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SÉRIE “CONVIVENDO COM O HIV/AIDS”
Risco de transmissão do HIV de gestantes com o tratamento adequado é praticamente nulo para o bebê
Imagem ilustrativa.
Nesta reportagem, você vai ver que:
É fundamental a adesão da gestante ao tratamento
Um exemplo de sucesso: HU-Furg não tem nenhum caso de transmissão vertical há 20 anos
Protocolo para tratamento de gestantes com HIV
Brasília (DF) - Uma gestante com HIV não transmite, necessariamente, o vírus para o bebê. Ao contrário do que se pode pensar, o risco de transmissão vertical (da mãe para o feto) é praticamente nulo em grávidas tratadas do modo adequado. Nesta quarta reportagem da série especial “Convivendo com o HIV/Aids”, especialistas de hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) apresentam as novidades no cuidado durante gravidez e parto e analisam dados divulgados no Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2024, do Ministério da Saúde.
Como explica a ginecologista Carla Vitola Gonçalves, do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg/Ebserh), “uma mãe que realiza o acompanhamento pré-natal e usa corretamente as medicações para o vírus HIV tem o risco de 0 a 2% de passar HIV para o bebê, ou seja, é muito raro. Porém, sem o tratamento a taxa de transmissão do vírus da mãe para o bebê fica em torno de 25 a 35%”.
É fundamental a adesão da gestante ao tratamento
Infectologista do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), Marcus Vinícius Dantas da Nóbrega reforça os principais cuidados para que não ocorra transmissão do vírus para o bebê. “A mãe deve ser encaminhada para realizar o pré-natal de alto risco em um serviço de referência e aderir de forma correta ao tratamento. Quando o bebê nascer, ela não deve amamentar, mesmo se estiver com carga viral indetectável”, resume. O Sistema Único de Saúde (SUS) assegura, no mínimo, seis meses de alimentação para a criança.
Segundo o boletim, houve um predomínio de casos de gestantes com infecção pelo HIV entre pardas (53,1%), seguidas de brancas (28,4%), em 2023. As gestantes pretas corresponderam a 14,3% nesse mesmo ano. “A menor detecção em população afrodescendente é muito possível por testarem menos”, analisa Nóbrega.
O médico relata que o bebê é ainda, acompanhado no ambulatório especializado de Pediatria por até 18 meses, contemplando exames periódicos, a avaliação do desenvolvimento da criança e a medicação, caso necessária devido à exposição do bebê neste período.
Um exemplo de sucesso: HU-Furg não tem nenhum caso de transmissão vertical há 20 anos
No HU-Furg, o ambulatório de acompanhamento pré-natal para as gestantes com HIV atende pacientes do Rio Grande e de outros municípios da região Sul do estado. As mulheres que recebem o diagnóstico positivo de HIV durante a gestação realizam a consulta pré-natal em, no máximo, uma semana. A rapidez no diagnóstico e no início do tratamento proporciona mais segurança para que o bebê nasça sem o vírus.
“Além do serviço de pré-natal, todos os médicos plantonistas do centro obstétrico e residentes da área de ginecologia e obstetrícia receberam treinamento para atender este público. Dessa forma, o serviço de pré-natal do Hospital Dia da Furg não tem nenhum caso de transmissão vertical de gestante atendida regularmente no serviço há 20 anos”, afirma Carla, fazendo um contraponto com o fato de que ainda algumas mulheres não aderem corretamente ao tratamento. “Infelizmente ainda lutamos, com a ajuda do serviço social e do conselho tutelar, contra o abandono e não realização do pré-natal, como também o abandono da medicação, sendo essas as principais causas de transmissão do HIV da mãe para o bebê atualmente”, completa.
Protocolo para tratamento de gestantes com HIV
O Brasil é uma referência mundial em relação ao tratamento de pessoas que vivem com HIV e todos os exames e medicações são disponíveis pelo SUS. Faz parte da rotina do pré-natal o teste rápido para a HIV nas unidades básicas de saúde. A ginecologista do HU-Furg Carla Vitola Gonçalves explica que “existe um protocolo nacional com várias ações, mas a mais importante é usar os antirretrovirais de forma regular para que a carga viral fique indetectável a partir da 28ª semana de gestação”. Como informa a médica, as outras ações consideram que:
- Mães com carga viral indetectável podem ter parto vaginal e não necessitam realizar AZT injetável, segundo o protocolo do Ministério da Saúde.
- Mães com carga viral menor ou igual a 999 cópias podem ter parto vaginal, mas devem realizar o AZT injetável durante o trabalho de parto.
- Mães com carga viral maior ou igual a 1000 cópias devem realizar cesárea, antes de entrarem em trabalho de parto, e realizar o AZT injetável antes e durante a cesárea. Além disso, todas as gestantes, até aquelas com carga viral indetectável, não devem amamentar.
Confira outras reportagens desta série:
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Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação de Claudia Holanda, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh