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SAÚDE
1º de agosto: Dia Nacional dos Portadores de Vitiligo
Podendo afetar homens, mulheres e até mesmo crianças, o vitiligo é uma enfermidade caracterizada pela perda da coloração da pele. Mesmo não comprometendo a saúde física, a doença costuma causar considerável danos na autoestima das pessoas acometidas por ela. Para saber mais sobre o tema, leia a entrevista com a médica, mestra em Medicina Tropical, professora assistente do Departamento de Medicina Tropical e Dermatologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital das Clínicas da UFG, hospital vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Camilla de Barros Borges.
1.O que é vitiligo, quais as suas causas e principais características?
O vitiligo é uma doença caracterizada pela perda da coloração da pele. As causas da doença ainda não estão claramente estabelecidas, mas fenômenos autoimunes parecem estar associados ao vitiligo, isto é, quando o próprio organismo produz autoanticorpos contra os melanócitos, que são células que dão a coloração normal à pele, deixando-a acrômica (sem cor). Além disso, alterações ou traumas emocionais podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam a doença, bem como fatores genéticos. Não é contagiosa e o indivíduo pode conviver normalmente em sociedade.
A doença pode acometer homens, mulheres e até crianças, de diferentes idades e raças, sem comprometimento da saúde física, mas com considerável perda da autoestima, já que as manchas afetam drasticamente a estética dermatológica. Muitas vezes surge após algum trauma emocional (perda familiar, separações, mudanças de escola, cidade ou casa, etc.). O vitiligo pode estar associado a outras doenças autoimunes, como lúpus, hepatites e tireoideopatias.
2. Quais os tipos de vitiligo e quais as diferenças entre eles?
Os tipos mais comuns de vitiligo são:
*Localizado:
- Focal: exibe uma ou mais manchas brancas em determinada região, sem distribuição específica;
- Segmentar: caracterizado pela presença de uma ou mais máculas seguindo a distribuição de um dermátomo (um segmento do corpo).
*Generalizado:
-Acrofacial: caracterizado pela presença de lesões típicas na parte distal das extremidades e na face.
-Vulgar: é o tipo mais comum, são manchas brancas com distribuição variável.
- Misto: quando ocorre a combinação de dois ou mais tipos.
-Universal: Quando acometem mais de 50% do corpo.
3. Existem formas de prevenção do vitiligo?
Não existe prevenção, pois se trata de uma doença de causa genética e emocional.
4.Como ocorre o diagnóstico da doença?
O diagnóstico do vitiligo é essencialmente clínico, pois as manchas brancas têm, geralmente, localização e distribuição características. A biópsia cutânea revela a ausência completa de melanócitos (células responsáveis pela formação da melanina, pigmento que dá cor à pele) nas zonas afetadas, exceto nas bordas da lesão, e o exame com lâmpada de Wood (luz de 351nm que reflete uma fluorescência branco-azulada na pele acometida) pode ajudar na detecção da doença. Exames de sangue deverão incluir um estudo imunológico que poderá revelar a presença de outras doenças autoimunes como hepatite autoimune e doença de Addison ou doenças da tireoide. O histórico familiar também é considerado, pois cerca de 30% dos pacientes têm algum parente com a doença.
Os exames, inclusive a biópsia, podem ser feitos na rede pública, nos serviços especializados como, por exemplo, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG).
4. Ao serem diagnosticados com o vitiligo, quais as orientações devem ser seguidas pelos pacientes?
Pacientes devem evitar fatores que possam precipitar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes, como usar roupas apertadas, ou que provoquem atrito ou pressão sobre a pele, e diminuir a exposição solar. Isso porque o vitiligo é uma das doenças cutâneas que apresentam “Fenômeno de Koebner”, ou seja, traumas em região de pele sã desencadeia, nesta, o surgimento de lesões semelhantes às pré-existentes. Controlar o estresse é outra medida bem-vinda.
5.Como se dá a evolução da doença e quais as áreas mais comumente são acometidas por ela?
A evolução da doença é variável: pode acometer desde pequenas áreas, até grandes extensões do corpo. Quanto mais precoce instituir tratamento, mais chances têm de repigmentação, ou seja, voltar a coloração normal da pele.
6. Como ocorre o tratamento da doença?
Atualmente, existem resultados excelentes no tratamento da doença. O fato de não se poder falar em cura, não quer dizer que não haja várias opções terapêuticas. O paciente tem que acreditar e buscar ajuda médica.
O tratamento visa cessar o aumento das lesões (estabilização do quadro) e a repigmentação da pele. O tratamento do vitiligo é individualizado, os resultados podem variar consideravelmente entre uma pessoa e outra. Por isso, somente um profissional médico qualificado (dermatologista) pode indicar a melhor escolha.
As opções de tratamento incluem medicações tópicas e orais, associadas ou não à fototerapia, uma modalidade terapêutica muito utilizada e eficaz no vitiligo. Consiste no tratamento com um aparelho que emite radiações UV (ultravioleta), tanto a UVA quanto a UVB. O tempo de permanência no aparelho varia de acordo com o tipo de pele.
O HC-UFG é o único serviço público do estado de Goiás que fornece esse tratamento. No ambulatório de Dermatologia é feito também tratamento cirúrgico (enxerto de pele sã do próprio paciente, na pele lesada), no caso do vitiligo estável, ou seja, que não está mais progredindo.
7. Considerações finais.
O vitiligo é ainda uma doença estigmatizante e os pacientes podem desenvolver sintomas emocionais em decorrência da doença. As lesões provocadas pela doença, não raro, impactam significativamente na qualidade de vida e na autoestima. Portanto, em grande parte dos casos, o tratamento do vitiligo deve estar associado a um acompanhamento psicológico. No Ambulatório de Dermatologia do HC-UFG temos alguns pacientes sendo acompanhados pela Psicologia do próprio Hospital. Nessa doença é muito importante o apoio multidisciplinar.