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PALESTRAS
HC-UFG realiza ciclo de palestras sobre TEA e debate tema com profissionais de saúde da instituição
Dia 18 de junho é considerado o Dia do Orgulho Autista, a data foi criada com o objetivo de desmistificar o autismo e suas particularidades, mostrando que autismo não é uma “doença” e sim uma condição. É uma data de celebração e luta por respeito aos direitos e à neurodiversidade.
Nesse contexto, o Hospital das Clínicas da UFG, vinculado à Rede Ebserh, através da Unidade de Saúde Mental, organizado pela neuropsicóloga, Luiza Borges Pinheiro e pela psicóloga hospitalar, Suelen Cristina Mota, organizou um Ciclo de Palestras que envolveu os diversos profissionais de saúde da instituição com o intuito de capacitar os profissionais quanto ao manejo de comportamento atípico de pacientes com Transtorno do Espectro Autista – TEA, durante a internação hospitalar, além de promover conhecimento sobre a rede de atendimento aos pacientes no SUS.
O Ciclo de Palestras de Conscientização do Transtorno do Espectro Autista aconteceu de 10 a 21 de junho e incluiu palestras com profissionais das áreas de nutrição, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, odontologia e fisioterapia, além de um minicurso sobre a caracterização e o manejo sobre o paciente com TEA. O encerramento se deu com uma mesa redonda com o tema “A rede de atendimento ao paciente com TEA no SUS”.
O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de comunicação e de interação, dificuldade de socialização e padrões repetitivos e restritos de comportamento, atividades ou interesses. Os sinais de alerta surgem nos primeiros meses de vida, mas a confirmação do diagnóstico costuma ocorrer aos dois ou três anos de idade.
Dentre as palestras, aconteceu um minicurso ministrado pelo médico psiquiatra da UFG Marcelo Trindade Júnior e pela neuropsicóloga Lara Rabelo Costa. Marcelo Trindade Júnior abordou a importância de tornar o ambiente hospitalar o mais próximo da realidade da casa do paciente com TEA. “O ambiente hospitalar já é hostil para a criança que interna, imagina para uma criança com TEA, em que se altera completamente a rotina dela? Então, temos que tentar entender a condição desse paciente com TEA e tentar reduzir os desconfortos que o ambiente estranho a ele causa. Então, esse ambiente precisa ser o mais próximo do ambiente da casa dele. Se não, ele pode entrar numa situação de desregulação emocional, num nível de ansiedade importante e até se agravar a situação clínica para a qual ele foi internado para se tratar”, destacou Marcelo Trindade.
Trindade destacou também a importância da articulação da equipe que atende esse paciente no ambiente hospitalar. “É importante fazer a articulação da equipe, desde a portaria, que vai fazer o registro da entrada do paciente, até o momento que tiver alta do hospital. O trabalho deve ser multi e interdisciplinar, ou seja, a equipe tem que se comunicar para melhor compreender esse paciente”.
A neuropsicóloga Lara Costa abordou as estratégias que os profissionais de saúde podem utilizar para minimizar os desconfortos da internação para o paciente com TEA, como reduzir a luminosidade do quarto, barulhos e efeitos sonoros e se atentar para as questões sensoriais.
“A internação tira esse paciente da sua rotina. E essa sistematização de rotina tranquiliza e acalma esse paciente. Com a internação, eu retiro esse paciente de toda essa ritualização que o ajuda a se organizar. Então, hoje vamos aqui pensar no que podemos fazer dentro do contexto hospitalar para favorecer ou ajudar esse paciente para que o período de internação não seja acrescido de um sofrimento que às vezes é sensorial ou leva a uma desregulação emocional”, salientou Lara. “A desregulação emocional não é somente uma birra. Ela pode levar até dias para que aquela criança autista volte à sua rotina e se estabilize emocionalmente”, complementou.
Na sexta-feira, 21/06, o público participou da mesa redonda “A rede de atendimento ao paciente com TEA no SUS”, com os palestrantes Eliezer Rangel Cordeiro, diretor de Responsabilidade Social da Rede TE!A, uma entidade filantrópica que trabalha com o desenvolvimento de crianças com TEA, e Beatriz Mota, psicóloga da APAE Goiânia.
Eliezer Cordeiro trouxe dados do CDC Americano, nos Estados Unidos, que é a principal fonte de pesquisa que o Brasil utiliza como referência para os estudos sobre TEA. Segundo Eliezer, estudos feitos nos EUA mostram que os gastos com intervenção precoce é o melhor caminho para o tratamento de pessoas com TEA, apesar disso, o Brasil evoluiu muito pouco nesse processo de investigação sobre o autismo. Ele também abordou questões que envolvem as famílias e a sociedade, como as dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias com pessoas autistas, dificuldades enfrentadas pelos casais para manterem o matrimônio após o nascimento de uma criança autista e crianças que passam a regredir após interrupção do processo de tratamento na rede de saúde.
Eliezer falou ainda das leis que garantem direitos a pessoa autista, como a Lei 12.764/12, que equipara a pessoa autista a pessoas com deficiência e, por consequência, a pessoa autista passa a ter os mesmos direitos legais previstos na lei, como cotas em cursos superiores e vagas de estacionamento.
Por último, a psicóloga da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) Beatriz Mota falou sobre a história da associação e detalhou como é realizada a triagem e como são realizados os atendimentos de crianças com TEA. O atendimento pode ser individual ou em grupos. Ao final, foi aberto ao público participante a interação com os palestrantes através de perguntas.
“Esse projeto do Ciclo de Palestras trouxe para o HC-UFG/EBSERH a oportunidade de debatermos com os nossos profissionais as diversas nuances e os diversos olhares no contexto do cuidado prestado ao indivíduo em condição de neurodiversidade. E com essa proposta de trazer vários profissionais de referência na assistência a esse perfil de paciente, o esperado foi qualificar nossas equipes aumentando a segurança dos profissionais do hospital para a realização do acolhimento e cuidado dos usuários com espectro autista, em todas as faixas etárias e de forma integral”, concluiu o Chefe da Unidade de Saúde Mental, Jander Vinícius Vieira.
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde dezembro de 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.