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INOVAÇÃO E SAÚDE
Vivendo além das fronteiras: Uma jornada terapêutica com realidade virtual no Hospital da Rede Ebserh no Rio de Janeiro (RJ)
Rio de Janeiro (RJ)- A motivação que nos impulsiona a ir além do esperado muitas vezes encontra sua raiz na busca por desafios que transcendem o comum. O estímulo de ultrapassar expectativas, seja no âmbito profissional, acadêmico ou pessoal, reflete a aspiração humana pela superação e crescimento constante. E foi esse ânimo que permitiu a dois alunos de Medicina, atuantes no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), desenvolverem um projeto de pesquisa sobre realidade virtual, levando, desde 2021, pacientes acamados aos cantos mais remotos da Terra, contribuindo para o processo terapêutico e humanizado, marca registrada da unidade hospitalar carioca gerida pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Desde o ingresso na faculdade, Lucas Santos (já formado) e João Hazin (em seu último ano), vendo a quantidade de pacientes idosos que ficavam muito tempo internados, queriam ajudar de algum jeito, indo além do tratamento científico, já que, por estarem no início de seus estudos, não poderiam auxiliar tanto na parte puramente técnica. “A gente estava na formação dos conhecimentos médicos, medicinais e lúdicos, mas já pensávamos numa forma de colaborar”, informou João. A partir disso, e dado o interesse de ambos por tecnologia, começou a nascer a ideia do projeto de realidade virtual.
“Meu papel foi de como orientá-los a construir o projeto, buscando os artigos que já tivessem alguma validação disso. Após algumas semanas, eles conseguiram o primeiro aparelho usado, comprado por meio de uma vaquinha, e a gente começou a aplicar”, informou o coordenador do projeto e professor de Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da Unirio, Max Kopti Fakoury. Inicialmente, a atividade foi testada apenas à noite, em uma enfermaria, no final de 2021. A resposta foi tão positiva, indo além do esperado, que a ação começou a ser replicada.
Outro fator estimulante, de acordo com Lucas, foi o fato de se encontrarem no meio de uma pandemia e se sentirem no dever de prestar algum auxílio, em um momento limitante de atuação, inclusive por medo de contaminar os pacientes. “Isso abate um pouco nossa autoestima. Estava aqui para o meu aprendizado, mas não estava dando nada de troca do que eu gostaria de estar dando aos pacientes. E quando começamos a fazer as atividades, consegui ver muito mais sentido, afinal, estou fazendo essa ação com o paciente, que está mudando nem que seja o dia dele. Te dá um propósito no cuidar”, disse o residente.
Extensão e pesquisa
O sucesso do projeto de extensão, que já gerou mais duas linhas de pesquisa condizentes, fez com que a procura, tanto por voluntários para auxiliar, quanto por pacientes demonstrando vontade de participar, aumentasse significativamente. Em apenas um dia, mais de 30 pessoas se dispuseram a entrar na pesquisa, incluindo alunos de diversos períodos. “Atualmente, temos um cronograma que atendemos de dois a três pacientes por semana. A gente escolhe um dia da semana e vêm nossos voluntários aqui, em dupla ou trio”, explicou João Hazin.
Os pacientes selecionados vêm por indicação de outros profissionais que cuidam diretamente do tratamento e por uma busca ativa dos próprios pesquisadores. Cada usuário fica, em média, 30 minutos fazendo a atividade, que inclui apresentação e demonstração de como usar os óculos, preenchimento de questionários para validação da pesquisa e a ação em si, que dura de cinco a dez minutos. Além disso, o projeto conseguiu, por meio de outro financiamento coletivo, atrair estudantes que colaboraram na compra de uma segunda unidade, mais moderna, possibilitando a ampliação do serviço ofertado.
Legado na formação para o cuidar bem
E a realidade virtual é utilizada não só para a questão espiritual, dando um conforto, mas também com cunho terapêutico, ressalta Max Fakoury: “Ela é usada para diminuição da ansiedade, para estabilização do humor. De maneira muito aguda tem um benefício. E a longo prazo ela consegue modificar, isso já está comprovado, até marcadores biológicos. O estímulo cognitivo que aquilo dá e a paz que aquilo traz, dependendo do assunto que o paciente queira trazer, dá uma energia para eles”, complementou.
O próprio coordenador lembrou da importância da construção de um legado e da felicidade de poder ver seus alunos fazendo o que ele, anteriormente, fez na busca do propósito maior da Medicina: ajudar as pessoas. “Já era médico do hospital, lidava com os alunos e pensava: se eu consigo ensinar um aluno a dar um ponto, cada ponto que ele der em alguém é um pedaço do meu e o alcance da minha ajuda vai para muito longe. Aprendi isso com meu pai. Então, quando a gente consegue enxergar os alunos, reconhecendo o trabalho e aperfeiçoando dentro da individualidade de cada um, é um negócio fantástico”, afirmou.
E um exemplo disso pôde ser visto em Giovane da Silva Moreira, taxista, 54 anos, internado no HUGG, que pôde percorrer ruas do mundo, sem sair do lugar. “Muito legal. Já tinha participado antes. Te leva a outra dimensão, ajuda a passar o tempo mais tranquilo e me leva a sonhar em viajar”, concluiu.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio) faz parte da Rede Ebserh desde dezembro de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Felipe Monteiro, com revisão de Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh