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CONSCIENTIZAÇÃO
Lúpus: mulheres em fase reprodutiva são mais acometidas pela doença
Entre as manifestações clínicas, as mais frequentes são as lesões de pele, que podem estar em 80% dos casos
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Diagnóstico precoce faz a diferença
Sintomas podem se manifestar rapidamente ou de forma progressiva
Com tratamento adequado é possível ter qualidade de vida
Brasília (DF) - O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), ou apenas Lúpus, é uma doença reumatológica autoimune, crônica, inflamatória e de causa não conhecida. A maioria dos pacientes são mulheres na faixa mais produtiva da vida, de 20 a 45 anos. A proporção é de 9 mulheres para 1 homem diagnosticado. De acordo com o Ministério da Saúde, dentre as mais de 80 doenças autoimunes conhecidas atualmente, o lúpus é uma das mais graves e importantes.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito para a população e exemplo disso são as unidades hospitalares vinculadas à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Nelas, especialistas estão preparados para contribuir com a qualidade de vida dos pacientes e oferecer uma assistência humanizada e qualificada. Em Salvador (BA), o Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA) é centro de referência para o tratamento de lúpus no estado, tendo, atualmente, mais de 1.000 pacientes em acompanhamento.
Diagnóstico precoce faz a diferença
O coordenador do Ambulatório de Reumatologia do Hupes-UFBA, Mittermayer Santiago, explicou que é fundamental identificar a doença de forma precoce para que seja realizado o tratamento imediato e evitadas as complicações mais sérias. Como exemplo dessas repercussões, ele citou um problema no rim, que se não for tratado, pode evoluir para insuficiência renal, precisando de diálise e até mesmo transplante; o envolvimento do sistema nervoso central; e até da parte hematológica, com a queda de plaquetas com sangramento, que pode ameaçar a vida do paciente.
“Mesmo não tendo cura específica, no sentido de tomar um remédio e ficar livre da doença, o lúpus tem um controle que permite uma qualidade de vida
muito boa”, comentou. A doença é multissistêmica, ou seja, atinge vários órgãos e sistemas. Por isso, é fundamental que o profissional fique atento a todos os sintomas presentes. “Quando um médico atender uma mulher jovem, com febre, com manchas na pele sensíveis ao sol, dor articular, alterações nos exames de sangue, precisa pensar nessa doença e solicitar os exames que definem o diagnóstico, que é a pesquisa de anticorpos específicos para o lúpus”, alertou.A reumatologista do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), Andressa Miozzo, complementou que conscientizar as pessoas sobre essa doença é importante para que ela seja lembrada e assim, poder encurtar a jornada do paciente para o início do tratamento.
Mittermayer explicou que o exame chamado anticorpo ou fator antinuclear é positivo na grande maioria dos pacientes com LES, sendo importante para identificar a doença. Lúpus tem um fundo imunológico, onde o paciente passa a produzir anticorpos contra as suas próprias células e proteínas, por isso é chamada de doença autoimune. Mas, mesmo não tendo uma causa reconhecida ainda, alguns pontos influenciam o desenvolvimento da doença nas pessoas que já nascem com predisposição genética, como por exemplo, o papel hormonal.
“O estrógeno tem uma ação importante, por isso que é muito mais comum na mulher do que no homem. Há também o fenômeno ambiental, que quando a pessoa tem lúpus e se expõe ao sol, piora muito o quadro clínico. Sem falar no fator genético que, embora não passe de mãe para filho diretamente, se há um caso de lúpus na família, a chance de ter outro caso em parentes de primeiro grau é mais ou menos de 1 em 20”, explicou Mittermayer.
Sintomas podem se manifestar rapidamente ou de forma progressiva
A reumatologista Débora Tobaldini Russo Doreto, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS), em Campo Grande, acrescentou que os sintomas são os mais diversos, podendo acontecer de forma rápida, em semanas, ou de forma progressiva, em meses ou anos; e que podem se manifestar simultaneamente. “Eles flutuam, pois tem momentos em que o paciente está em fase de atividade da doença e outros que está em remissão. Entre as manifestações clínicas, as mais frequentes são as lesões de pele, que podem estar em 80% dos casos, presentes ao longo da evolução da enfermidade, além das manifestações mais graves já citadas”, pontuou.
O Humap é referência no estado do Mato Grosso do Sul para o tratamento dos pacientes com doença autoimune, entre elas, o lúpus. Oferece aos pacientes do SUS um cuidado especializado, baseado nas diretrizes clínicas das sociedades Brasileira e internacionais de Reumatologia. O atendimento funciona em ambulatório e enfermaria, este último para os casos que necessitam de internação para o controle da doença. “Além disso, conta com um Centro de Infusão, onde são realizadas as práticas de terapia imunobiológicas, que são medicações imunossupressoras para o controle inflamatório dessa doença”, afirmou Débora.
De acordo com a especialista, o lúpus é um pouco mais frequente em mestiços, e, no caso do Brasil, os que têm origem afrodescendente. “Não temos números exatos em relação à prevalência no país, mas as estimativas mostram que existem cerca de 65 mil pessoas com esse diagnóstico. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há, aproximadamente, 6 mil pacientes. No Rio de Janeiro são cerca de 4 mil. Por essa razão, é uma doença considerada comum na prática clínica”, esclareceu.
Com tratamento adequado é possível ter qualidade de vida
Cada paciente deve ter seu tratamento individualizado e acompanhado de forma regular. “Ele se baseia na manifestação da doença no indivíduo. Atualmente, temos diversos imunomoduladores, imunossupressores e imunobiológicos que podem ser utilizados, a depender da forma com que a doença se apresenta”, comentou a reumatologista Andressa (HU-UFSC).
Ela reforçou que, além da parte medicamentosa, os pacientes devem evitar a exposição ao sol e o consumo de álcool ou cigarro. Devem praticar atividade física regularmente, conforme orientação específica do médico, e ter bons hábitos alimentares. “Em muitos casos, com o tratamento adequado, os pacientes podem viver normalmente, sem interferência na sua qualidade de vida”, comentou.
O HU-UFSC é referência para todo o estado. Tem ambulatórios específicos para o tratamento e acompanhamento destes pacientes, inclusive, com apoio de outras especialidades, a exemplo da Dermatologia, para uma abordagem completa.
Novas perspectivas
O Hupes e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) vêm se reunindo para o desenvolvimento de uma linha de cuidado em Reumatologia, com ênfase para lúpus. A ideia é que os casos mais estáveis e controlados sejam atendidos na Unidade de Atenção Primária. Do mesmo modo, em uma contrarreferência, os casos mais complexos, deverão ser encaminhados para o Hupes. No dia 13 de maio vai ser realizado um Workshop para dar continuidade a essas discussões.
Data comemorativa
O Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus ou o Dia Mundial do Lúpus é comemorado anualmente em 10 de maio. A data foi criada para orientar a população sobre a doença e esclarecer diversos aspectos importantes.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Danielle Morais, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh