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SÉRIE PESQUISADOR E CIÊNCIA
Pioneirismo que cura
Eduardo Garcia coordena, em Belo Horizonte, o Centro de Microbiota Fecal do Hospital das Clínicas da UFMG, o único do país
Brasília (DF) – Em Belo Horizonte (MG), um tratamento eficaz tem proporcionado “vida nova” a pacientes com infecção intestinal grave causada pela bactéria Clostridioides difficile , um problema de saúde pública mundial. Trata-se do transplante de microbiota fecal, realizado no Centro de Microbiota Fecal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), um dos 41 hospitais universitários federais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Desde 2018, foram realizados 11 procedimentos com taxa de cura superior a 90%.
Essa modalidade terapêutica, consagrada pela literatura médica como alternativa aos tratamentos convencionais, só pode ser disponibilizada no Brasil por meio de protocolos de pesquisas científicas, como ocorre no HC-UFMG. “Oferecemos uma possibilidade de tratamento que é considerado no país off label (que ainda não é autorizado pelas operadoras de saúde). Nós fazemos isso dentro de um protocolo de pesquisa, o paciente assina o termo de consentimento livre esclarecido e é tudo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG. É um tratamento oferecido sem ônus para casos específicos, nos quais todas as outras alternativas não funcionaram”, afirmou o gastroenterologista, pesquisador e coordenador do Centro de Microbiota Fecal do HC-UFMG, Eduardo Garcia Vilela.
O pesquisador, juntamente com outros colegas, possui uma linha de pesquisa sobre o Clostridioides difficile, uma bactéria que pode causar infecção intestinal recorrente ou refratária, causando sintomas como dores abdominais e diarreia crônica. “Nós dominamos todas as etapas de diagnóstico e do estudo molecular dessa bactéria (...). Esse projeto está ativo e funciona por meio do biobanco de tecidos e tumores, ao qual foi incorporado o biobanco de fezes do HC-UFMG, que é o único do Brasil. Nós temos doadores ativo, estrutura e material que nos possibilitam realizar transplantes de fezes”, explicou.
Apesar do avanço, Garcia ressalta a dificuldade de se fazer pesquisa no Brasil ainda hoje. Por isso mesmo, conforme o pesquisador, os hospitais universitários federais da Rede Ebserh têm papel fundamental como instituições pesquisadoras. “Juntamente com as universidades, sobretudo as públicas, eles [os hospitais] têm que atuar como ilhas de excelência, produzindo e difundindo conhecimento e sendo ponta naquilo que é exigido pela sociedade em termos de avanço tecnológico. Enxergar o hospital como instituição pesquisadora é, literalmente, oferecer à população oportunidades melhores e mais adequadas de tratamentos”, enfatizou.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Luna Normand, com revisão de Andreia Pires
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh