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Inovação
Pesquisadores que atuam no hospital da Rede Ebserh no MA desenvolvem 1º modelo animal de terapias contra o câncer de pênis
São Luís (MA) – O câncer de pênis é um importante problema de saúde pública no Brasil e em particular no estado do Maranhão, pois apresenta uma das mais elevadas taxas de incidência do mundo, estimada em 6,15 novos casos anuais por 100 mil habitantes, de acordo com dados recentes.
Como o objetivo de buscar novas terapias para o tratamento dessa patologia, um grupo de pesquisadores do Biobanco de Tumores e DNA do Maranhão (MTMA), ligado ao Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão UFMA e vinculado à Rede Ebserh (HU-UFMA/Ebserh), em parceria com pesquisadores própria UFMA e de outros países, desenvolveram o primeiro modelo animal para estudar o câncer do pênis induzido pelo vírus do papiloma humano (HPV). O estudo foi iniciado em 2016 e finalizou em 2020 com recente publicação na revista inglesa Journal of Pathology.
A equipe do pesquisador português Rui Gil da Costa, atualmente professor visitante da UFMA do Programa de Pós-Graduação em Saúde do Adulto e Departamento de Morfologia, trabalhava com camundongos transgênicos para o HPV16 desde 2012, caraterizando as suas lesões, elucidando mecanismos de carcinogênese e buscando novas estratégias preventivas e terapêuticas. Durante o II Simpósio Internacional de HPV do Maranhão/ II Workshop realizado em 2016, surgiu um desafio: utilizar os camundongos transgênicos dos portugueses para estudar o câncer de pênis, uma vez que não existem modelos animais desta doença, dificultando muito a pesquisa nesta área.
Costa explica o porquê de desenvolver a pesquisa no Maranhão e como a ela funciona. “Escolhemos desenvolver a pesquisa aqui pela grande quantidade de casos de câncer de pênis. A terapia mais usada hoje é amputação e, ainda assim, em muitos casos, a pessoa acaba evoluindo à óbito. É uma doença devastadora. A intenção é buscar novas terapias. E qualquer nova terapia, antes de ser testada nos pacientes, é testada em animais. Será que os camundongos que têm HPV também terão câncer de pênis? Começamos a pesquisar a partir desse questionamento. E as lesões desses animais eram iguais as lesões dos pacientes. Portanto, daqui para frente, podemos testar novos fármacos e, se chegarmos a bons resultados, poderemos fazer um ensaio clínico nos pacientes”.
O estudo destaca que o HPV, por si só, não provocou o câncer nos camundongos, mas foi necessária a aplicação de uma toxina do tabaco para o desenvolvimento do câncer. Mas sem HPV também não houve câncer. “Isso quer dizer que se houver vacinação da população masculina, reduziremos a incidência do câncer de pênis ligado ao HPV. De qualquer modo, todos aqueles que desenvolverem o câncer, precisam ser tratados. Então, como vamos tratar? Por isso precisamos ter novas terapias. Uma coisa é a prevenção, com campanhas voltadas para a vacinação contra o HPV. Outra coisa é a terapia utilizada para o tratamento. Esse modelo vai servir para testar novas terapias”, explica o pesquisador.
Resultados
Considerando que o tabaco é um fator de risco para o câncer de pênis, os animais transgênicos para HPV foram expostos a uma toxina do tabaco, tendo desenvolvido lesões cancerosas em 29,6% dos animais e lesões pré-cancerosas do pênis e prepúcio em 51,9% dos animais, semelhantes às dos pacientes. Os genes do HPV16 por si só foram suficientes para induzir lesões pré-cancerosas em 12,9% dos animais, mas não tumores invasivos.
Os camundongos transgênicos contendo os genes do HPV16 responsáveis pelo desenvolvimento do câncer, foram cedidos pela professora Margarida Bastos, da Universidade do Porto, e genotipados no laboratório do professor Rui Medeiros, especialista mundial em HPV do Instituto Português de Oncologia.
Uma das autoras do artigo e pesquisadora do BTMA/HU-UFMA, Haissa Brito, destaca a importância que o estudo representa para a saúde, “Esses achados confirmam o papel do HPV16 no câncer de pênis, reforçando a importância da vacinação contra este vírus. O modelo animal será agora fundamental para que os pesquisadores possam desenvolver terapias para este tipo de câncer, que tem uma taxa de mortalidade muito elevada quando diagnosticado tardiamente. É uma possibilidade para avançarmos ainda mais no tratamento dos pacientes”, ressalta.
Para a gerente de Ensino e Pesquisa do HU-UFMA/Ebserh, Rita Carvalhal, a participação de profissionais do Biobanco de Tumores é um grande orgulho para a instituição. “Somos um hospital de ensino que tem como propósito educar e cuidar para transformar vidas. O desenvolvimento de pesquisas em saúde são um dos principais eixos que podem gerar essa transformação na vida das pessoas e trazer esperança para quem precisa de tratamento para uma doença grave, como é o caso do câncer de pênis”.
Apresentação
Os primeiros resultados foram apresentados no III Simpósio Internacional de HPV do Maranhão, realizado também com apoio da FAPEMA em 2018 (Edital Eventos Científicos 01/2018), no qual a rede de parceiros foi consolidada e passou a incluir os professores Peter Nelson e Funda Vakar-Lopez, da University of Washington/Fred Hutchinson Cancer Research Center dos EUA, a professora Paula Oliveira da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Portugal, e também o professor Antonio Cubilla, renomado patologista desta área e autor da classificação internacional das lesões penianas.
Fazem parte da equipe, as cientistas brasileiras do BTMA/HU-UFMA/Ebserh) Luciane Oliveira Brito (coordenadora do Biobanco) e Haissa Oliveira Brito, além dos portugueses das Universidades do Porto, de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Instituto Português de Oncologia, dos americanos da University of Washington e Fred Hutchinson Cancer Research Center e dos paraguaios do grupo de pesquisa do Prof. Antonio Cubilla, da Universidad Nacional de Asuncion, sendo coordenada pelo português Rui Gil da Costa. O desenvolvimento deste trabalho e das parcerias internacionais contou com apoio da Fapema (Edital Universal 31/2016, Edital Eventos Científicos 01/2018).
Confira o artigo científico na íntegra, publicado no Journal of Pathology.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.
Com informações do HU-UFMA/Ebserh