Séries Especiais
SÉRIE SETEMBRO VERDE
Sucesso na captação e transplante de órgãos mostra importância da atuação de hospitais da Rede Ebserh
Brasília (DF) - Valentina, Flávio, Nicolas, Milena, Ramom, Felipe, Sandra, Rhavy, Patrick, Moara. São nomes de pessoas de todas as regiões do Brasil que têm algo em comum e se unem neste mês de setembro, dedicado à conscientização sobre doação de órgãos. Eles representam, na condição de doadores ou receptores, as 14.182 pessoas que receberam transplantes de órgãos, tecidos e medula óssea no Brasil neste ano. São histórias que envolvem emoção, tristeza, alegria... vários sentimentos, mas também mobilizam dados técnicos que retratam investimentos em tecnologia, pesquisa, conhecimento e avanços na medicina. Conheça, nesta série de reportagens especiais que começa hoje, alguns destes personagens da vida real!
Só na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 41 Hospitais Universitários (HUs), 19 instituições realizaram 791 transplantes no primeiro semestre deste ano, segundo a Base de Dados Nacionais do Sistema Único de Saúde (SIA/SIH/SUS). O marco é resultado de um trabalho que envolve várias etapas: As cirurgias de captação de órgãos feitas em unidades de todas as regiões do Brasil, a abordagem para doação quando é identificado um potencial doador pelos comitês, além do próprio transplante (um processo sofisticado e cada vez mais seguro) e do acompanhamento pós-cirurgia.
No ano passado, os HUs da Rede Ebserh realizaram 1.473 transplantes, segundo dados divulgados pelo Serviço de Gestão da Informação, Monitoramento e Avaliação da estatal. Em 2021, foram 1.342 cirurgias e, em 2020, 1.094 transplantes na Rede.
Números da Ebserh seguem ritmo previsto pela ABTO
A Associação Brasileira de Transplante de órgãos (ABTO) prevê, para este ano, que as taxas de doação e transplante, pelo menos no caso de rim, fígado e coração, ultrapassem os dados de antes da pandemia. Espera ainda que neste ano haja um recorde de cirurgias nesta área, passando pelo tripé doação, ingresso em lista de espera e aproveitamento dos órgãos doados, com atuação em equipe multidisciplinar.
O envolvimento da equipe é um dos fatores apontados pelo chefe do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Hospital Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará (HUWC-UFC), Fernando Barroso, para o sucesso da instituição nesta área. O hospital é campeão dentro da rede Ebserh em número de cirurgias de transplantes com internação hospitalar neste ano, com 106 procedimentos totais.
“Isso é resultado do empenho da equipe e posso dizer que estes números são esperados, pois estamos em um dos melhores centros do Brasil e em nível internacional, com uma equipe multidisciplinar dedicada, um serviço assistencial de qualidade, um programa de residência de alto nível, pesquisas, estudos e publicações voltados para o tema”, disse o médico, que é presidente da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea e professor da UFC.
Os investimentos em pesquisa, formação de pessoal e tecnologias feitos nos hospitais da rede Ebserh garantem que estes serviços sejam oferecidos à população dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as frentes. No Nordeste, por exemplo, o Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA) é a única instituição transplantadora do Estado. É de lá que vem a história do pequeno Flávio, um menino que passou dois anos na máquina de hemodiálise e hoje é um jovem saudável e feliz ao lado da família.
Avanços nas técnicas e investimentos em tecnologia
No Sul do Brasil, a professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e integrante da equipe de transplante hepático do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), referência em transplante hepático, Neide da Silva Knihs, explica que o sucesso de casos como o de Flávio só é possível devido a uma série de avanços na indústria farmacêutica, nas técnicas cirúrgicas, na pesquisa para desenvolvimento de líquidos que preservam os órgãos e no trabalho multidisciplinar.
“Um aspecto que ajudou muito na evolução e no patamar que chegamos hoje para sucesso dos transplantes foi o de evidências, para as equipes cirúrgicas e para os profissionais que trabalham nos cuidados pós-operatórios que contam com estas pesquisas e estudos”, disse a professora, que relaciona, ainda, os incentivos financeiros para as instituições de saúde, na compra de equipamentos e reforço de mão-de-obra nestas áreas.
Esses avanços beneficiaram, particularmente, os transplantes de córnea, que é a cirurgia de transplantes mais realizada, de acordo com o médico Jesu Sisnando D’Araújo Filho, do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, do Complexo Universitário da Universidade Federal do Pará (HUBSF-UFPA), responsável por 80% dos transplantes de córnea pelo SUS no estado. Para se ter uma ideia, na rede Ebserh, neste ano, foram feitos 239 transplantes de córnea com internação hospitalar até junho, sendo 62 no Bettina.
Cirurgia destas possibilitou que o jovem Rhavy, um menino com dois anos hoje, pudesse ver o rosto da mãe pela primeira vez, após ser operado no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moares (Hucam), no Espírito Santo, onde foram feitos 2.027 transplantes de órgãos e tecidos e 3.163 captações de 1998 até julho de 2023.
É do Espírito Santo também que vêm as palavras de agradecimento da pedagoga Milena Chayanne Costa da Silva, que iniciou o tratamento contra um linfoma no Hucam em 2015 e fez o transplante de medula óssea em agosto de 2021, doada pela própria irmã, a enfermeira Nayra. “Receber uma medula óssea de uma irmã é uma experiência indescritível. É uma mistura de gratidão profunda, esperança renovada e uma conexão ainda mais forte com ela”, afirma.
Esta conexão entre receptor e doador não acontece somente no caso de parentes, como relata o paranaense Patrick Palma, que decidiu doar a medula e, com este gesto, criou um laço de amizade com a família do receptor, Nicolas, que tinha sete anos quando foi submetido ao transplante no Hospital das Clínicas da Universidade de Minas Gerais (HC-UFMG), centro onde, além de transplantes de medula, são transplantados coração, fígado, inclusive intervivos adulto e pediátrico, rim e córnea. O HU-UFMG realizou no total 99 transplantes este ano, de acordo com dados da Ebserh.
Esses números são importantes para mostrar a magnitude da rede hospitalar pública no universo de transplantes, mas nunca serão o bastante para expressar a gratidão das famílias dos pacientes aos homenageados deste Setembro Verde, o doador de órgãos. Talvez esta homenagem seja mais significativa na voz de pessoas que acompanham o tema, como a professora Neide, lá do Sul do Brasil, que tentou explicar: “O ato de doação é um ato de amor, é um ato movido pela emoção, mas também é um ato que mostra a nossa marca da civilidade, é o que nos faz humanos e mostrar que nos preocupamos um com os outros”, disse.
A partir de amanhã, nesta série de reportagens, contaremos detalhes das histórias de vida apresentadas hoje. Não perca!
Hospitais da Rede Ebserh que realizam transplantes
Região Sul
HU-UFSC – fígado e córnea
HU-UFSM – rim e medula óssea
CHC-UFPR – medula óssea, fígado, rim, córnea
Região Sudeste
Hucam-Ufes – córnea
Huap-UFF – rim e córnea
HC-UFMG – córnea, rim, fígado – inclusive intervivos e intervivos pediátrico, medula óssea e coração
HU-UFJF – medula óssea e rim
HC-UFU – córnea, rim e medula óssea
Região Centro-oeste
HUB-UnB – rim e córnea
HC-UFG – rim
Região Nordeste
HULW-UFPB – córnea
Hupes-UFBA – córnea e medula óssea
HU-UFS – rim
HUOL-UFRN – rim e córnea
HUPAA-UFAL – córnea e esclera
HU-UFMA – rim, córnea, fígado, tecido ósseo e credenciado para coração
CH-UFC – pâncreas, fígado, rim, córnea e medula óssea
HC-UFPE – rim
Região Norte
CHU-UFPA – córnea
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por: Sinval Paulino, com apoio de Angélica Lúcio e Vanda Laurentino e edição de Danielle Campos