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Gravidez na Adolescência
Por hora, nascem 44 bebês de mães adolescentes no Brasil, segundo dados do SUS
São Luís (MA) – A gravidez na adolescência tem sido objeto de debate, de investigação e de políticas públicas no Brasil em razão de seus altos índices, além de trazer impacto social e riscos de prematuridade, anemia, aborto espontâneo, eclampsia (elevação da pressão arterial da gestante), depressão pós-parto, entre outros.
Danielle Orlandi, chefe da Unidade de Saúde da Mulher do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), gerido pela Ebserh, enfatiza que a temática da gravidez na adolescência precisa ser discutida para que os números possam ser cada vez mais reduzidos com base em estratégias que levem a informação a esse público “Tema muito importante, que traz um impacto social, não só para a mãe adolescente, como também para o bebê e para toda a família. Ainda é muito frequente em toda a América Latina, aqui no Brasil e, especialmente nos estados do Norte e do Nordeste. Só por meio da educação em saúde que nós vamos conseguir tentar reverter esse quadro”, refletiu.
De acordo com a presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Maranhão (Sogima), Erika Krogh, é preciso abrir os olhos e tentar discutir políticas para que os números absolutos de casos de adolescentes grávidas diminuam. Com base nos números do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, a frequência da gravidez na adolescência no Brasil vem diminuindo desde 2021. Mas o total ainda preocupa.
“É algo que precisamos comemorar? Sim, tivemos uma redução importante entre 2015 e 2019 de até 32,7% dos casos de adolescentes grávidas. Mas temos que ter uma certa preocupação quando falamos em números relativos e números absolutos. Quando olhamos o percentual, a diminuição foi importante; entretanto, ainda temos números absolutos muito altos, muito aquém do desejado. Um a cada sete bebês brasileiros é filho de mãe adolescente. Por dia, 1.043 adolescentes se tornam mãe no Brasil. E, por hora, são 44 bebês que nascem de mães adolescentes, sendo que dessas 44, duas tem idade entre 10 e 14 anos”, alertou Erika Krogh. Os dados são do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), ferramenta do ado Sistema Único de Saúde (SUS).
Esse é um ponto ainda mais preocupante, continua a presidente da Sogima. “Nesse faixa etária, sequer teve queda, mas sim um aumento. Nós sabemos que a vida sexual abaixo de 14 anos é considerada estupro de vulnerável. Se meninas de 10 a 14 anos estão engravidando, mesmo que seja uma relação consentida, isso pode se caracterizar um casamento infantil. E ela é, perante a nossa lei, um abuso sexual. É muito sério”, pontuou.
Outro ponto de alerta é a taxa de 32% na recorrência de gravidez no primeiro ano pós-parto. “Esse percentual não vem caindo e reflete em evasão escolar, dependência em casos de estar se relacionando com uma pessoa mais velha, violência doméstica, postergamento da independência da vida financeira, entre outros”, enumerou Erika Krogh.
Evento
Diante desse cenário, foi criada a Lei nº 13.798 em janeiro de 2019 que instituiu a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para discutir as políticas de prevenção. Foi escolhido esse período, início do ano, antes do carnaval, para aproveitar a ocasião para divulgar os métodos contraceptivos porque acaba sendo um período mais vulnerável.
Para discutir esse tema, foi realizado na manhã da última quinta-feira, 9, o Seminário sobre Prevenção da Gravidez na Adolescência e seus Impactos. O evento foi uma iniciativa da Unidade de Saúde da Mulher do HU-UFMA/Ebserh. Durante o Seminário, que contou com a participação de profissionais e residentes das áreas afins, foi realizam também a palestra “Consequência da gestação na adolescência para o recém-nascido”, com a neonatologista Marynéa Vale, e a palestra “Sexualidade e adolescência”, com a psicóloga Renata Porto.
“Modificar esse quadro é muito difícil, mas o que nós debatemos em todos esses encontros é uma sementinha que plantamos para que as pessoas tenham ideias e discutam políticas públicas para reverter essa situação”, afirmou Erika Krogh.
Ao fim do evento, as gestantes convidadas receberam arte gestacional (técnica de pintura aplicada na barriga das gestantes representando a posição do bebê no útero), maquiagem e kits de higiene pessoal.
Com informações do HU-UFMA/Ebserh