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Terapeutas ocupacionais relatam o dia a dia da profissão em ambiente hospitalar – parte 1
Luana Cunha/HC-UFTM e UCS do HC-UFTM/Ebserh
De janeiro a setembro de 2021, os terapeutas ocupacionais do HC-UFTM/Ebserh assistiram mais de 2,4 mil pacientes no complexo hospitalar, realizando desde intervenções a preparações para altas e encaminhamentos. No Centro de Reabilitação, foram 638 atendimentos. Já as órteses, próteses e materiais especiais totalizam 371 entregas, no período. Profissionais dessa área que atuam no Hospital de Clínicas da UFTM/Ebserh/MEC retrataram as atividades que desenvolvem na instituição.
Ana Paula Vieira Artiaga
A brasiliense Ana Paula Vieira Artiaga (32) entrou para o time do HC em junho de 2021, voltando-se para a demanda de adultos e idosos provenientes da Neurologia e da Ortopedia. Muitos deles dependem de ajuda para fazer movimentos mais corriqueiros. “Só quem vive sabe a dimensão da perda. E quem consegue usar [um aparelho/equipamento] sozinho, é gratificante para ele e para nós também”, afirma.
Ana Paula se refere aos materiais que ela e os outros T.O. criam, de acordo com as particularidades da ocorrência e, também, do material disponível. A inventividade e a proatividade já se tornaram corriqueiras entre eles.
“Um paciente com cerca de 20 anos levou um tiro e perdeu o movimento das pernas, mãos e punhos, porém movimentava o cotovelo em direção à boca; ele ficou muito resistente às intervenções. Fiz uma adaptação em material emborrachado para fixar na mão a escova de dentes, de cabelo, o aparelho de barbear... e ele conseguiu fazê-lo sozinho. Depois de tantos meses no hospital a adaptação otimizou o desempenho ocupacional desse paciente. Foi tão legal que coloquei a adaptação e ele já levou à boca; não conseguia verbalizar, mas a expressão mudou. Ele e a mãe agradeceram, levaram para casa”, relembra. A eficiência do aparelho e o resultado puderam ser traduzidos pelo questionamento: “Onde eu compro isso?”
Daniela Mendes dos Santos
Adentrando o HC-UFTM, Daniela Mendes dos Santos (36), nascida em Uberaba, para no corredor e cumprimenta com afabilidade uma funcionária, com quem troca palavras carinhosas. “É minha tia. Minha mãe também trabalhou aqui”, esclarece. O clima hospitalar já era familiar para a residente de T.O. desde muito pequena. Quando voltava do colégio, era praxe dar uma passada no Hospital, um programa não tão comum para uma criança.
No caso de Daniela, a curiosidade e o bem-estar a acompanham até hoje, só que numa rotina cheia de desafios e descobertas de segunda a sexta, mais um plantão no sábado, uma vez por mês, entre as unidades de Doenças Infecciosas e Parasitárias (Udip), de Terapia Renal, enfermarias de Neurologia e Ortopedia, além do Centro de Reabilitação.
O caminho da uberabense é dividido entre as atividades práticas, o atendimento nas enfermarias e as aulas, direcionadas para a Terapia Ocupacional e, também, para outras áreas junto com outros residentes. Ela é taxativa quanto à realidade do ensino e do aprofundamento profissional, na qual identifica uma grande diferença entre a prática de trabalho no mercado externo e a experiência na residência, num equipamento de alta complexidade: “Acho muito rico, porque tenho a oportunidade de lidar com pessoas de diferentes classes, com doenças totalmente diferentes. Isso é grandioso, além da oportunidade de eu poder melhorar a qualidade de vida do paciente enquanto ele está aqui. Eu me sinto muito privilegiada”, resume.
“Já houve muitas situações emocionantes. É interessante que, às vezes, o cansaço é superado por esses momentos. Por exemplo, uma paciente da Udip foi internada; ela tem HIV e não estava fazendo tratamento. Começou um quadro depressivo muito grande e estava muito chorosa o tempo todo. Iniciei o atendimento com ela e ela teve um vínculo muito fácil comigo. Consegui descer com ela para o jardim [Área de Convivência no centro do edifício do Hospital] e lá ela foi me falando sobre a família, os traumas... e eu pensei: preciso fazer alguma coisa concreta com ela para ela melhorar a autoestima e ter segurança de que consegue fazer algo. Fui ao armário, levei palito e cola. Fizemos uma caixinha e nisso já vi algum resultado, de tirá-la do estado de choro, pelo menos, e criei um vínculo. Nos outros dias consegui interagir, ela teve uma melhora muito grande e até relatou que o atendimento trouxe essa melhora. Quando ela saiu daqui, pediu para me avisar que havia comprado palitos para fazer [trabalhos manuais] com os filhos”, Daniela rememora.
O cerne da iniciativa de Daniela ultrapassava a criação manual: “não eram os palitos, era o que eles tinham proporcionado. Hoje eu a acompanho no ambulatório e ela teve uma melhora muito grande, apesar dos altos e baixos relacionados ao caso. É tanto contexto difícil aqui no hospital que eu não a reconheceria no ambulatório, se ela não tivesse me chamado pelo nome, pois chegou uma mulher maravilhosa, toda bonitona, lindona...”, arremata.
Sobre a Rede Ebserh
O HC-UFTM faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Essas unidades hospitalares, que pertencem a universidades federais, têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde das regiões em que os hospitais estão inseridos, mas se destacam pela excelência e vocação nos procedimentos de média e alta complexidades.
Com informações do HC-UFTM/Ebserh/MEC