Galeria de Imagens
TRANSGESTA
Maternidade da Ebserh no Rio de Janeiro (RJ) realiza primeiro parto de homem trans
Rio de Janeiro (RJ) – A Maternidade Escola da UFRJ realizou, pela primeira vez, o parto de um homem trans. Lucas Bernardo Alves, de 27 anos, foi atendido pelo programa Transgesta, uma iniciativa da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que oferece assistência especializada durante o pré-natal e parto de pessoas transexuais, travestis, intersexo e outras formas diversas de identidade de gênero. Sob administração da Ebserh, a Maternidade Escola (ME) implantou o programa em agosto de 2024.
Lucas começou a ser atendido na maternidade por volta do quarto mês de gestação, após ser encaminhado pelo posto de saúde municipal do bairro de Santo Cristo, e recebeu apoio integral em todas as etapas. “Fui muito bem atendido. Não tenho nada a reclamar. Os profissionais daqui são excelentes e fui respeitado o tempo todo, inclusive com o uso correto dos pronomes. Eu não poderia estar em lugar melhor”, disse, pouco antes de entrar no centro cirúrgico para realização da cesariana.
No dia 12 de dezembro, nasceu Maria Cecília, forte e saudável. E um dia após o nascimento, Vinícius Freire Graciano, 43 anos, companheiro de Lucas, registrou a pequena como filha de dois pais, no cartório instalado na própria maternidade. “Eu já tinha até conversado com advogados, caso tivesse problemas nessa hora. Mas, pelo contrário, a atendente pediu a documentação e foi super simpática. O registro saiu rapidinho e ela só pediu para eu conferir. Enfim, a gente não teve problema nenhum com nada, foi excelente”, relata Vinícius, aliviado.
Ao iniciar o pré-natal na maternidade, Lucas foi diagnosticado com asma, tendo sido encaminhado para tratamento no serviço de Pneumologia do Hospital Clementino Fraga FIlho, que também faz parte do Complexo Hospitalar da UFRJ, gerido pela Ebserh. “Sou grato a isso também, a asma está totalmente estabilizada. Vivia muito cansado”, lembra Lucas.
“Tá vendo, filho, como é sentir o maior amor do mundo?”
O parto foi acompanhado pela mãe de Lucas, Cleudia Penha. “Pedi ao companheiro dele para que não tirasse esse momento de mim. Queria muito estar ao lado de Lucas e ver o nascimento da minha netinha”. Pedido feito, pedido aceito. Cleudia era a mais ansiosa dentro do centro cirúrgico e se emocionou quando viu a neta no colo do pai parturiente, logo após o nascimento. “Tá vendo, filho, como é sentir o maior amor do mundo? Como ela é linda!”, falou chorando de alegria, enquanto ajudava o filho a segurar Cecília em seu colo. Vinícius celebrou essa alegria à distância por meio de uma videochamada feita por Cleudia.
Lucas tem o desejo de amamentar a neném pelo máximo de tempo e vai contar com o suporte da equipe da Maternidade Escola. “Às vezes, eu ainda me confundo com uso das palavras em relação a Lucas, mas sei que meu filho é muito responsável, é uma pessoa maravilhosa e o outro pai também. Tenho certeza que minha neta vai ser muito feliz, numa família com uma linda história para contar”, disse Cleudia, comovida e orgulhosa do filho.
Programa Transgesta
A Maternidade Escola é a segunda instituição no Brasil a fazer o pré-natal especializado para atendimento à pessoa trans pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A primeira foi a Maternidade Climério de Oliveira (MCO), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), também administrada pela Ebserh.
O acolhimento e o acompanhamento são realizados por uma equipe multiprofissional, composta por enfermeiro, nutricionista, assistente social, psicólogo, endocrinologista, nutrólogo, obstetra e psiquiatra, que definem o plano terapêutico e a rotina de cuidados para cada caso. Lucas já havia passado pelo processo de transição, então não fazia uso de hormônio.
“O pré-natal de Lucas foi bem tranquilo. Nosso desejo é que ele e sua família tenham uma experiência maravilhosa, que todos tenham boas memórias da maternidade escola e que seja também um aprendizado para toda equipe”, contou Jair Braga, chefe da Divisão Médica da maternidade e responsável pelo parto de Lucas.
O chefe da Gestão de Qualidade e anestesista da maternidade, Sully Diderot, também participou do parto de Lucas. “Foi um momento de felicidade para toda equipe. Lucas é um a pessoa muito gentil e nós o tratamos com muito carinho e respeito, da mesma maneira como tratamos todas as nossas pacientes. O atendimento humanizado é a regra em nossa maternidade, não a exceção”, expõe.
Letramento em diversidade de gênero e sexualidade
Além do acompanhamento médico e psicológico, outro ponto sensível é a questão do respeito ao nome social e à identidade de gênero. No protocolo da linha de cuidado do projeto, o atendimento inicia-se na portaria, onde os funcionários fazem um acolhimento respeitoso e sem juízo de valor, independente do nome informado.
Uma vez solicitado o uso do nome social, este deverá ser utilizado durante toda a permanência da pessoa na instituição, inclusive nos registros em prontuário. A equipe da ME foi treinada incluindo todos os pontos de contato.
“Estamos preparados para que esse paciente não sofra nenhum constrangimento. É muito importante que nossa equipe se aproprie dos termos corretos, do que deve e não deve ser usado junto à população trans”, diz a gerente de Atenção à Saúde, Penélope Marinho, mostrando que humanização é a tônica do projeto. Segundo ela, outros hospitais do SUS já fizeram partos de pessoas trans, o diferencial da Maternidade Escola da UFRJ e da Maternidade Climério de Oliveira da UFBA é o serviço especializado de pré-natal para fazer esse acompanhamento dentro da rede SUS/Ebserh.
Sobre a Ebserh
A Maternidade Escola faz parte do Complexo Hospitalar da UFRJ, gerido pela Ebserh desde junho de 2024. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Fotos e redação: Claudia Holanda, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh