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INOVAÇÃO NO SUS
Luva robótica auxilia pacientes com AVC na Terapia Ocupacional do Hospital da Rede Ebserh em Recife (PE)
Recife (PE) – A vigilante Glaucilene Bandeira, de 40 anos, diz que tem “superpoderes biônicos”. Brincadeira à parte, ela é um dos pacientes acompanhados pela Área Assistencial de Neurologia e pela Terapia Ocupacional do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), que realizam um tratamento inovador de reabilitação de membro superior com uso da luva robótica (pneumática). Unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o HC-UFPE é o único do SUS no Estado a ofertar essa terapia.
“Sofri um AVC isquêmico há 11 meses, que paralisou o meu lado esquerdo, e tenho evoluído bastante desde o uso da luva robótica. Quando cheguei aqui no HC, eu não conseguia levantar o braço nem movimentar a mão. Agora já consigo fazer as atividades do dia a dia. Sou muito grata por esse tratamento e pela minha melhora”, relata Glaucilene Bandeira. Assista ao vídeo do tratamento dela no perfil do hospital no Instagram.
A coordenadora da Terapia Ocupacional do HC, Amanda Belo, explica que “cerca de 93% dos pacientes que sofreram AVC evoluem com alterações sensoriais associadas à negligência em um dos lados do corpo (hemiplegia)”. Assim, as sequelas provocadas pelo AVC levam a uma perda ou dificuldade de desempenhar funções em um dos lados do corpo, mesmo tendo as estruturas osteomusculares preservadas.
“O que acontece é uma lesão no córtex cerebral que passa a não interpretar corretamente o estímulo recebido e, consequentemente, não consegue dar uma resposta motora adequada. A partir daí, a reabilitação com o uso de estratégias de reeducação sensorial pode auxiliar no refinamento dessas informações e auxiliar no planejamento motor e melhorar a resposta motora necessária para executar de forma independente as atividades de vida diária”, afirma Amanda Belo.
Adotado no HC há cerca de um ano, o protocolo do uso de luva robótica é uma das estratégias de reabilitação na Terapia Ocupacional. “A luva realiza pressão na mão afetada ativando os mecanorreceptores que enviam a informação ao córtex para estimular as áreas responsáveis pelos movimentos da mão. Esse estímulo depois de processado no cérebro, responde por meio do ato motor que, nesse caso, é auxiliado pela luva por meio dos movimentos que ela executa”, comenta Amanda Belo, que implantou o protocolo no HC.
O protocolo é composto por 24 sessões de 25 minutos cada uma em que são realizados tanto estímulos livres quanto aqueles necessários para a execução de tarefa do dia a dia, como a escovação de dentes e a pega, manipulação e transposição de objetos, como copos, colheres e escovas, entre outros. O tratamento prossegue com mais 20 sessões associadas ao uso da “Terapia do Espelho”, que trabalha com a imagética motora para “enganar” o cérebro.
“Nessa terapia, o membro não acometido é mobilizado de tal forma que os movimentos sejam refletidos no espelho e observados pelo paciente, que obtém a impressão de que o membro acometido está se movendo sem limitações. Ativando dessa forma os neurônios espelhos e auxiliando na melhora da atividade motora e sensorial em casos de pacientes que sofreram AVC”, esclarece a especialista.
Essa experiência do protocolo vai virar um estudo, que contará com dados mais consolidados e revisão de pares. Mas, de forma, preliminar, bons resultados já estão sendo notados. “Pela Escala de Avaliação Fugl-Meyer que analisa o desenvolvimento da função motora em pacientes acometidos por uma patologia cerebrovascular (como o AVC) e pela observação não estruturada da performance durante o desempenho de algumas tarefas (com e sem a luva) já percebemos a melhora no tratamento. Também há o relato dos próprios pacientes”, destaca Amanda Belo.
O protocolo com a luva robótica pode acelerar a recuperação desses pacientes. Hoje, o tratamento de reabilitação convencional leva muito tempo, onerando o sistema e limitando o acesso de usuários ao serviço de reabilitação. “Acreditamos que poderá haver um impacto financeiro importante para o SUS, além de possibilitar a abertura de mais vagas e assim garantir o acesso de mais usuários aos serviços de reabilitação", completa a chefe da Terapia Ocupacional do HC-UFPE.
O AVC
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. É uma doença que acomete mais os homens e é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações em todo o mundo.
Quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento do AVC, maiores serão as chances de recuperação completa. Desta forma, torna-se primordial ficar atento aos sinais e sintomas e procurar atendimento médico imediato.
“Eu estava me organizando para ir trabalhar e pegando um objeto no guarda-roupa quando o meu braço esquerdo desceu e minha perna também esquerda bambeou. Senti minha boca torta e falei com uma amiga que disse que podia ser um AVC. Meu filho ligou para o Samu, que chegou rápido, e levada ao Hospital da Restauração, onde fiquei 7 dias, e depois vim para o HC, onde passei mais 20 dias internada (seguindo acompanhada pela Área Assistencial de Neurologia)”, relembra Glaucilene Bandeira.
Existem diversos fatores que aumentam a probabilidade de ocorrência de um AVC, sendo a hipertensão, diabetes tipo 2, colesterol alto, obesidade, tabagismo, uso excessivo de álcool e sedentarismo os principais deles.
Sobre a Ebserh
O HC-UFPE faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Moisés de Holanda
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh