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Pesquisadores avaliam efeitos do treinamento de sprint em pessoas com depressão
Projeto busca solução não-farmacológica para a depressão
Campo Grande (MS) – A depressão interfere na vida de milhões de pessoas, tornando-as incapazes de realizar atividades básicas, como se alimentar, dormir, trabalhar e, nos casos mais graves, ao suicídio. Dados da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), ligada a Organização Mundial de Saúde, destacam que mais de 300 milhões de pessoas sofrem com os sintomas e cerca de 800 mil morrem por suicídio a cada ano, sendo essa a segunda causa principal de morte entre pessoas com 15 a 29 anos.
Com o objetivo de oferecer alternativas complementares aos tratamentos convencionais, um grupo de pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação do Instituto Integrado de Saúde (Inisa) e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) pretende verificar os efeitos do treinamento de sprints curtos, ou seja, exercícios com explosão de velocidade e potência, nos sintomas de depressão. O grupo conta com parceria de profissionais do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap/UFMS-Ebserh) e da Universidade Federal de Santa Maria.
“Trata-se de um projeto de pesquisa que conta com financiamento do CNPq para verificar o efeito de treinamento de sprint curtos em sintomas de depressão, nos diferentes aspectos da condição física e na inflamação sistêmica dos pacientes”, explica o coordenador da ação, Daniel Boullosa.
Segundo o professor, evidências prévias já sugerem a efetividade deste tipo de intervenções com exercícios de alta intensidade, porém o projeto de pesquisa é inovador ao avaliar um treinamento com sprints curtos e com curta duração de tempo por sessão. “A grande originalidade da nossa pesquisa é trabalhar com modelos de sprint, muito bem tolerado pelos pacientes, já que precisam de seis treinamentos de dez minutos de duração ao longo de duas semanas, ou seja, três vezes por semana. Confirmada a efetividade do treinamento, estaremos encontrando uma intervenção não farmacológica, sem efeitos adversos e de alta efetividade em pouco tempo”, destaca.
De acordo com o professor, o público-alvo do projeto são mulheres com idade entre 18 e 60 anos, diagnosticadas com depressão moderada à grave. “Também adotamos alguns critérios de exclusão, como ser ou não fumante, que precisam ser verificados”, ressalta Daniel. Ele salienta que podem participar como voluntárias acadêmicas, professoras e técnicas da Universidade, e aquelas que não tenham ligação direta com a UFMS.
“Os resultados preliminares são bastante promissores, porque parece que, além do que já estava verificado na literatura, ou seja, da melhora da condição física, os sintomas da depressão melhoram após as primeiras sessões de exercício”, comenta Daniel.
Mestrandas
Estão envolvidos nas atividades do projeto estudantes de graduação em Fisioterapia e Medicina, além do programa de pós-graduação em Ciências do Movimento. A educadora física e mestranda Jéssica Alves Ribeiro integra o grupo. “Essa pesquisa envolve pessoas que fazem tratamento de depressão e também aquelas que não fazem ainda o tratamento. As que têm interesse em participar podem nos procurar. Inicialmente, fazemos umas breves perguntas para verificar os critérios de inclusão”, explica Jéssica.
Além desse primeiro requisito, segundo a mestranda, é agendada uma entrevista no Serviço de Psiquiatria do Humap-UFMS. A conversa é mantida em sigilo e realizada apenas com a presença do profissional e da paciente. “Se a pessoa for elegível, marcamos uma entrevista com a paciente para verificar se ela pode fazer atividade física de baixo impacto, já que é em uma bicicleta ergométrica e por isso é mais tranquilo participar”, acrescenta a educadora física.
“Nesse encontro também fazemos a avaliação física e, em seguida, marcamos um teste cardíaco que vai dizer como está a aptidão física da voluntária. O teste demora menos de dez minutos e é feito na bicicleta. São realizados ainda exames de sangue”, diz Jéssica.
Após os testes, a pessoa participa da pesquisa. “Começamos com protocolo tranquilo, com pedalada leve por no máximo dez minutos. Vamos aumentando a intensidade nos dias posteriores”, detalha a profissional. A cada um minuto é aumentada a carga do exercício e a cada dois minutos de sprint medimos a pressão arterial e outras aferições. “Também trabalhamos com a escala afetiva, ou seja, como ela está lidando com esse processo”, destaca. Após seis meses, as pacientes são novamente avaliadas.
A administradora Viviane Souza participou do teste e relata que depois disso nunca mais largou os exercícios. “Não tinha vontade de fazer nada, ficava apenas deitada. Mas, aí, voltei a me exercitar e, hoje, faço pilates. Além da academia, também faço capoeira”.
“Tem sido uma experiência muito boa. Participar desse projeto me ajuda a procurar melhores evidências de tratamentos para meus pacientes e, além disso, proporciona um trabalho multidisciplinar”, destaca a fisioterapeuta e mestranda em Ciências do Movimento, Vilma Lima Vilela. As mulheres que se encaixam no perfil descrito pelos pesquisadores e quiserem participar podem procurar o ambulatório do Humap-UFMS/Ebserh.
Com informações do Humap/UFMS-Ebserh