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Rede Ebserh/MEC
Pacientes com sequelas pós-Covid-19 são acompanhados em hospital do Governo Federal em Niterói
Pacientes passa por reabilitação para reduzirem o tempo de internação e para retomarem a qualidade de vida
Niterói (RJ) – Cerca de um ano e meio após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, muito se pesquisou e aprendeu com relação à doença. Além dos sintomas observados desde o princípio, ao longo do tempo foi se percebendo o surgimento de sequelas advindas do coronavírus, principalmente em casos mais graves. Hoje, unidades de saúde fazem o acompanhamento de pacientes pós-Covid. O Hospital Universitário Antônio Pedro, vinculado à Rede Ebserh/MEC (Huap-UFF/Ebserh/MEC), realiza esse tipo de trabalho em alguns setores, como a Pneumologia, a Neurologia e a Fisioterapia.
O ambulatório pós Covid-19 do Huap começou a ser montado em janeiro de 2020. Como o coronavírus pode provocar danos mais graves ao sistema respiratório dos infectados, a Pneumologia esteve, desde o início, trabalhando com estes pacientes no acompanhamento após a internação. De acordo com o pneumologista do hospital, Joeber Souza, quando o paciente chega ao ambulatório, ele já vai encaminhado e com alguma referência do diagnóstico, através de prontuário e exame de imagem.
“A pessoa passa por avaliação clínica e exame físico. Trabalhamos a situação de bronquiolite pós-infecciosa. O que temos visto são pacientes que abrem o quadro de asma, após ter contraído coronavírus. Isso porque, se ele tiver a genética da asma, pode desenvolver hiper-reatividade brônquica. Quase todos os pacientes pós-Covid-19 que apresentaram esse quadro já tinham pré-disposição, seja um histórico de mãe asmática ou uma rinite crônica sem tratamento. A Covid-19, nesse caso, é um dos fatores que desencadeia o processo”, afirmou Souza.
Ele esclarece ainda que a hiperreatividade brônquica desenvolvida no paciente pode ser de curto prazo – que é resolvida após período de tratamento – ou de longo prazo – que o deixa permanentemente asmático. Apenas o acompanhamento no ambulatório vai poder dar essa resposta. De acordo com o médico, é importante observar se o diagnóstico de asma grave é definitivo ou se é o caso de uma bronquiolite inflamatória, que causa uma obstrução fixa, gerada pelo quadro de internação em CTI.
“Muitas vezes não é uma asma grave, mas uma bronquiolite pós-viral. Isso já é visto em sequelas de outros vírus, como influenza e rinovírus. Não estávamos acostumados a ver essas lesões em adultos, mas agora, sim, já que nossos olhos estão voltados para o coronavírus. Por isso, o ambulatório pós-Covid é fundamental para acompanharmos e termos noção melhor dos níveis de gravidade e como tratá-los. Uma consequência da bronquiolite que observamos em pacientes mais graves é o desenvolvimento da pneumonia em organização. E o tratamento que tem nos dado respostas importantes é o corticoide”, completa o pneumologista.
Alterações neurológicas
Outra especialidade que, muitas vezes, precisa acompanhar os pacientes após internação por Covid-19 é a Neurologia. Pacientes internados com a doença que tenham a forma moderada e grave, ou seja, aqueles que precisam de internação com necessidade ou não da ventilação mecânica, em geral tendem a ter complicações neurológicas. A neurologista do Huap e professora de Neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Camila Pupe, explica que as alterações podem ser variadas, gerando desde sequelas cognitivas até motoras e sensitivas.
“A alteração cognitiva é a encefalopatia, que, após a alta, pode permanecer com algum grau de déficit, variando de perda de memória à falta de atenção e foco. Casos moderados e graves, em geral, precisam ser intubados e ficar longos períodos em ventilação mecânica, com uso de sedativos e bloqueadores neuromusculares. Isso pode desenvolver quadros de polineuropatia. Os pacientes acabam fazendo lesões compressivas ou isquêmicas do nervo periférico e saem do Centro de Terapia Intensiva (CTI) com sequelas motoras e sensitivas, sendo a reabilitação com fisioterapia extremamente importante nesses casos.
Ela complementa que, “outras sequelas neuropsiquiátricas são mudanças do humor, ansiedade e até mesmo psicose. Além disso, alterações do músculo, as miopatias isquêmicas e inflamatórias, e trombóticas, como AVC”. O neurologista atua nos diagnósticos diferenciais, fazendo a avaliação correta da condição e o tratamento adequado, com muita reabilitação tanto motora quanto cognitiva. Camila enfatiza que o tratamento medicamentoso também pode ser necessário, principalmente em casos de depressão.
Condicionamento motor e respiratório
Dentro desse contexto de alterações pneumológicas e neurológicas, a Fisioterapia, em conjunto com a Fonoaudiologia, se torna ainda mais importante no condicionamento motor e respiratório dos pacientes. Uma das principais sequelas observadas pelos profissionais da Reabilitação do Huap é a fadiga, tanto muscular, quanto cardiorrespiratória. A fisioterapeuta do hospital da Rede Ebserh/MEC, Emanoele Araujo, comenta que os pacientes ficam totalmente dependentes devido à falta de força, e que muitos chegam à equipe com grau zerado e sem a capacidade que tinham.
“Por ser uma doença muito grave, a maioria dos pacientes ficam em internação por tempo prolongado. Então, além dos cuidados da via aérea e de condicionamento físico, também precisamos trazer o retorno das atividades de vida diária a esses usuários. O trabalho da Fisioterapia e da Fonoaudiologia é para resgatar força, dar condicionamento cardiorrespiratório e devolver a funcionalidade de, pelo menos, ter o autocuidado. Assim, os pacientes conseguem retornar para casa menos debilitados”, disse.
Segundo Emanoele, as sequelas geralmente se manifestam em um tempo mais longo. Sendo assim, ainda que a pessoa receba alta no hospital, pode não ter recuperado seu condicionamento como era antes, já que nem sempre isso é conseguido rapidamente. No entanto, a Fisioterapia e a Fonoaudiologia buscam a capacidade de o paciente readquirir o controle do tronco e lembrar como fazer certos movimentos, como se sentar, rolar na cama, comer e ir ao banheiro, por exemplo.
O cansaço respiratório, muito comum na Covid-19, não é observado apenas em casos graves da doença. Pacientes que, por vezes, não tenham passado por uma internação em CTI, também podem ficar com sequelas, mesmo sem alguma doença prévia. No atendimento a usuários pós Covid-19 no Huap, a fisioterapia motora é feita em união à respiratória, já que, conforme Emanoele ressalta, uma beneficia a outra. Existem técnicas específicas voltadas ao comprometimento respiratório, como a manutenção da via aérea e o fortalecimento da respiração. Porém, a ideia é reabilitar como um todo, trabalhando de forma global cada paciente.
“Quando você trabalha o músculo, aquele gasto energético gera uma demanda ventilatória. O fato de fazer exercícios para ganhar mais aporte respiratório é melhor para o paciente. Afinal, ele acaba ficando muito dependente de oxigênio e, consequentemente, mais tempo internado. Então, a parte do condicionamento é fundamental também para tentar fazer com que essa pessoa deixe essa dependência. Nós atuarmos diretamente com o paciente faz com que ele saia do oxigênio mais rápido, tendo uma alta mais rápida”, finaliza a fisioterapeuta.
Sobre a Rede Ebserh
O Huap-UFF faz parte da Rede Ebserh/MEC desde abril de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, a os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos das regiões quem que os hospitais estão inseridos.
Com informações do Huap-UFF/Ebserh/MEC