual de Chagas, Liliane da Rocha Siriano, iniciou recordando que o evento não é comemorativo, mas faz alusão ao dia 14 de abril, um dia de luta pelos direitos dos pacientes, pois essa é uma doença negligenciada e não se fala muito sobre o assunto, apesar de existirem muitos portadores da doença no Brasil. Liliane agradeceu a parceria das instituições presentes, que auxiliam no diagnóstico e tratamento da doença.
Na sequência, os convidados e pacientes ouviram o relato da presidente da Associação Goiana de Portadores de Doença de Chagas (AGPDC), Nilva Belo de Morais, que contou aos presentes como descobriu a doença e a luta para iniciar o tratamento, há 9 anos, e todo o preconceito que sofreu por ter a doença e pela desinformação sobre o assunto.
“O tratamento é gratuito e é pelo SUS. Meu depoimento é um incentivo como motivação de uma luta que muitos não sabem como iniciar. Falta informação e informação é tudo! É uma doença negligenciada. Que as pessoas conheçam o tratamento de ponta, maravilhoso. Hoje, eu levo uma vida saudável, com um ritmo de vida em que eu trabalho, dou aula de teatro, dança, escrevo, leio. Sou uma leitora voraz!”, afirmou.
Outro membro da AGPDC, a fisioterapeuta Sirlene Souza dos Santos, de 44 anos, que mora em Goiânia há 21 anos, também falou da sua luta para fazer seu tratamento na cidade, pesquisando sobre o assunto e fazendo contatos, até conseguir apoio na AGPDC e começar a levar uma vida normal. “A Chagas é uma doença muito dolorosa para mim, porque tirou minha mãe, meu irmão e me afastou de todas as minhas atividades, pois hoje eu estou aposentada”, relatou.
Ana Lúcia Minuzzi e José Vicente Macedo Filho, representantes do Instituto de Diagnóstico e Prevenção da (APAE) de Goiás, abordaram o tema: Importância da triagem para doença de Chagas nos exames Pré-natais - Teste da Mamãe.
Para Vicente Filho, esse programa foi criado diante das dificuldades, no Acre, por solicitação de um secretário estadual. “Por meio desse teste, descobrimos várias patologias, dentre elas, a Chagas. Aqui em Goiás, começamos em 2003, com o professor Luquetti. Identificamos que a Chagas é a terceira patologia mais diagnosticada no Teste da Mamãe, atrás apenas da Sífilis e da Toxoplasmose”, salientou. Em seguida, ele destacou a parceria com o Laboratório de Chagas. “Estamos conseguindo que o Pré-Natal comece mais precocemente, com 12 semanas de gestação, para que a gente consiga alcançar os assintomáticos. Hoje vemos bebês com Chagas, com cura de 100%. O Teste da Mamãe é totalmente gratuito e está disponível em todas as unidades de saúde do Estado de Goiás”.
Ana Lúcia Minuzzi lembrou que é durante a gestação que a maioria das mulheres procura o serviço público de saúde, uma porta de entrada para o diagnóstico da doença. “É nesse momento que entramos. No nosso ambulatório, passamos por várias dificuldades. Atendemos pacientes de outros municípios que chegam muito cedo, com fome... damos lanche, almoço, arrumamos sala de espera. Diante de todas as dificuldades, estamos fazendo a diferença na vida das pessoas”, concluiu.
Representando no evento a superintendente de Vigilância em Saúde (SUVISA/SES), Flúvia Pereira Amorim da Silva, Ana Cristina Gonçalves de Oliveira, gerente da Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis, falou que hoje há tecnologia e acesso à informação, sendo necessárias a ação e a tomada de decisão. “Nossa superintendente apoia todas as ações que temos trabalhado junto à APAE, como a articulação junto às gestantes, ações para formarmos um banco único, para descobrirmos os meios de transmissão, traçar estratégias de como melhorar o diagnóstico, saber o fluxo desde a atenção primária até o ambulatório de especialidade.
Ana Cristina de Oliveira destacou ainda que o HC-UFG tem como papel ampliar para os gestores de outros estados a sensibilidade para o diagnóstico precoce, falar sobre o teste rápido da doença. “Devemos melhorar a comunicação, a informação, para garantirmos o acesso à população de uma melhor assistência, com acesso aos cardiologistas, assim como o acesso a endocrinologistas para o tratamento do diabetes”.
Já Ana Cristina Novaes Mendes, diretora técnica do Hemocentro de Goiás, destacou que muitas vezes quem contraiu a doença não mora numa casa de palafita, mas recebeu uma transfusão sanguínea, ressaltando a importância dos testes e do papel do hemocentro.“Hoje, a chance de receber uma sorologia positiva é muito menor. A pessoa pode ter morado numa casa maravilhosa, mas recebeu uma transfusão há anos com janela imunológica ou uma sorologia falsa negativa”, explicou.
“Verificamos que a Doença de Chagas está próxima do HIV, com 0.15% de sorologia positiva, o que representa 60 pacientes que são assintomáticos, na maioria das vezes. O hemocentro tem como missão propor uma transfusão sanguínea segura, para que o paciente não venha a chegar aqui no laboratório anos depois com a doença ou nem chegar”, observou. Mendes fez ainda um agradecimento aos profissionais de saúde envolvidos com a causa. “É emocionante sair daqui com gratidão, que temos hoje vocês como “anjos” dentro da saúde. Todos nós temos uma missão: de contribuir para que haja a mudança!”, concluiu.
O professor associado da Universidade Federal de Goiás e representante do Serviço de Chagas do HC, Alejandro Luquetti, destacou que o Dia Mundial da Doença de Chagas foi criado para lembrar que a doença existe, mas até hoje é muito negligenciada. “Essa não é uma data para comemorar, mas para chamar a atenção das autoridades governamentais de que existem muitos portadores da doença e, apesar disso, muitos encontram dificuldades para ter acesso ao tratamento. Aqui no HC, possuímos todas as condições para fazer o diagnóstico e tratamento da doença”, afirmou.
A paciente Maria Lúcia Nunes Queiroz, de 68 anos, presente no evento de forma ativa, se trata no HC há 21 anos e achou o evento muito importante. “Gostaria que esse mesmo evento fosse também para os bairros, para as unidades básicas de saúde, para alcançar mais pessoas. Os integrantes deste evento ajudaram muito e pessoas assim movem o Brasil, movem Goiás”, afirmou.
Notificações
A representante do Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar do HC, Ângela Cristina Bueno Vieira, abordou o tema “Notificações da Doença de Chagas num hospital universitário entre 2020 e 2021”.
Ângela Vieira falou da missão do HC em investigar, identificar o paciente e se ele foi notificado no sistema. “Durante a pandemia, a Doença de Chagas foi uma das comorbidades que agravou os casos de pacientes com Coronavirus. “Tivemos muitos casos de pacientes que tinham diagnóstico de Chagas e que foram a óbito, uma das comorbidades que agravavam os casos.
“Em 2020 tivemos 168 casos notificados somente no HC-UFG, um número muito alto. Já em 2021, foram 140 casos notificados, número ainda expressivo, pois sabemos que existem as subnotificações”, salientou. Ângela lembrou que as notificações são feitas pelas Unidades Básicas de Saúde que fazem um excelente trabalho e o HC-UFG complementa o serviço. “As ações voltadas para o tratamento e diagnóstico da doença são extremamente importantes. São ações que, apesar das dificuldades, devem ser enaltecidas!”, ressaltou.
A chefe da Divisão de Enfermagem, Cláudia de Paula Guimarães, representando no evento o superintendente do Hospital das Clínicas da UFG/Ebserh, José Garcia Neto, durante sua fala, lembrou que saúde pública não se faz sozinha. “Todos somos SUS! Todos trabalhamos juntos! Esses movimentos, como eu vi hoje aqui, sinalizam que o termo “doença negligenciada” está em transição, pois existe toda uma rede de pessoas se mobilizando para garantir mais facilidade de acesso ao diagnóstico e tratamento para os portadores da doença”, refletiu.
Guimarães ainda ouviu sugestões de pacientes presentes e disse que iria levar para a Gerência de Atenção à Saúde do HC todas as reinvindicações para a melhoria da assistência aos pacientes do ambulatório de Chagas.
Assista ao vídeo do Ministério da Saúde com o depoimento da presidente da AGPDC, Nilva Belo de Morais, e entrevista com a biomédica do Laboratório de Chagas do HC-UFG, Liliane Siriano.